Vou descansar um pouco neste restinho de 2003. Um feliz ano novo a todos!
26.12.03
23.12.03
Um ótimo Natal a todos vocês. Saúde e sossego!
Se não der para sossegar, botem Deep Purple na vitrola:
Na na-na na na-na na na-na na
I got a certain little girl, she's on my mind
No doubt about it, she looks so fine
She's the best girl that I ever had
Sometimes she's gonna make me feel so bad
Na na-na na na-na na na-na na
Hush, hush
I thought I heard her calling my name now
Hush, hush
She broke my heart but I love her just the same now
Hush, hush
I thought I heard her calling my name now
Hush, hush
I need her loving and I'm not to blame now
(Love, love)
They got it early in the morning
(Love, love)
They got it late in the evening
(Love, love)
Well, I want and need it
(Love, love)
Oh, I gotta get ahead of it
She's got a lovin' like quicksand
Only took one touch of her hand
To blow my mind and I'm in so deep
That I can't eat and I can't sleep
Na na-na na na-na na na-na na
Listen
Hush, hush
I thought I heard her calling my name now
Hush, hush
She broke my heart but I love her just the same now
Hush, hush
Thought I heard her calling my name now
Hush, hush
I need her loving and I'm not to blame now
(Love, love)
They got it early in the morning
(Love, love)
They got it late in the evening
(Love, love)
Oh, I want and need it
(Love, love)
Hey, I gotta get ahead of it
Na na-na na na-na na na-na na...
Se não der para sossegar, botem Deep Purple na vitrola:
Na na-na na na-na na na-na na
I got a certain little girl, she's on my mind
No doubt about it, she looks so fine
She's the best girl that I ever had
Sometimes she's gonna make me feel so bad
Na na-na na na-na na na-na na
Hush, hush
I thought I heard her calling my name now
Hush, hush
She broke my heart but I love her just the same now
Hush, hush
I thought I heard her calling my name now
Hush, hush
I need her loving and I'm not to blame now
(Love, love)
They got it early in the morning
(Love, love)
They got it late in the evening
(Love, love)
Well, I want and need it
(Love, love)
Oh, I gotta get ahead of it
She's got a lovin' like quicksand
Only took one touch of her hand
To blow my mind and I'm in so deep
That I can't eat and I can't sleep
Na na-na na na-na na na-na na
Listen
Hush, hush
I thought I heard her calling my name now
Hush, hush
She broke my heart but I love her just the same now
Hush, hush
Thought I heard her calling my name now
Hush, hush
I need her loving and I'm not to blame now
(Love, love)
They got it early in the morning
(Love, love)
They got it late in the evening
(Love, love)
Oh, I want and need it
(Love, love)
Hey, I gotta get ahead of it
Na na-na na na-na na na-na na...
19.12.03
17.12.03
Do IMDB:
Movie/TV Quote of the Day
MARC
I am faithful to the ideals of the party.
ORSON
I am faithful to the party of ideas.
JACK
You are faithful to the idea of a party.
Movie/TV Quote of the Day
MARC
I am faithful to the ideals of the party.
ORSON
I am faithful to the party of ideas.
JACK
You are faithful to the idea of a party.
16.12.03
A coluna do Xexéo no último domingo narra exatamente o que acontece lá em casa na hora em que está todo mundo vendo TV:
-- Já que você está de pé, pega um copo dágua para mim? (E outras "n" variações...)
A preguiça é tanta que pus na geladeira uma tirinha do Hagar, o Horrível, em que ele fala para Helga, sua mulher:
-- Já que você está de pé, pega uma cerveja para mim?
-- Você também está de pé! -- volve ela. -- Por que não vai até a cozinha e pega você mesmo?
-- Você está mais perto.
-- Já que você está de pé, pega um copo dágua para mim? (E outras "n" variações...)
A preguiça é tanta que pus na geladeira uma tirinha do Hagar, o Horrível, em que ele fala para Helga, sua mulher:
-- Já que você está de pé, pega uma cerveja para mim?
-- Você também está de pé! -- volve ela. -- Por que não vai até a cozinha e pega você mesmo?
-- Você está mais perto.
15.12.03
Voltei! Tudo bem com vocês?
Este ainda é um post devagaaar, se espreguiçando das férias.
Estive num pequeno pedaço de paraíso, uma velha fazenda de 1819 transformada em pousada fincada num exuberante pedaço de mata atlântica. Não me cansei de olhar para o local, para as árvores, o recorte dos morros, as flores. Mas minhas retinas imperfeitas, ou mesmo a câmera digital mais turbinada, não fariam jus a tamanha beleza. Só a mão de um pintor poderia recriar o ambiente como ele surge em nossas meninges.
Tentarei, então, "pintar" minhas impressões num miniconto em breve. ;-)
Este ainda é um post devagaaar, se espreguiçando das férias.
Estive num pequeno pedaço de paraíso, uma velha fazenda de 1819 transformada em pousada fincada num exuberante pedaço de mata atlântica. Não me cansei de olhar para o local, para as árvores, o recorte dos morros, as flores. Mas minhas retinas imperfeitas, ou mesmo a câmera digital mais turbinada, não fariam jus a tamanha beleza. Só a mão de um pintor poderia recriar o ambiente como ele surge em nossas meninges.
Tentarei, então, "pintar" minhas impressões num miniconto em breve. ;-)
28.11.03
Férias!
Moçada, vou descansar um pouquinho da correria. Volto dia 15/12.
Fiquem bem.
(A foto é do Freefoto.com).
Moçada, vou descansar um pouquinho da correria. Volto dia 15/12.
Fiquem bem.
(A foto é do Freefoto.com).
27.11.03
"O rendimento médio real do trabalhador brasileiro voltou a cair em outubro, recuando 0,7% em relação a setembro e 15,2% na comparação com outubro de 2002. Foi a oitava queda consecutiva na comparação anual, segundo a pesquisa."
(Do site do Globo)
Tsc, tsc.
A minha renda já não tem mais pra onde cair. Já está forçando o fundo do poço...
Acorda, Brasília!
(Do site do Globo)
Tsc, tsc.
A minha renda já não tem mais pra onde cair. Já está forçando o fundo do poço...
Acorda, Brasília!
26.11.03
Minicontos do desconforto -- 61
(baseado em sugestão do Fortunato)
Acordou dentro do caixão. Tinha se esgueirado pouco antes de colocarem a tampa, na noite anterior, quando todos estavam chorando e se confortando, sem prestar mais nenhuma atenção ao defunto. Sentiu o sacolejo e ouviu o arfar dos parentes do morto quando o ataúde foi carregado colina acima, até o jazigo sob o pé de jamelão. Sentiu o cheiro enjoativo das frutas repisadas na grama.
Não podia viver sem ele, que estava lindo com a plástica post-mortem. Nem mesmo nas fotos da juventude parecera assim, tão digno e composto. Ah, sentiria falta de sentar em seu colo, de cheirá-lo curiosa, de vê-lo estremecer quando ela passava a língua em seu pescoço (não resistiu e lambeu agora a orelha rígida). Pelo menos ficaria com ele. Para sempre.
Foi somente anos mais tarde que descobriram, ao exumar por engano o corpo numa investigação criminal, um esqueleto de animal pequeno ao lado da caveira.
-- Parece o de um gato -- comentou um dos peritos.
-- Gata. Olha a fita com o nome: "Sofia".
(baseado em sugestão do Fortunato)
Acordou dentro do caixão. Tinha se esgueirado pouco antes de colocarem a tampa, na noite anterior, quando todos estavam chorando e se confortando, sem prestar mais nenhuma atenção ao defunto. Sentiu o sacolejo e ouviu o arfar dos parentes do morto quando o ataúde foi carregado colina acima, até o jazigo sob o pé de jamelão. Sentiu o cheiro enjoativo das frutas repisadas na grama.
Não podia viver sem ele, que estava lindo com a plástica post-mortem. Nem mesmo nas fotos da juventude parecera assim, tão digno e composto. Ah, sentiria falta de sentar em seu colo, de cheirá-lo curiosa, de vê-lo estremecer quando ela passava a língua em seu pescoço (não resistiu e lambeu agora a orelha rígida). Pelo menos ficaria com ele. Para sempre.
Foi somente anos mais tarde que descobriram, ao exumar por engano o corpo numa investigação criminal, um esqueleto de animal pequeno ao lado da caveira.
-- Parece o de um gato -- comentou um dos peritos.
-- Gata. Olha a fita com o nome: "Sofia".
25.11.03
Minicontos do desconforto -- 60
(baseado em sugestão da Ronize)
Foi pior do que imaginava. Sempre achara que ia ficar presa num elevador algum dia. Só porque tinha pavor de cubículos e multidão. Mas não podia pensar que ficaria presa num elevador panorâmico. E justamente na ponta da Avenida Rio Branco, olhando para o píer e para a baía de Guanabara.
Era tarde da noite e pelo jeito o porteiro cochilara. Ou não havia porteiro. Ninguém atendia o interfone. Vou olhar a paisagem, pensou. Assim me tranqüilizo.
Mas qual. O mar, o pedacinho de perimetral que aparecia, tudo a fazia querer sair mais rápido dali.
Desajeitada, bateu na porta e gritou, a principío de modo contido. Depois, com mais ardor. Por fim, seu grito era tão lancinante que sentia a estrutura tremer.
O ar lhe faltou. Pára, isso é da sua cabeça, tem ar à beça aqui.
Mas ele parecia fugir. E, quando seus pulmões já pareciam ter puxado para dentro todo o universo connhecido, aconteceu uma coisa engraçada.
Ela teve um orgasmo fulminante.
Foi tão súbito que a fez cair no chão e perder o controle de todos os seus esfíncteres.
Quando o elevador desceu e se abriu, ela se levantou de uma poça de gozo. E beijou a orelha de um zelador atônito.
Depois disso, toda vez que duas portas laterais se fechavam à sua frente, sentia um calor nas pernas. E ria sozinha.
(baseado em sugestão da Ronize)
Foi pior do que imaginava. Sempre achara que ia ficar presa num elevador algum dia. Só porque tinha pavor de cubículos e multidão. Mas não podia pensar que ficaria presa num elevador panorâmico. E justamente na ponta da Avenida Rio Branco, olhando para o píer e para a baía de Guanabara.
Era tarde da noite e pelo jeito o porteiro cochilara. Ou não havia porteiro. Ninguém atendia o interfone. Vou olhar a paisagem, pensou. Assim me tranqüilizo.
Mas qual. O mar, o pedacinho de perimetral que aparecia, tudo a fazia querer sair mais rápido dali.
Desajeitada, bateu na porta e gritou, a principío de modo contido. Depois, com mais ardor. Por fim, seu grito era tão lancinante que sentia a estrutura tremer.
O ar lhe faltou. Pára, isso é da sua cabeça, tem ar à beça aqui.
Mas ele parecia fugir. E, quando seus pulmões já pareciam ter puxado para dentro todo o universo connhecido, aconteceu uma coisa engraçada.
Ela teve um orgasmo fulminante.
Foi tão súbito que a fez cair no chão e perder o controle de todos os seus esfíncteres.
Quando o elevador desceu e se abriu, ela se levantou de uma poça de gozo. E beijou a orelha de um zelador atônito.
Depois disso, toda vez que duas portas laterais se fechavam à sua frente, sentia um calor nas pernas. E ria sozinha.
21.11.03
18.11.03
Minicontos do desconforto -- 59
(para Camila)
Foi quando voltou para casa após a missa de sétimo dia que entendeu: nunca mais, nunca mais mesmo, ouviria as tolices dela quando chegava em casa. Não ouviria o riso franco de quando ela contava uma besteira que fizera e começava a rir de si mesma antes dos outros, que acabavam rindo de sua própria gargalhada, tão inocente e convidativa.
A missa fora cedo; sentou-se para tomar o café. Lembrou-se dos comentários que ela fazia sobre o noticiário à mesa, muitas vezes mais pertinentes que os dos articulistas arrogantes que fingiam saber tudo. E pensou que tudo nela combinava à perfeição com ele, principalmente as coisas mais triviais. Oh deus, eram como pão quente e manteiga, queijo com goiabada, cigarro e cerveja gelada. Oh deus. E só ali, sozinho sob a luz matinal, ele chorou sobre a xícara como jamais chorara em sua vida.
Então passou sua filha mais nova com um dos filhotes de gato no colo, cantando uma música de desenho japonês, daquelas que nem um PhD em sânscrito entenderia.
O gatinho se desenroscou, subiu na cabeça dela e tapou-lhe a visão por um momento, antes de pular para o chão e correr. Ela exclamou o nome do bicho em tom de reprovação, depois se virou para o pai e descreveu a cena com detalhes infantis. "Você viu, pai?", repetia. E ria um riso conhecido. Um riso de gerações.
E ele entendeu que ia sobreviver. E chorou mais um pouquinho, só que dessa vez as lágrimas limparam o desespero de sua face.
(para Camila)
Foi quando voltou para casa após a missa de sétimo dia que entendeu: nunca mais, nunca mais mesmo, ouviria as tolices dela quando chegava em casa. Não ouviria o riso franco de quando ela contava uma besteira que fizera e começava a rir de si mesma antes dos outros, que acabavam rindo de sua própria gargalhada, tão inocente e convidativa.
A missa fora cedo; sentou-se para tomar o café. Lembrou-se dos comentários que ela fazia sobre o noticiário à mesa, muitas vezes mais pertinentes que os dos articulistas arrogantes que fingiam saber tudo. E pensou que tudo nela combinava à perfeição com ele, principalmente as coisas mais triviais. Oh deus, eram como pão quente e manteiga, queijo com goiabada, cigarro e cerveja gelada. Oh deus. E só ali, sozinho sob a luz matinal, ele chorou sobre a xícara como jamais chorara em sua vida.
Então passou sua filha mais nova com um dos filhotes de gato no colo, cantando uma música de desenho japonês, daquelas que nem um PhD em sânscrito entenderia.
O gatinho se desenroscou, subiu na cabeça dela e tapou-lhe a visão por um momento, antes de pular para o chão e correr. Ela exclamou o nome do bicho em tom de reprovação, depois se virou para o pai e descreveu a cena com detalhes infantis. "Você viu, pai?", repetia. E ria um riso conhecido. Um riso de gerações.
E ele entendeu que ia sobreviver. E chorou mais um pouquinho, só que dessa vez as lágrimas limparam o desespero de sua face.
13.11.03
10.11.03
Os Cadafalsos estão em festa este mês. Enquanto o primeiro completou dois anos no último dia 6, o aniversário deste aqui é no dia 30. Para quem não sabe, o Cadafalso II teve origem num erro da coluna da Tia Cora no Globo, que dava este endereço, então inexistente, como sendo o do Cadadafalso I. Ao invés de corrigir, eu aproveitei a deixa e fundei este braço em prosa do blog que iniciara semanas antes... E cá estamos.
Para comemorar, farei uma proposta a vocês: escreverei os próximos três minicontos baseado em temas que me sugerirem nos comments. Se houver mais sugestões, escolherei os três temas que me parecerem mais interessantes. Alguém se habilita?
7.11.03
Oxalá o sr. ministro da Previdência goze sempre de boa saúde e viva até depois dos 90 anos. E, quando chegar lá, não tenha nunca de enfrentar funcionários públicos insensíveis, que o façam deslocar-se de casa para provar que está vivo e não é um criminoso.
A velhice, em nosso país, é tratada como doença. E o pior é que, no ritmo em que todos trabalhamos, com o Mercado regendo nossas vidas -- inexoravelmente, ao que parece --, estamos envelhecendo mais rápido, de estresse, salários baixos e dívidas. E de raiva, profunda raiva silenciosa.
A velhice, em nosso país, é tratada como doença. E o pior é que, no ritmo em que todos trabalhamos, com o Mercado regendo nossas vidas -- inexoravelmente, ao que parece --, estamos envelhecendo mais rápido, de estresse, salários baixos e dívidas. E de raiva, profunda raiva silenciosa.
3.11.03
Ainda sobre o churrasco (vide Cadafalso I): eu e um velho amigo ficamos um bom tempo falando sobre bebidas. Não sou especialista em nada, é claro, mas ele falava sobre um livro que havia lido sobre vinhos e eu refleti, olhando para a lata de cerveja a meu lado: "eu gosto muito de vinho. Mas na verdade acho que ele é uma comida em forma líquida, de tal forma complementa determinadas refeições. Já a cerveja mata de fato sua sede. É ela que que queremos quando vamos beber de fato -- e ficamos bebendo o quanto for possível ;-)."
30.10.03
29.10.03
Anseio por uma cervejinha no sábado. Quando vai se aproximando do término uma semana em que você deu plantão (12 dias direto trabalhando, com o fim de semana anterior emendado), chegamos exaustos à sexta-feira. E estou de matérias até o pescoço ;-)
É, o trabalho é mesmo o vício das classes bebedoras...
É, o trabalho é mesmo o vício das classes bebedoras...
25.10.03
A ressaca
Ainda bêbado, intuía que ia passar pela pior ressaca de sua vida. Depois de quatro garrafas de uísque paraguaio caubói consumidas com os amigos na madrugada deprê, precisou ser carregado para a banheira, onde, misturando inglês e alemão, fazia declarações de amor à futura ex-namorada ausente. Depois, o vômito inevitável. E o esquecimento.
Acordou perfeito na manhã seguinte. Perfeito. O crânio quieto dentro da testa. Nenhum machado invisível enfiado no meio da careca, o aço latejando do cocuruto às têmporas. Nenhum gosto de lata de azeite enferrujada dentro da boca. Se gostasse de exercício, podia até sair para um cooper à beira da lagoa. Sentia-se bem como nunca.
Aí arregalou os olhos ao ver na cômoda as quatro garrafas de uísque de Assunção. Cheinhas. Intocadas.
Olhou o calendário. Não! Devia ser a manhã de domingo. Mas estava lá a folha de sábado, que ele mesmo arrancara.
Ligou a TV. As notícias de sábado. Tudo igual. "Aimedeus aimeudeus eu voltei no tempo", gemeu. "Será que vou tomar aquele porre terrível de novo?"
Fugiu espavorido de casa. Ia fazer tudo diferente. Passou na casa da namorada. Ela tinha saído. Ligou para os pais. Estavam em Petrópolis. Não podia falar com o Zé, nem com o Carlos, nem com o Ivan, que eram os co-porristas. Correu para a rodoviária, esquecendo que estava sem dinheiro vivo. Não aceitavam cheque no guichê. O banco ficava a duas quadras; o 24 horas estava sem dinheiro. Mas que merda.
Aí encontrou o Zé na sinuca da esquina. Ficou branco. O outro acenou e ele gritou de pavor, disparando rua acima. Acabou voltando para casa. Ia se trancar, sem atender ninguém até aquele pesadelo passar. Sentou-se na cama, esbaforido.
Como é que o porre tinha começado mesmo? Alguém chegou e...
Bateram na porta. "Miguel, é o Carlos!"
Ih, foi assim mesmo. Decidiu não responder.
"Miguel, eu sei que você está aí, te vi entrar. Responde, homem de Deus!"
Nada.
"Ivan, eu estou ouvindo uma respiração pesada... ele pode estar passando mal depois da bebedeira de ontem".
Hein?
Olhou para a cômoda. As garrafas vazias. Na folhinha, a data de domingo.
Então veio tudo junto: o gosto de ferrugem, o terremoto no crânio, o suor frio. Desabou na cama, lânguido como uma maria-mole.
Toda a ressaca tomou conta de seu corpo; foi como se um fenemê o atropelasse.
Ao desmaiar sobre a cama desarrumada, só pôde ouvir de longe o sussurro do Tempo: "desculpe, erro de devolução..."
Num hospital em Helsinque, Rainer Torvald recuperou a memória depois de doze anos, no dia de seu aniversário -- um sábado.
Ainda bêbado, intuía que ia passar pela pior ressaca de sua vida. Depois de quatro garrafas de uísque paraguaio caubói consumidas com os amigos na madrugada deprê, precisou ser carregado para a banheira, onde, misturando inglês e alemão, fazia declarações de amor à futura ex-namorada ausente. Depois, o vômito inevitável. E o esquecimento.
Acordou perfeito na manhã seguinte. Perfeito. O crânio quieto dentro da testa. Nenhum machado invisível enfiado no meio da careca, o aço latejando do cocuruto às têmporas. Nenhum gosto de lata de azeite enferrujada dentro da boca. Se gostasse de exercício, podia até sair para um cooper à beira da lagoa. Sentia-se bem como nunca.
Aí arregalou os olhos ao ver na cômoda as quatro garrafas de uísque de Assunção. Cheinhas. Intocadas.
Olhou o calendário. Não! Devia ser a manhã de domingo. Mas estava lá a folha de sábado, que ele mesmo arrancara.
Ligou a TV. As notícias de sábado. Tudo igual. "Aimedeus aimeudeus eu voltei no tempo", gemeu. "Será que vou tomar aquele porre terrível de novo?"
Fugiu espavorido de casa. Ia fazer tudo diferente. Passou na casa da namorada. Ela tinha saído. Ligou para os pais. Estavam em Petrópolis. Não podia falar com o Zé, nem com o Carlos, nem com o Ivan, que eram os co-porristas. Correu para a rodoviária, esquecendo que estava sem dinheiro vivo. Não aceitavam cheque no guichê. O banco ficava a duas quadras; o 24 horas estava sem dinheiro. Mas que merda.
Aí encontrou o Zé na sinuca da esquina. Ficou branco. O outro acenou e ele gritou de pavor, disparando rua acima. Acabou voltando para casa. Ia se trancar, sem atender ninguém até aquele pesadelo passar. Sentou-se na cama, esbaforido.
Como é que o porre tinha começado mesmo? Alguém chegou e...
Bateram na porta. "Miguel, é o Carlos!"
Ih, foi assim mesmo. Decidiu não responder.
"Miguel, eu sei que você está aí, te vi entrar. Responde, homem de Deus!"
Nada.
"Ivan, eu estou ouvindo uma respiração pesada... ele pode estar passando mal depois da bebedeira de ontem".
Hein?
Olhou para a cômoda. As garrafas vazias. Na folhinha, a data de domingo.
Então veio tudo junto: o gosto de ferrugem, o terremoto no crânio, o suor frio. Desabou na cama, lânguido como uma maria-mole.
Toda a ressaca tomou conta de seu corpo; foi como se um fenemê o atropelasse.
Ao desmaiar sobre a cama desarrumada, só pôde ouvir de longe o sussurro do Tempo: "desculpe, erro de devolução..."
Num hospital em Helsinque, Rainer Torvald recuperou a memória depois de doze anos, no dia de seu aniversário -- um sábado.
24.10.03
Ontem vi um filme com quatro histórias misturando rock e terror. Num deles, a Morte pede a uma cantora para dar uma canja em seu show.
Agora imagine a Morte cantando isso...
Every breath you take
Every move you make
Every bond you break
Every step you take
I'll be watching you
Every single day
Every word you say
Every game you play
Every night you stay
I'll be watching you
Oh can't you see
You belong to me...
É perfeito, né? Pelo menos neste trecho. ;-)
Agora imagine a Morte cantando isso...
Every breath you take
Every move you make
Every bond you break
Every step you take
I'll be watching you
Every single day
Every word you say
Every game you play
Every night you stay
I'll be watching you
Oh can't you see
You belong to me...
É perfeito, né? Pelo menos neste trecho. ;-)
21.10.03
É com muito orgulho que vou contar isto a vocês: este guardião do Cadafalso foi o segundo lugar no concurso de narrativas curtas Haroldo Maranhão, organizado pela Meg. E isto entre mais de 300 inscritos. Não podia desejar maior honra e estou muito feliz e agradecido. O texto agraciado foi o Miniconto do desconforto número 5, que rebatizei de "A decisão" para a competição. Eis o texto:
"A nevasca seguia virulenta lá fora; dentro, o troar dos aplausos era inesgotável, irreprimível. Chamado ao palco, os gritos de "O autor! O autor!" transformando-o num títere gigante, postou-se no proscênio, como fizera nos últimos anos, impecavelmente elegante na capa Inverness e tirando da cigarreira dourada um dos incontáveis cigarros que o acompanhavam após os jantares no Savoy.
Ao dar a primeira tragada, viu na quarta fileira a Desgraça aplaudindo de pé, num longo vestido negro adornado por um único rubi cor de sangue. Naquela noite, decidiu: deixaria a vida de dissipação e recolher-se-ia num mosteiro, onde escreveria suas melhores obras, frutos da reflexão de que tanto precisava.
Mas a manhã surgiu magnífica, sem uma nuvem no céu, e lhe trouxe agradável companhia. Sentia-se novo, e saiu para passear em seu cabriolé de plantão. Anos depois, na prisão, falido, recordaria: fora a Beleza que o lançara ao abismo."
17.10.03
Minicontos do desconforto -- 58
Tinha medo de que tudo cedesse. Achava que as rachaduras estavam aumentando. E, a cada chuva, as infiltrações enchiam mais o piso de ardósia de água. O mais assustador era o barulho que os gatinhos recém-nascidos faziam no armário sob a televisão -- reque, reque. Quando estava vendo um filme de terror, dava solavancos na poltrona fora de hora por causa disso.
Agora só tinha como companhia a Dodó, a gata malhada que se sentava atrás de seu pescoço e ronronava pela madrugada. Era a única visão de beleza que lhe restara depois da insolvência final.
Uma noite o telefone tocou. Era um velho amigo, convidando-o para um trabalho free-lance. Iam pagar mal, como de costume, mas pelo menos daria para a cerveja. Foi até o endereço indicado. Recebeu-o um homem magro e bem-vestido. "Duas laudas", começou ele. "Mas sobre o quê?" "Deus".
Foi para casa. Ficou olhando a samambaia gotejante com o caderno esperando à sua frente.
Veio a Dodó e deitou-se na escrivaninha, olhando para ele. E só então houve o clique, com o velho jornalista percebendo em seus olhos despidos das torpes emoções humanas, revestidos apenas dos segredos da Natureza, o sentido da criação.
Ele começou a rir sozinho, espantando a gata sem querer. Tudo bem, agora era só escrever. Começou, num frêmito: "Darwin estava certo e errado ao mesmo tempo..."
Então a casa caiu.
Tinha medo de que tudo cedesse. Achava que as rachaduras estavam aumentando. E, a cada chuva, as infiltrações enchiam mais o piso de ardósia de água. O mais assustador era o barulho que os gatinhos recém-nascidos faziam no armário sob a televisão -- reque, reque. Quando estava vendo um filme de terror, dava solavancos na poltrona fora de hora por causa disso.
Agora só tinha como companhia a Dodó, a gata malhada que se sentava atrás de seu pescoço e ronronava pela madrugada. Era a única visão de beleza que lhe restara depois da insolvência final.
Uma noite o telefone tocou. Era um velho amigo, convidando-o para um trabalho free-lance. Iam pagar mal, como de costume, mas pelo menos daria para a cerveja. Foi até o endereço indicado. Recebeu-o um homem magro e bem-vestido. "Duas laudas", começou ele. "Mas sobre o quê?" "Deus".
Foi para casa. Ficou olhando a samambaia gotejante com o caderno esperando à sua frente.
Veio a Dodó e deitou-se na escrivaninha, olhando para ele. E só então houve o clique, com o velho jornalista percebendo em seus olhos despidos das torpes emoções humanas, revestidos apenas dos segredos da Natureza, o sentido da criação.
Ele começou a rir sozinho, espantando a gata sem querer. Tudo bem, agora era só escrever. Começou, num frêmito: "Darwin estava certo e errado ao mesmo tempo..."
Então a casa caiu.
Data emblemática: eu e Wal estamos juntos há dezesseis anos. Lembro-me de detalhes da festa de casamento até hoje. Foi um festão, daqueles em que a gente se diverte sem parar (separamos a data só para isso, tendo nos casado em dias separados no civil e no religioso).
No convite, pusemos este trecho do conto "O rouxinol e a rosa", de Wilde: "'Se queres uma rosa vermelha', explicou a roseira, 'hás de fazê-la de música, ao luar, e tingi-la com o sangue de teu coração. Tens de cantar para mim com o peito junto a um espinho. Cantarás toda a noite para mim e o espinho deve ferir teu coração e teu sangue de vida deve infiltrar-se em minhas veias e tornar-se meu.'"
No convite, pusemos este trecho do conto "O rouxinol e a rosa", de Wilde: "'Se queres uma rosa vermelha', explicou a roseira, 'hás de fazê-la de música, ao luar, e tingi-la com o sangue de teu coração. Tens de cantar para mim com o peito junto a um espinho. Cantarás toda a noite para mim e o espinho deve ferir teu coração e teu sangue de vida deve infiltrar-se em minhas veias e tornar-se meu.'"
14.10.03
". . . Yes, Mr. Gray, the gods have been good to you. But what the gods give they quickly take away. You have only a few years in which to live really, perfectly, and fully. When your youth goes, your beauty will go with it, and then you will suddenly discover that there are no triumphs left for you, or have to content yourself with those mean triumphs that the memory of your past will make more bitter than defeats. Every month as it wanes brings you nearer to something dreadful. Time is jealous of you, and wars against your lilies and your roses. You will become sallow, and hollow-cheeked, and dull-eyed. You will suffer horribly.... Ah! realize your youth while you have it. Don't squander the gold of your days, listening to the tedious, trying to improve the hopeless failure, or giving away your life to the ignorant, the common, and the vulgar. These are the sickly aims, the false ideals, of our age."
Oscar Wilde, "The picture of Dorian Gray"
Oscar Wilde, "The picture of Dorian Gray"
13.10.03
9.10.03
Vou comentar neste post o filme "Carrington" e falar sobre o final dele. Para quem pretende vê-lo, pode não ser aconselhável ler, ok?
Vi ontem "Carrington", filme em que Emma Thompson encarna a pintora que se apaixonou pelo escritor Lytton Strachey na Inglaterra dos anos 10-20, e devotou sua vida a esse amor, embora Lytton fosse homossexual e ela tenha tido vários amantes para aplacar a ausência de sexo com ele. Um filme que faz pensar sobre o que é, na verdade, o amar. Se ele se sustenta mesmo quando parece impossível. Não sei se a verdadeira Carrington era bela como Emma Thompson é, mas compreende-se por sua história que ela poderia ter qualquer homem que quisesse, e mesmo assim escolhe Lytton, a tal ponto de cometer suicídio após a morte do amado, por não poder viver sem ele.
Será possível amar a alma de alguém até o fim, sublimando o desejo? Será possível não se sentir atraído fisicamente por alguém e ainda assim querê-lo de modo quase insuportável? Será possível saber-se objeto de um amor assim e agüentar a necessária distância?
Os poetas deveriam saber a resposta. Mas é justamente porque eles se perguntam isso todos os minutos de suas vidas que aparecem os versos.
Vi ontem "Carrington", filme em que Emma Thompson encarna a pintora que se apaixonou pelo escritor Lytton Strachey na Inglaterra dos anos 10-20, e devotou sua vida a esse amor, embora Lytton fosse homossexual e ela tenha tido vários amantes para aplacar a ausência de sexo com ele. Um filme que faz pensar sobre o que é, na verdade, o amar. Se ele se sustenta mesmo quando parece impossível. Não sei se a verdadeira Carrington era bela como Emma Thompson é, mas compreende-se por sua história que ela poderia ter qualquer homem que quisesse, e mesmo assim escolhe Lytton, a tal ponto de cometer suicídio após a morte do amado, por não poder viver sem ele.
Será possível amar a alma de alguém até o fim, sublimando o desejo? Será possível não se sentir atraído fisicamente por alguém e ainda assim querê-lo de modo quase insuportável? Será possível saber-se objeto de um amor assim e agüentar a necessária distância?
Os poetas deveriam saber a resposta. Mas é justamente porque eles se perguntam isso todos os minutos de suas vidas que aparecem os versos.
7.10.03
Dias 16, 17, 18 e 19 de outubro vai rolar no Armazém do Rio o evento "Primavera dos Livros", com palestras, rodas de leitura, shows e estandes de várias editores. Quem curte literatura deve ficar ligado. No dia 18, sábado, às 19h, pretendo dar um pulo até lá para prestigiar minhas queridas Alessandra Archer e Crib Tanaka, que estarão lendo alguns trechos de seus escritos. E de repente vou ler algumas coisas minhas também ;-). Mestre Augusto Sales, o homem do Falaê!, também estará no programa, falando sobre e-zines e blogs, no mesmo dia, às 17h30. Ele está montando a revista/site "Paralelos", que vai reunir alguns dos antigos colaboradores do Falaê!.
3.10.03
Maloca Forever!!!!
Ontem foi o aniversário do Marlos Mendes, vulgo Maloca, uma das mentes mais alertas do planeta. Ele reuniu cerca de vinte convivas no centenário café Lamas e e a mesa estava animadíssima. No fim estava todo mundo vendo meio torto, como se pode conferir na imagem acima ;-) O visual barba sem bigode do aniversariante suscitou comparações com Los Hermanos, Brucutu, Abraham Lincoln, o Rolo da Turma da Mônica e até um certo Júlio Bonecão (estou gargalhando enquanto escrevo isso).
O presente mais divertido da noite foi uma garrafa do bom e velho Rom Montilla, aquele do slogan "Hoje alegre, amanhã bem" -- que eu acho que deveria ser "Hoje alegre. Amanhã... bem..."
Ontem foi o aniversário do Marlos Mendes, vulgo Maloca, uma das mentes mais alertas do planeta. Ele reuniu cerca de vinte convivas no centenário café Lamas e e a mesa estava animadíssima. No fim estava todo mundo vendo meio torto, como se pode conferir na imagem acima ;-) O visual barba sem bigode do aniversariante suscitou comparações com Los Hermanos, Brucutu, Abraham Lincoln, o Rolo da Turma da Mônica e até um certo Júlio Bonecão (estou gargalhando enquanto escrevo isso).
O presente mais divertido da noite foi uma garrafa do bom e velho Rom Montilla, aquele do slogan "Hoje alegre, amanhã bem" -- que eu acho que deveria ser "Hoje alegre. Amanhã... bem..."
2.10.03
30.9.03
Minicontos do desconforto -- 57
Chovia quando a mãe conseguiu espantar a ratazana gorda para fora da casa. Ato contínuo, portas e janelas foram fechadas num frenesi, enquanto o bicho comia imperturbável um resto de comida no lixo. A família, como se o pobre roedor marrom fosse uma quadrilha de traficantes, assistia à refeição abrindo os basculantes o mínimo possível.
Foi quando a ratazana viu que lhe atiraram um estranho cubo preto, amarrado a um arame. Sabia muito bem o que era aquilo. E refletiu: podia ficar ali, passeando de um lado para o outro no quintal, (r)atazanando a família para sempre. Como seu pai fizera a vida inteira.
Ou podia largar de vez a existência de pária e morrer uma morte literária. Afinal, era uma ratazana de respeito, não um reles camundongo movido a ansiedade.
Então -- e só um membro da família humana percebeu que havia naquilo um gesto de cansada desesperança, um simulacro do fim de madame Bovary, embora bem mais digno -- a ratazana foi até o cubo e o roeu, olhando para o nada.
No dia seguinte, imóvel e silenciosa ao lado de um saco de lixo, foi recolhida com uma pá e descartada como indigente. Só a carpiram os animais proscritos: as baratas, os vermes e um fazedor de versos de gaveta.
Chovia quando a mãe conseguiu espantar a ratazana gorda para fora da casa. Ato contínuo, portas e janelas foram fechadas num frenesi, enquanto o bicho comia imperturbável um resto de comida no lixo. A família, como se o pobre roedor marrom fosse uma quadrilha de traficantes, assistia à refeição abrindo os basculantes o mínimo possível.
Foi quando a ratazana viu que lhe atiraram um estranho cubo preto, amarrado a um arame. Sabia muito bem o que era aquilo. E refletiu: podia ficar ali, passeando de um lado para o outro no quintal, (r)atazanando a família para sempre. Como seu pai fizera a vida inteira.
Ou podia largar de vez a existência de pária e morrer uma morte literária. Afinal, era uma ratazana de respeito, não um reles camundongo movido a ansiedade.
Então -- e só um membro da família humana percebeu que havia naquilo um gesto de cansada desesperança, um simulacro do fim de madame Bovary, embora bem mais digno -- a ratazana foi até o cubo e o roeu, olhando para o nada.
No dia seguinte, imóvel e silenciosa ao lado de um saco de lixo, foi recolhida com uma pá e descartada como indigente. Só a carpiram os animais proscritos: as baratas, os vermes e um fazedor de versos de gaveta.
29.9.03
Pode uma família inteira ficar viciada num game? Pois a minha está totalmente mergulhada no "Bomberman", um velho joguinho que, pelo jeito, agrada a todas as idades. Wal, minhas filhas e até minha sogra estão enlouquecidas com as fases do game. Você está lendo um livro sossegado e de repente escuta alguém falando sozinho na sala, geralmente frases como "Droga! Morri!", ou xingamentos diversos diante de novas dificuldades para prosseguir...
É uma verdadeira comédia.
É uma verdadeira comédia.
26.9.03
Ainda falando da palestra de ontem (ver Cadafalso I): na noitada no restaurante japonês, após a apresentação, foi servido, em certo momento, um combinado que continha uns hot filadélfias simplesmente gigantescos. Travou-se o seguinte diálogo, que terminou em gargalhada coletiva:
-- Rapaz, olha só o tamanho desse filadélfia...
-- Isso aí já não é mais filadélfia. É toda a Nova Inglaterra.
* * *
Outro diálogo curioso, desta vez entreouvido no Prêmio Imprensa Embratel:
-- Meu Deus, o que fizeram com o cabelo da Ana Paula Arósio, que parece um emaranhado?
-- Ora, fizeram um 21.
-- Rapaz, olha só o tamanho desse filadélfia...
-- Isso aí já não é mais filadélfia. É toda a Nova Inglaterra.
* * *
Outro diálogo curioso, desta vez entreouvido no Prêmio Imprensa Embratel:
-- Meu Deus, o que fizeram com o cabelo da Ana Paula Arósio, que parece um emaranhado?
-- Ora, fizeram um 21.
25.9.03
Moçada, é hoje o papo sobre software livre e segurança que farei lá no Rio Design Barra (Av. das Américas, 7777, Barra) junto com o expert Marcos Tadeu von Lutzow Vidal.
Espero vocês lá, a partir das 20h!
Espero vocês lá, a partir das 20h!
23.9.03
(reprodução do site oficial do GNU/Linux)
Tá lá na Cora, então reproduzo aqui:
"Vida Digital
Essa semana, é a vez do André Machado: nosso intrépido repórter e o engenheiro Marcos Tadeu Vidal, professor de engenharia de telecomunicações e diretor da consultoria de segurança em TI V2R, vão falar sobre software livre e segurança no próximo encontro no Rio Design Barra. Quinta-feira, dia 25, às 20hs."
19.9.03
18.9.03
Do Márcio Moreira Alves, o melhor diagnóstico deste Titanic econômico que estamos vivendo.
"Médicos do século XVIII e o FMI
Se alguém advertisse um médico do século XVIII que fazer sangrias e aplicar sanguessugas debilitava o paciente e poderia até levá-lo à morte, o médico daria de ombros, acharia a advertência uma impertinência de ignorante e continuaria a tirar o sangue dos doentes com a consciência tranqüila de quem cumpre o dever segundo as melhores normas da ciência.
A mesma coisa acontece hoje com os economistas que seguem as imposições do mercado e obedecem às imposições do FMI, que é uma espécie de descarado capanga dos especuladores. Criado para evitar que eventuais desequilíbrios de balança de pagamento ameacem as economias dos países membros, acaba de escancarar, no caso da Argentina, a sua verdadeira função. Colocou como condição para assinar um novo acordo com o país que se elevassem as tarifas das empresas de serviços públicos privatizadas no governo Menem.
Ou seja: a situação de comoção social no país não interessava ao Fundo. O que interessava era garantir o lucro dos investidores estrangeiros nas empresas de serviços públicos. Interessava também, e era essa outra das precondições, que o Estado argentino salvasse os bancos privados, quebrados pelo abandono do regime de câmbio fixo, regime apoiado anos a fio pelo próprio FMI. Queria um Proer platense.
O presidente Néstor Kirchner pagou para ver. Ou melhor, não pagou e viu as condições serem amainadas pela pressão dos Estados Unidos, que é quem manda no Fundo, do presidente Vicente Fox, do México, e dos demais países latino-americanos, inclusive do Brasil, cujas equipes econômicas têm sido as mais obedientes alunas do FMI. Engolem tudo o que ouvem em Washington como se fossem verdades evangélicas.
Ainda bem que, vez por outra, aparecem aqui economistas americanos menos acríticos. Paul Volcker, por exemplo, um ex-presidente do Federal Reserve, o Fed, para os íntimos, fez em São Paulo uma palestra pessimista sobre o futuro da economia brasileira. Razão para o pessimismo: a exagerada dependência e obediência do país ao FMI. Outro que aqui esteve foi Joseph Stiglitz, Prêmio Nobel de Economia de 2001, ex-assessor do próprio FMI e severo crítico de suas políticas.
Stiglitz não é um economista qualquer — nascido em Gary, Indiana, tal como Paul Samuelson, o primeiro americano a receber o Nobel econômico, considerado um dos mais importantes economistas do século XX. Muito jovem, antes mesmo de completar o seu doutorado no MIT, foi encarregado de preparar a publicação da obra completa de seu ilustre conterrâneo, que teve o título de Collected Scientific Papers. Ao terminar o doutorado, foi contratado como professor do próprio MIT, ensinando depois em Yale, Stanford, Oxford e Princeton, antes de voltar à Califórnia, a Stanford. Em 1979, recebeu a mais alta distinção da Associação Americana de Economistas, a Medalha John Bates Clark. Foi diretor das principais revistas de economia dos Estados Unidos, a “Journal of Economic Perspectives”, a “American Economic Review” e a “Journal of Economic Theory”. Depois de tudo isso, o Prêmio Nobel veio quase como um coroamento natural da carreira.
Stiglitz publicou mais de 250 artigos e capítulos em livros técnicos sobre uma grande variedade de assuntos, mas as suas principais contribuições foram no campo da análise das imperfeições dos mercados e do efeito sobre eles da economia da informação. Aqui no Brasil, disse duas coisas importantes que, sem serem novidade, adquirem maior peso dada a autoridade de quem as disse:
a) O Brasil não precisa procurar no exterior receitas para seu desenvolvimento sustentado. Ao longo dos primeiros 75 anos do século XX, foi o país que mais cresceu no mundo. Isso é uma notável série de crescimento sustentável. Para retomá-lo, bastaria adaptar às condições presentes as políticas do passado.
b) As injustificáveis taxas de juros praticadas no país estrangulam a sua economia.
Não creio que haja muitos políticos, economistas ou analistas que discordem da necessidade do governo Lula de fazer o que fez na área econômica: manter os compromissos com o FMI, garantir um superávit primário ainda maior que o acordado, jogar os juros na estratosfera para assegurar a permanência de capitais especulativos, evitar o repasse para os preços da alta do dólar através do aumento do dinheiro que os bancos são compulsoriamente obrigados a depositar no Banco Central e, assim, paralisar a economia, aumentar o desemprego e reduzir a capacidade de compra dos assalariados. Na época da campanha eleitoral, escrevi que o medo dos investidores não era com um efeito Lula, mas com um efeito Malan. Ou seja, com a continuidade das políticas da equipe econômica que produzira a menor taxa de crescimento desde a proclamação da República, decuplicara a dívida pública, adotara anos a fio a mais alta taxa de juros do planeta e, mesmo assim, repassava o bastão com uma inflação de 20% que, incontida, chegaria a 40% ao ano em 2003. O dr. Palocci e seus colaboradores optaram por um tratamento Butantã, quer dizer, enfrentar o veneno da cobra com veneno da própria cobra.
Agora basta, dizem seus próprios correligionários, como o senador Aloizio Mercadante e a economista Maria da Conceição Tavares. A continuar o mesmo tratamento, o doente morre. Aliás, fazê-lo reviver não é fácil, nem há receita garantida."
"Médicos do século XVIII e o FMI
Se alguém advertisse um médico do século XVIII que fazer sangrias e aplicar sanguessugas debilitava o paciente e poderia até levá-lo à morte, o médico daria de ombros, acharia a advertência uma impertinência de ignorante e continuaria a tirar o sangue dos doentes com a consciência tranqüila de quem cumpre o dever segundo as melhores normas da ciência.
A mesma coisa acontece hoje com os economistas que seguem as imposições do mercado e obedecem às imposições do FMI, que é uma espécie de descarado capanga dos especuladores. Criado para evitar que eventuais desequilíbrios de balança de pagamento ameacem as economias dos países membros, acaba de escancarar, no caso da Argentina, a sua verdadeira função. Colocou como condição para assinar um novo acordo com o país que se elevassem as tarifas das empresas de serviços públicos privatizadas no governo Menem.
Ou seja: a situação de comoção social no país não interessava ao Fundo. O que interessava era garantir o lucro dos investidores estrangeiros nas empresas de serviços públicos. Interessava também, e era essa outra das precondições, que o Estado argentino salvasse os bancos privados, quebrados pelo abandono do regime de câmbio fixo, regime apoiado anos a fio pelo próprio FMI. Queria um Proer platense.
O presidente Néstor Kirchner pagou para ver. Ou melhor, não pagou e viu as condições serem amainadas pela pressão dos Estados Unidos, que é quem manda no Fundo, do presidente Vicente Fox, do México, e dos demais países latino-americanos, inclusive do Brasil, cujas equipes econômicas têm sido as mais obedientes alunas do FMI. Engolem tudo o que ouvem em Washington como se fossem verdades evangélicas.
Ainda bem que, vez por outra, aparecem aqui economistas americanos menos acríticos. Paul Volcker, por exemplo, um ex-presidente do Federal Reserve, o Fed, para os íntimos, fez em São Paulo uma palestra pessimista sobre o futuro da economia brasileira. Razão para o pessimismo: a exagerada dependência e obediência do país ao FMI. Outro que aqui esteve foi Joseph Stiglitz, Prêmio Nobel de Economia de 2001, ex-assessor do próprio FMI e severo crítico de suas políticas.
Stiglitz não é um economista qualquer — nascido em Gary, Indiana, tal como Paul Samuelson, o primeiro americano a receber o Nobel econômico, considerado um dos mais importantes economistas do século XX. Muito jovem, antes mesmo de completar o seu doutorado no MIT, foi encarregado de preparar a publicação da obra completa de seu ilustre conterrâneo, que teve o título de Collected Scientific Papers. Ao terminar o doutorado, foi contratado como professor do próprio MIT, ensinando depois em Yale, Stanford, Oxford e Princeton, antes de voltar à Califórnia, a Stanford. Em 1979, recebeu a mais alta distinção da Associação Americana de Economistas, a Medalha John Bates Clark. Foi diretor das principais revistas de economia dos Estados Unidos, a “Journal of Economic Perspectives”, a “American Economic Review” e a “Journal of Economic Theory”. Depois de tudo isso, o Prêmio Nobel veio quase como um coroamento natural da carreira.
Stiglitz publicou mais de 250 artigos e capítulos em livros técnicos sobre uma grande variedade de assuntos, mas as suas principais contribuições foram no campo da análise das imperfeições dos mercados e do efeito sobre eles da economia da informação. Aqui no Brasil, disse duas coisas importantes que, sem serem novidade, adquirem maior peso dada a autoridade de quem as disse:
a) O Brasil não precisa procurar no exterior receitas para seu desenvolvimento sustentado. Ao longo dos primeiros 75 anos do século XX, foi o país que mais cresceu no mundo. Isso é uma notável série de crescimento sustentável. Para retomá-lo, bastaria adaptar às condições presentes as políticas do passado.
b) As injustificáveis taxas de juros praticadas no país estrangulam a sua economia.
Não creio que haja muitos políticos, economistas ou analistas que discordem da necessidade do governo Lula de fazer o que fez na área econômica: manter os compromissos com o FMI, garantir um superávit primário ainda maior que o acordado, jogar os juros na estratosfera para assegurar a permanência de capitais especulativos, evitar o repasse para os preços da alta do dólar através do aumento do dinheiro que os bancos são compulsoriamente obrigados a depositar no Banco Central e, assim, paralisar a economia, aumentar o desemprego e reduzir a capacidade de compra dos assalariados. Na época da campanha eleitoral, escrevi que o medo dos investidores não era com um efeito Lula, mas com um efeito Malan. Ou seja, com a continuidade das políticas da equipe econômica que produzira a menor taxa de crescimento desde a proclamação da República, decuplicara a dívida pública, adotara anos a fio a mais alta taxa de juros do planeta e, mesmo assim, repassava o bastão com uma inflação de 20% que, incontida, chegaria a 40% ao ano em 2003. O dr. Palocci e seus colaboradores optaram por um tratamento Butantã, quer dizer, enfrentar o veneno da cobra com veneno da própria cobra.
Agora basta, dizem seus próprios correligionários, como o senador Aloizio Mercadante e a economista Maria da Conceição Tavares. A continuar o mesmo tratamento, o doente morre. Aliás, fazê-lo reviver não é fácil, nem há receita garantida."
17.9.03
Do Slashdot:
"The New York Times reports that Internet provider SBC Communications has refused to identify computer users accused by the RIAA of file-sharing copyrighted material. SBC is the largest high-speed DSL provider with over 3 million subscribers. It continues to refuse a response to the 300 subpoenas served by the RIAA despite a ruling against Verizon earlier this year. 'We are going to challenge every single one of these that they file until we are told that our position is wrong as a matter of law,' said James D. Ellis, general counsel for SBC. He continues, '...We've got a long heritage in which we have always taken a harsh and hard rule on protecting the privacy of our customers' information.'"
"The New York Times reports that Internet provider SBC Communications has refused to identify computer users accused by the RIAA of file-sharing copyrighted material. SBC is the largest high-speed DSL provider with over 3 million subscribers. It continues to refuse a response to the 300 subpoenas served by the RIAA despite a ruling against Verizon earlier this year. 'We are going to challenge every single one of these that they file until we are told that our position is wrong as a matter of law,' said James D. Ellis, general counsel for SBC. He continues, '...We've got a long heritage in which we have always taken a harsh and hard rule on protecting the privacy of our customers' information.'"
12.9.03
Aliás, quem ainda não leu deve ler o relato do José Serra sobre os dias do golpe militar do Chile em 1973. É impressionante. É só buscar no site do Globo.
Interessante o texto do Domenico di Masi hoje no Globo, ponderando que a aposta nas culturas locais é a grande arma contra a bestificação da globalização e contra o desejo do Primeiro Mundo de que sejamos apenas produtores de coisas e não de idéias -- quando idéia boa é o que não falta por aqui (ainda que por vezes mal aplicada). Só acho que o texto podia ter sido enxugado e caberia numas três laudas, sem prejuízo do conteúdo.
9.9.03
8.9.03
Fim de semana cercado de cerveja por todos os lados, depois do chope de quarta da ECO-UFRJ e de mais uma noite de papos filosóficos mil com a Arqueira no Lamas. Sexta eu e Elis fomos para a festa da Ariadne (ver o Cadafalso I) e depois, no sábado, passei o dia num churrasco em família em Barra de Maricá. Domingo descansei, que ninguém é de ferro ;-)). E só bebi água...
5.9.03
4.9.03
30.8.03
Minicontos do desconforto -- 56
Desceu do avião rindo. Sexta-feira. Dia de relaxar depois do desfile protocolar. Talvez agradasse um pouco a esposa, para variar. Ela estava sempre impecável, mas ele podia ver sua desintegração interna. E sabia que era culpa dele, de sua boêmia incorrigível.
Tomaram café, depois saíram para o sol. Meio-dia. A temperatura estava agradável, era outono. Só ia ser preciso agüentar o chato do governador.
As pessoas acenavam para o carro. Ele acenava de volta, um pouco surpreso com a recepção. Só mais uma curva, pensou, despreocupadamente.
E foi então que a primeira bala acertou seu pescoço.
A maior surpresa, mesmo, foi se encontrar com Aldous Huxley no céu, doidão de mescalina, que morrera naquele mesmo 22 de novembro de 1963.
Desceu do avião rindo. Sexta-feira. Dia de relaxar depois do desfile protocolar. Talvez agradasse um pouco a esposa, para variar. Ela estava sempre impecável, mas ele podia ver sua desintegração interna. E sabia que era culpa dele, de sua boêmia incorrigível.
Tomaram café, depois saíram para o sol. Meio-dia. A temperatura estava agradável, era outono. Só ia ser preciso agüentar o chato do governador.
As pessoas acenavam para o carro. Ele acenava de volta, um pouco surpreso com a recepção. Só mais uma curva, pensou, despreocupadamente.
E foi então que a primeira bala acertou seu pescoço.
A maior surpresa, mesmo, foi se encontrar com Aldous Huxley no céu, doidão de mescalina, que morrera naquele mesmo 22 de novembro de 1963.
A Rolling Stone traz um maravilhoso artigo de Peter Townshend, do Who, sobre Jimi Hendrix. Também faz uma lista dos 100 maiores guitarristas de todos os tempos. Como não podia deixar de ser, está faltando gente lá. Como Rory Gallagher, Ace Frehley, Joe Satriani, Jan Akkerman, Gary Moore, Yngwie Malmsteen...
29.8.03
Ainda sobre o Stallman: outro dia, estávamos conversando na redação sobre ele e suas excentricidades, seu desleixo pessoal. etc. Mas depois fiquei refletindo e pensei que há um outro lado nessa percepção dele: a gente está tão desacostumado a encontrar alguém capaz de se entregar totalmente a um ideal que, no fundo, estranha. É claro que o cara é um exemplo hiper-radical. Você não precisa ser tão desligado das coisas boas da vida para acreditar em algo, certo? Mas a verdade é que o discurso dele, seu desejo de mudar o mundo (e moçada, como esse mundo precisa mudar) é algo que não ouço, parece-me, há milênios.
27.8.03
Está na Patrícia Kogut de hoje:
"Smoke on the water no Projac
Banda que existe desde 1968, o Deep Purple vem ao Brasil em setembro. Os roqueiros fizeram um único e surpreendente pedido: gravar uma participação no “Casseta & planeta”. A gravadora, a Virgin, entrou em contato com a produção do programa e os humoristas já estão criando um quadro em que Fucker e Sucker serão guarda-costas dos músicos."
Isso só é mesmo possível na era pós-Ritchie Blackmore no Purple. Já imaginaram o guitarrista mais mal-humorado do planeta ao lado de Bussunda e cia?
"Smoke on the water no Projac
Banda que existe desde 1968, o Deep Purple vem ao Brasil em setembro. Os roqueiros fizeram um único e surpreendente pedido: gravar uma participação no “Casseta & planeta”. A gravadora, a Virgin, entrou em contato com a produção do programa e os humoristas já estão criando um quadro em que Fucker e Sucker serão guarda-costas dos músicos."
Isso só é mesmo possível na era pós-Ritchie Blackmore no Purple. Já imaginaram o guitarrista mais mal-humorado do planeta ao lado de Bussunda e cia?
25.8.03
21.8.03
Entrevistei mais uma vez hoje à tarde o guru do free software Richard Stallman, fundador e presidente da Free Software Foundation, criador do sistema GNU e do copyleft. Como sempre, ele foi de uma lucidez impressionante ao relacionar o tema software e comportamento, para além das questões econômico-tecnológicas. Sua verve de respostas em defesa do seu ideal é simplesmente inexaurível.
20.8.03
18.8.03
11.8.03
Mais uma de filme: para quem já achava a Rebecca Romijn-Stamos sensual na pele azul de sua personagem em "X-Men", espere até vê-la em "Femme Fatale", do Brian de Palma...
8.8.03
Ainda falando em filmes: vi no VHS o hilário (em parte, arrasante em algumas tiradas) "Adaptação", em que Nicolas Cage é o mané perfeito (pelo menos no caso do personagem principal, Charlie Kaufman. Ele também interpreta o irmão Donald, uma figuramalaça sem alça, mas gente boa). Cara Seymour está uma graça como seu objeto de desejo.
A fala mais legal do filme é em off, dita pelo personagem John Laroche (Chris Cooper):
"A questão é a seguinte: o que é maravilhoso é que cada uma dessas flores tem um relacionamento especial com o inseto que a poliniza. Há um determinado formato de orquídea que se parece exatamente com um certo inseto, de modo que o inseto é atraído para essa flor, seu duplo, sua alma gêmea, e não quer nada além de fazer amor com ela. E depois o inseto voa para longe, acha outra alma gêmea e faz amor com ela, polinizando-a. E nem a flor, nem o inseto jamais entenderão o signficado desse ato de amor. Isto é, como poderiam eles saber que, por causa de sua pequena dança, o mundo vive? Mas é o que acontece. Só por fazer aquilo que estão destinados a fazer, algo grande e magnífico acontece. Nesse sentido, eles nos mostram como viver -- como o único barômetro que você tem é seu coração. Como, assim que você encontrar sua flor, não pode deixar que mais nada se interponha no caminho."
Isso é realmente poderoso.
A fala mais legal do filme é em off, dita pelo personagem John Laroche (Chris Cooper):
"A questão é a seguinte: o que é maravilhoso é que cada uma dessas flores tem um relacionamento especial com o inseto que a poliniza. Há um determinado formato de orquídea que se parece exatamente com um certo inseto, de modo que o inseto é atraído para essa flor, seu duplo, sua alma gêmea, e não quer nada além de fazer amor com ela. E depois o inseto voa para longe, acha outra alma gêmea e faz amor com ela, polinizando-a. E nem a flor, nem o inseto jamais entenderão o signficado desse ato de amor. Isto é, como poderiam eles saber que, por causa de sua pequena dança, o mundo vive? Mas é o que acontece. Só por fazer aquilo que estão destinados a fazer, algo grande e magnífico acontece. Nesse sentido, eles nos mostram como viver -- como o único barômetro que você tem é seu coração. Como, assim que você encontrar sua flor, não pode deixar que mais nada se interponha no caminho."
Isso é realmente poderoso.
6.8.03
5.8.03
3.8.03
1.8.03
Wilde dizia, e estava certo, que experiência é o nome que damos a nossos erros. E bota erro nisso. De vez em quando a gente se flagra pensando em todas as besteiras que fez, e sente que elas pesam. Mas muitas vezes é tarde demais para o conserto, que pode gerar ainda mais mal-entendidos. Talvez por isso a idéia de perdão seja tão importante: ser capaz de perdoar os outros pelo que lhe fizeram e também a você mesmo pela quantidade mastodôntica de burrices que cometeu, especialmente na juventude. Esse é o perdão mais difícil, porque tendemos a ser extremamentes cruéis conosco.
31.7.03
Excelente artigo de José Paulo Lanyi no Comunique-se sobre a incapacidade de certos jornalistas cheios de opiniões formadas sobre tudo de dizer simplesmente "não sei". Eis um trecho lapidar:
"O reconhecimento da ignorância contempla, de pronto, duas das metas essencialmente jornalísticas: falamos a verdade, ou seja, respondemos com sinceridade e correção à pergunta que nos foi feita; e evitamos o disseminar das pretensas informações que, afinal, não se originaram nos fatos, mas no ego, essa entidade a um só tempo teórica e consistente como a rocha dos nossos instintos."
"O reconhecimento da ignorância contempla, de pronto, duas das metas essencialmente jornalísticas: falamos a verdade, ou seja, respondemos com sinceridade e correção à pergunta que nos foi feita; e evitamos o disseminar das pretensas informações que, afinal, não se originaram nos fatos, mas no ego, essa entidade a um só tempo teórica e consistente como a rocha dos nossos instintos."
29.7.03
Vi um documentário no Discovery sobre viagem no tempo. Algumas observações muito interessantes: se algum dia existir viagem no tempo, segundo um dos cientistas entrevistados, ela não seguiria necessariamente o chamado "paradoxo do avô" (suponha: você volta no tempo e mata acidentalmente seu avô antes de seu pai nascer. Com isso, você não poderia existir. Mas, se não poderia existir, quem viajou no tempo? ;-)). Isso porque -- se estiver certa a teoria de que existem universos paralelos -- você poderia voltar para o passado de um universo paralelo e mexer nele sem modificar o universo de onde você veio...
Complicado? Mais ainda é o funcionamento da primeira máquina do tempo que um pesquisador tenta construir. Ela pretende mandar fótons para o passado usando as propriedades da luz, que permitiriam distorcer o espaço-tempo. O cientista à frente do projeto imagina que, quando tal máquina for finalmente ligada, é possível que receba do futuro vários fótons enviados de outras máquinas. Essas partículas surgiriam do nada uma vez que se apertasse o botão do "on". O mais curioso é que, uma vez existindo a primeira máquina do tempo, em tese só poderíamos viajar até o ano em que ela foi inventada -- e não para o passado distante, que permaneceria remoto...
Complicado? Mais ainda é o funcionamento da primeira máquina do tempo que um pesquisador tenta construir. Ela pretende mandar fótons para o passado usando as propriedades da luz, que permitiriam distorcer o espaço-tempo. O cientista à frente do projeto imagina que, quando tal máquina for finalmente ligada, é possível que receba do futuro vários fótons enviados de outras máquinas. Essas partículas surgiriam do nada uma vez que se apertasse o botão do "on". O mais curioso é que, uma vez existindo a primeira máquina do tempo, em tese só poderíamos viajar até o ano em que ela foi inventada -- e não para o passado distante, que permaneceria remoto...
28.7.03
Agradeço à Elis a gentil menção de meus blogs em sua entrevista sobre o assunto à TVE no fim de semana.
E ela ficou tão bonitinha no vídeo...
E ela ficou tão bonitinha no vídeo...
25.7.03
Vi "Solaris", dirigido por Steven Soderbergh. Não li o livro, mas é de se esperar que ele seja melhor do que o filme, extremamente arrastado. Não se trata de ficção científica: a idéia é (ou poderia ser, se fosse mais bem aproveitada) refletir sobre como lidamos precariamente com temas como a morte, Deus e o desconhecido. Mas falta uma revelação genuína na história, uma epifania qualquer que a amarre mais. Até a música dá sono. Uma pena.
23.7.03
22.7.03
Fez frio na última semana e isso me lembrou de uma longínqua madrugada de agosto, em Grumari. Uma noite de festa, fogueira e um bocado de álcool. Não consegui dormir depois da farra; peguei o violão, fui para um lado e fiquei a dedilhar as cordas e cantar baixinho enquanto o dia rompia. Logo tive companhia, bela companhia. Que cantou comigo por algum tempo -- e depois foi caminhar à beira d'água. Não me esquecerei da silhueta dela contra o céu incendiado pela aurora, e o mar, que parecia obedecer ao ritmo da música.
21.7.03
Diálogo (aproximado, escrevo de memória) maravilhoso em "Chegadas e partidas", entre o repórter foca Kevin Spacey e um companheiro veterano do jornal local:
-- A manchete tem de ter dramaticidade. Olhe para lá e me diga qual a manchete.
-- Err.. Nuvens negras tomam o horizonte.
-- Não. "Terrível tempestade ameaça a cidade."
-- Mas e se não chover?
-- "Cidade é poupada de terrível tempestade."
-- A manchete tem de ter dramaticidade. Olhe para lá e me diga qual a manchete.
-- Err.. Nuvens negras tomam o horizonte.
-- Não. "Terrível tempestade ameaça a cidade."
-- Mas e se não chover?
-- "Cidade é poupada de terrível tempestade."
18.7.03
15.7.03
14.7.03
E aí? I'm back.
Minicontos do desconforto -- 53
Ele olhou para ela às duas e quinze da manhã e entendeu que não ia conseguir dizer mais nada. Ela também percebeu o momento. Os dois se olharam e se abraçaram.
O amor materializou-se ali, em cima da mesa molhada de cerveja. Aninhou-se nos filetes de fumaça do cigarro esquecido sobre o cinzeiro; à medida que se elevavam, criavam arabescos maravilhosos no ar.
De repente, ele pegou o cigarro e deu uma tragada. E tudo aquilo tomou de chofre seu corpo, e ele quis estar dentro dela, banhando-se em sua carne.
Ficou fora de si, incapaz de ser suave. Disse tudo a ela, desabafou sem lhe dar tempo de respirar.
E se arrependeu, pois ela se retraiu como uma plantinha dormideira fustigada pelos dedos de crianças levadas da breca.
Foi-se o momento. A tragada seguinte nada revelou.
Mas ele precisou de três uísques para retomar seu velho ar desesperançado.
E ela achou um novo assunto.
Minicontos do desconforto -- 53
Ele olhou para ela às duas e quinze da manhã e entendeu que não ia conseguir dizer mais nada. Ela também percebeu o momento. Os dois se olharam e se abraçaram.
O amor materializou-se ali, em cima da mesa molhada de cerveja. Aninhou-se nos filetes de fumaça do cigarro esquecido sobre o cinzeiro; à medida que se elevavam, criavam arabescos maravilhosos no ar.
De repente, ele pegou o cigarro e deu uma tragada. E tudo aquilo tomou de chofre seu corpo, e ele quis estar dentro dela, banhando-se em sua carne.
Ficou fora de si, incapaz de ser suave. Disse tudo a ela, desabafou sem lhe dar tempo de respirar.
E se arrependeu, pois ela se retraiu como uma plantinha dormideira fustigada pelos dedos de crianças levadas da breca.
Foi-se o momento. A tragada seguinte nada revelou.
Mas ele precisou de três uísques para retomar seu velho ar desesperançado.
E ela achou um novo assunto.
27.6.03
(foto: Freefoto.com)
Moçada, vou descansar uns dias, em férias. Volto renovado dia 14 de julho. Até lá!
25.6.03
Minicontos do desconforto -- 40
Ela o encontrou sentado no sofá rasgado, vendo (não mais) a reprise de um seriado. Tudo na casa estava no mesmo lugar há anos. Os pássaros cantavam à mesma hora todas as manhãs e um deles morria na boca dos gatos todas as tardes. No prato a seu lado, o sanduíche-companheiro de todas as noites. E a roupa para o trabalho apolineamente dobrada na cadeira ao lado da cama, no quarto quase monástico.
Ela achou que ele morrera de derrame ou ataque cardíaco. Mas a autópsia revelou suicídio. Por overdose de tédio.
Ela o encontrou sentado no sofá rasgado, vendo (não mais) a reprise de um seriado. Tudo na casa estava no mesmo lugar há anos. Os pássaros cantavam à mesma hora todas as manhãs e um deles morria na boca dos gatos todas as tardes. No prato a seu lado, o sanduíche-companheiro de todas as noites. E a roupa para o trabalho apolineamente dobrada na cadeira ao lado da cama, no quarto quase monástico.
Ela achou que ele morrera de derrame ou ataque cardíaco. Mas a autópsia revelou suicídio. Por overdose de tédio.
24.6.03
Ivson Alves pôs um link há algumas semanas em sua coluna no Comunique-se para um artigo do professor Nilson Lage sobre inteligência artificial e como ela afeta a indústria da informação, em especial no caso da internet. A leitura é válida e merece reflexão.
23.6.03
Está no site do Globo:
"RIO - A inscrição para o concurso público de seleção para garis da Comlurb atraiu mais de 15 mil pessoas na manhã de hoje ao Centro.
O grande número de candidatos provocou tumulto nas imediações do Sambódromo. Por volta das 7h30m, policiais do Batalhão de Choque tiveram que lançar sete bombas de efeito moral para conter a confusão.
De acordo com alguns candidatos, uma senhora chegou a ser pisoteada durante o tumulto. Diversas pessoas tiveram ferimentos leves por causa de estilhaços das bombas. (...)"
É triste a conjuntura em que vivemos...
"RIO - A inscrição para o concurso público de seleção para garis da Comlurb atraiu mais de 15 mil pessoas na manhã de hoje ao Centro.
O grande número de candidatos provocou tumulto nas imediações do Sambódromo. Por volta das 7h30m, policiais do Batalhão de Choque tiveram que lançar sete bombas de efeito moral para conter a confusão.
De acordo com alguns candidatos, uma senhora chegou a ser pisoteada durante o tumulto. Diversas pessoas tiveram ferimentos leves por causa de estilhaços das bombas. (...)"
É triste a conjuntura em que vivemos...
20.6.03
A temporada atual de "Smallville" vai terminar na próxima terça e eu já estou me roendo de saudades desta beleza aqui. Se dependesse de mim, não tinha nem Lana Lang (apesar da igualmente bonita Kristin Kreuk) nem a insuportável Lois Lane na parada. Só a Allison.
18.6.03
Ontem estava tomando uma Coca-Cola naquela garrafinha de 290ml (na Argentina ela é um pouquinho maior, com 350ml) e comentei com Wal que é uma pena que os recipientes de vidro para refrigerantes estejam acabando. Onde moramos, praticamente acabou tudo, só sobraram a Coca de 290ml e a de 1 litro em vidro (que também estão para acabar). E o refrigerante tem nitidamente outro gosto (ruim) quando vem em garrafas de plástico. Só não é pior que o gosto dos refrigerantes que saem direto da máquina, como no McDonalds e outras lanchonetes. O gosto da Coca-cola e do Mineirinho que eu tomava na infância, só sinto mesmo quando eles vêm dessas garrafas de vidro. E que saudade daqueles refrigerantes caçulinhas, com 185ml... Aquilo tinha gosto de traquinagens ;-)
16.6.03
Minicontos do desconforto -- 52
Compôs a vida inteira sentindo que o Espírito conversava com ele; a cada sinfonia, era nítido o aspecto de grandeza, de comunicação com os mensageiros alados portando espadas flamejantes.
Mas queria mais: queria falar direto com Ele. Sem intermediários. Sem sicofantas. No auge de sua ânsia, tornou-se um asceta. Jejuou meses a fio. Esqueceu que tinha corpo. Sentou-se ao pé da cama e decidiu que não sairia dali até ouvir o Poder da Voz.
Enfim, conseguiu, durante uma frente fria aguda em pleno finzinho do verão vienense. A experiência quase provocou um choque anafilático. Mas ele sobreviveu, e enquanto voltava a se alimentar, gradativamente, escreveu num frenesi a nova sinfonia, que celebraria, apoteótica, sua máxima epifania.
Foi só depois que terminou que percebeu as lágrimas nos olhos e o tremor nas mãos de sua jovem criada, que o fitava desesperada. E entendeu o significado daquele silêncio maravilhoso que se tinha seguido ao encontro divino.
Ele estava surdo.
Compôs a vida inteira sentindo que o Espírito conversava com ele; a cada sinfonia, era nítido o aspecto de grandeza, de comunicação com os mensageiros alados portando espadas flamejantes.
Mas queria mais: queria falar direto com Ele. Sem intermediários. Sem sicofantas. No auge de sua ânsia, tornou-se um asceta. Jejuou meses a fio. Esqueceu que tinha corpo. Sentou-se ao pé da cama e decidiu que não sairia dali até ouvir o Poder da Voz.
Enfim, conseguiu, durante uma frente fria aguda em pleno finzinho do verão vienense. A experiência quase provocou um choque anafilático. Mas ele sobreviveu, e enquanto voltava a se alimentar, gradativamente, escreveu num frenesi a nova sinfonia, que celebraria, apoteótica, sua máxima epifania.
Foi só depois que terminou que percebeu as lágrimas nos olhos e o tremor nas mãos de sua jovem criada, que o fitava desesperada. E entendeu o significado daquele silêncio maravilhoso que se tinha seguido ao encontro divino.
Ele estava surdo.
13.6.03
Minicontos do desconforto -- 51
Seu amor foi ficando cada vez mais absorvente e obsessivo à medida que envelhecia. Ela sempre fora sapeca, brejeira, desde os primeiros anos; e se na juventude ele conseguia ao menos disfarçar a insegurança, na velhice lhe sobreveio uma tremedeira espiritual. Então a vigiava, tentava controlá-la, apesar de saber que era tudo em vão.
Um dia, ao retornar do carteado, encontrou-a com um homem que conhecera na internet. Expulsou-a de casa e acolheu a solidão em seu lugar.
Mas a solidão fez com ele o que debalde procurara fazer com a infiel: vigiava-o por todos os cantos, não o deixava ver tevê, interrompia até mesmo os sonhos mais vagabundos de seu sono precário. Aparecia, a apontá-lo, no meio da multidão no banco todo dia dez.
Então, quando a sapeca voltou, abandonada pelo rufião, recebeu-a sem hesitar, e foi mais gentil com ela. Mas a solidão teve ciúmes: meses depois, ele passou desta para uma outra abraçado com a diáfana amante na biblioteca.
Seu amor foi ficando cada vez mais absorvente e obsessivo à medida que envelhecia. Ela sempre fora sapeca, brejeira, desde os primeiros anos; e se na juventude ele conseguia ao menos disfarçar a insegurança, na velhice lhe sobreveio uma tremedeira espiritual. Então a vigiava, tentava controlá-la, apesar de saber que era tudo em vão.
Um dia, ao retornar do carteado, encontrou-a com um homem que conhecera na internet. Expulsou-a de casa e acolheu a solidão em seu lugar.
Mas a solidão fez com ele o que debalde procurara fazer com a infiel: vigiava-o por todos os cantos, não o deixava ver tevê, interrompia até mesmo os sonhos mais vagabundos de seu sono precário. Aparecia, a apontá-lo, no meio da multidão no banco todo dia dez.
Então, quando a sapeca voltou, abandonada pelo rufião, recebeu-a sem hesitar, e foi mais gentil com ela. Mas a solidão teve ciúmes: meses depois, ele passou desta para uma outra abraçado com a diáfana amante na biblioteca.
12.6.03
Gente, como eh bom reencontrar uma amiga muito, muito querida e conversar, sem pressa, tomando uma cerveja despretensiosa.
Eis uma definicao de felicidade, eterna enquanto dura o chope -- e a noite e o dia seguinte todo depois dele, em que a gente fica embevecido e bobo.
A pena eh que provavelmente foi o meu ultimo chope do mes, jah que estou liso, leso, teso, duro, no vermelho...
Eis uma definicao de felicidade, eterna enquanto dura o chope -- e a noite e o dia seguinte todo depois dele, em que a gente fica embevecido e bobo.
A pena eh que provavelmente foi o meu ultimo chope do mes, jah que estou liso, leso, teso, duro, no vermelho...
9.6.03
2.6.03
Peguei para rever, este fim de semana, "The song remains the same", do Led Zeppelin. Na madrugada, viajei junto com os solos de Jimmy Page. O homem era mesmo um monstro da guitarra nos anos setenta. Mas, no todo, o show do Zep me pareceu "cabeça" demais. Senti falta de mais rocks rápidos.
Uma coisa me chocou (eu tinha esquecido): as cenas do grosseirão empresário Peter Grant reclamando de uma galerinha que estava vendendo pôsteres piratas da banda na entrada do Madison Square Garden, em NY. Rapaz, se fosse hoje, ele ia ter uns dez enfartes seguidos. ;-))
Uma coisa me chocou (eu tinha esquecido): as cenas do grosseirão empresário Peter Grant reclamando de uma galerinha que estava vendendo pôsteres piratas da banda na entrada do Madison Square Garden, em NY. Rapaz, se fosse hoje, ele ia ter uns dez enfartes seguidos. ;-))
30.5.03
28.5.03
27.5.03
Divertido demais este jogo que descobri através deste blog. A idéia é arrumar o quarto, escondendo todo tipo de item, até amigos, antes que seus pais abram a porta e dêem um flagra. Olhem só...
26.5.03
Publiquei hoje no caderninho uma entrevista com Michael Heim sobre o papel socipolítico dos mundos virtuais e de nossas representações dentro deles, os chamados avatares. A íntegra da entrevista está aqui, e a matéria sobre o seminário "O eu em rede", aqui.
Em tempos de "Matrix Reloaded", os mundos virtuais estão em alta. Aliás, a página pessoal de Heim fica aqui e tem links para textos interessantes.
Em tempos de "Matrix Reloaded", os mundos virtuais estão em alta. Aliás, a página pessoal de Heim fica aqui e tem links para textos interessantes.
23.5.03
"Em 1924, em "Sr. Bennett e Sra. Brown", Virgina Woolf fez sua célebre afirmação de que 'por volta de dezembro de 1910, o caráter humano mudou' -- uma formulação sem dúvida provocativa mesmo na época, com futuristas, construtivistas, etc. Hoje, ela seria apenas mais uma daquelas banalidades dramáticas usadas para vender aspiradores de pó ou promover carreiras de políticos e astros de cinema. O caráter humano -- se é que existe -- parece estar mudando a cada hora que passa, levado pelas extraordinárias exigências políticas e capacidades tecnológicas de nossa era."
(Barry Katz, da Universidade de Stanford, no seminário "O eu em rede")
(Barry Katz, da Universidade de Stanford, no seminário "O eu em rede")
20.5.03
Ainda sobre Buenos Aires: o tango é uma experiência quase indescritível e contrapõe à tristeza da alma argentina uma sensualidade dramática, opressiva e cheia de altivez. Observando os casais de bailarinos no palco e a orquestra (que ficava na parte de cima), era possível captar essas duas nuanças e sentir-se arrebatado em ambas as direções. Não por acaso, ao fim do espetáculo (na casa chamada Esquina de Carlos Gardel, um lugar com clima de anos 30, muito interessante) a platéia recebe taças de champanha. Pensei logo: é para aplacar o calor que nos assalta diante de tanta beleza.
16.5.03
Estou de volta, moçada. Estive em Buenos Aires a trabalho esta semana, onde visitei a Plaza de Mayo, vi a tumba do General San Martín, herói da independência do país em 1816, e assisti a um espetáculo inesquecível de tango no reduto boêmio de Carlos Gardel, ao lado do antigo Mercado Abasto, no coração da cidade, hoje um shopping muito bonito.
Foi emocionante passear pela elegante Recoleta e relembrar cenas protagonizadas por alguns de meus heróis literários, como o Martín e a a Alejandra Olmos de Ernesto Sábato. Em especial na madrugada, com a cabeça cheia de vinho e depois de um suculento "bife de chorizo" (vitela). Adorei a cidade e seu clima mezzo europeu.
Nos próximos posts conto mais.
Foi emocionante passear pela elegante Recoleta e relembrar cenas protagonizadas por alguns de meus heróis literários, como o Martín e a a Alejandra Olmos de Ernesto Sábato. Em especial na madrugada, com a cabeça cheia de vinho e depois de um suculento "bife de chorizo" (vitela). Adorei a cidade e seu clima mezzo europeu.
Nos próximos posts conto mais.
8.5.03
Minicontos do desconforto -- 50
Chovia e ele a abraçou longamente antes de deixá-la entrar. O táxi o esperava.
-- Você me faz bem -- sussurrou ela.
Ele não disse nada. Mas, a cada noite, queria ficar mais. Voltar para o táxi era uma tarefa hercúlea.
Até que, certa madrugada, algo aconteceu. Bateu a porta do táxi, mas não estava dentro do carro.
Ouviu-se dizer, do lado de fora: "para Copacabana". O motorista já tinha partido.
Quando o táxi chegou ao começo da Barata Ribeiro, o pobre homem virou-se e descobriu um cadáver no banco de trás.
A alma tinha ficado abraçada com ela.
Chovia e ele a abraçou longamente antes de deixá-la entrar. O táxi o esperava.
-- Você me faz bem -- sussurrou ela.
Ele não disse nada. Mas, a cada noite, queria ficar mais. Voltar para o táxi era uma tarefa hercúlea.
Até que, certa madrugada, algo aconteceu. Bateu a porta do táxi, mas não estava dentro do carro.
Ouviu-se dizer, do lado de fora: "para Copacabana". O motorista já tinha partido.
Quando o táxi chegou ao começo da Barata Ribeiro, o pobre homem virou-se e descobriu um cadáver no banco de trás.
A alma tinha ficado abraçada com ela.
2.5.03
30.4.03
Fremont, CA - April 30, 2003 -- The average Internet user has 41.1 inches -- while nearly one in five (18 percent) has six feet or more -- of messy cables cluttering up their desktop, according to a survey commissioned by Logitech. Logitech estimates that with approximately 168 million desktop computers installed in the U.S., this means about 109,000 miles worth of desktop cords, enough to cross the country 35 times, circle the earth four times, or reach halfway to the moon.
29.4.03
Passei o último fim de semana com Wal jogando games no PC. As crianças saíram com as avós e ficamos o dia inteiro de bobeira, diante do micro. Esquecemos até de comer. Mas foi divertido. Isso é que é vício. ;-))
Eu, que nos velhos tempos do XT do meu amigo Carlos Brito ficava jogando com ele uma espécie de batalha naval para geeks que o próprio Brito havia programado, reproduzindo as posições de navios nas I e II Guerras, e mais tarde ficava dando palpites no Windows 3.1 em jogos de estratégica como "Excalibur" e "The Perfect General", descobri que mudei depois de ver minha filha Jessica detonando em clássicos como "Duke Nukem" e "Crystal Caves". Só quis saber de muita carnificina, como em "Body Count", ou porrada, como em "Batman".
De qualquer modo, Wal se saiu bem melhor que eu, em praticamente todos os jogos. É... melhor voltar a queimar a mufa em jogos de estratégia ;-))
Eu, que nos velhos tempos do XT do meu amigo Carlos Brito ficava jogando com ele uma espécie de batalha naval para geeks que o próprio Brito havia programado, reproduzindo as posições de navios nas I e II Guerras, e mais tarde ficava dando palpites no Windows 3.1 em jogos de estratégica como "Excalibur" e "The Perfect General", descobri que mudei depois de ver minha filha Jessica detonando em clássicos como "Duke Nukem" e "Crystal Caves". Só quis saber de muita carnificina, como em "Body Count", ou porrada, como em "Batman".
De qualquer modo, Wal se saiu bem melhor que eu, em praticamente todos os jogos. É... melhor voltar a queimar a mufa em jogos de estratégia ;-))
24.4.03
22.4.03
Mandado pelo gente finíssima C@t. Uma viagem! Não se assustem, parece que o sistema enlouqueceu mas são apenas efeitos especiais. E eles passam ;-)
Este é o ano em que não haverá escapatória: depois que eu e dois de meus amigos de infância chegamos aos 40 ano passado, quase o resto todo vai entrar nos "enta" este ano (mais quórum para o blog da minha muito querida Sue ;-)). Como meu grande amigo Carlos Brito, que entrou na quarta década ontem. É isso aí, moçada (moçada?!)...
Descolei no feriado o DVD "Kiss Animalize", showzão que a banda fez para a MTV no fm de 1984 logo após o lançamento do disco homônimo. A formação na época: Gene Simmons, Paul Stanley, Eric Carr, Bruce Kulick. Um arraso, com muito punch e gozações de Paul com Gene no palco. Eis um DVD que vou ver "n" vezes ;-))
18.4.03
Eu devia ter postado isso há mais tempo, essa sensacional mensagem da Rosane Serro. Bem, aí vai.
"Caríssimos e adorados amigos:
Eu sei que é sexta-feira à noite e a grande maioria de vocês está fechando a edição de sábado e respirando fundo pra fechar domingo. Por isso o aviso do Subject...
Esse meu e-mail é um apelo e um convite. E como todo mundo está correndo, vou ser breve:
Os amigos brasileiros do poeta e jornalista cubano Raúl Rivero (grupo no qual essa missivista se inclui) estão se mobilizando para tentar que o governo brasileiro conceda asilo político ao escritor. Um dos maiores nomes da literatura cubana contemporânea, Raúl foi recentemente condenado num processo relâmpago, pela Justiça de Cuba, a 20 anos de prisão sob a acusação de traição.
Aos 58 anos e com problemas de saúde, Raul defende a não-violência e não merece passar o restante de sua vida numa prisão sem ter cometido nenhum crime - a não ser o de praticar um jornalismo independente. Atualmente, ele ocupa o cargo de vice-presidente do Comitê de Liberdade de Imprensa e Informação da Associação Interamericana de Imprensa. O seu trabalho de organizar uma agência de notícias independente com 40 jornalistas em Cuba - apesar da proibição que exercesse a profissão - foi premiado pela entidade Repórteres sem fronteiras e pela Universidade de Stanford.
Mas acima de tudo, o que eu queria dizer pra vocês, é que esse cara, baixo, gordo, de voz rascante, igual um Vinicius caribenho e de um humor ferino à toda prova é uma das pessoas mais fascinantes que já conheci. Em Havana, ele abria sua casa e suas cadeiras de balanço para todo jornalista que lhe batia na porta - ou que encontrasse num "Rum das cinco" na Uneac (União dos Escritores e Artistas Cubanos), como foi o meu caso. E sempre, sempre recusou qualquer presente. Um lápis gasto que fosse. Ainda que penasse com a falta de papel, canetas e fitas de máquina para trabalhar.
E no Rio de Janeiro, tenho certeza, Raúl estaria ao nosso lado no Capela, no Jobi, no Botequim, no Belmonte e onde quer que houvesse uma gargalhada, uma opinião, um sentimento, um verso, um título, uma manchete, um golpe no peito. Porque ele é um de nós.
Enfim, a maneira que estamos encontrando de encaminhar um pedido de asilo político ao governo brasileiro é coletando assinaturas num abaixo assinado eletrônico que está no site:
http://raulrivero.blogspot.com
Se vocês quiserem participar, basta clicar no "Adicione um comentário" e deixar o nome e e-mail para que possamos incluir na lista. Sabemos que será uma articulação de difícil costura mas vamos começar encaminhando esse documento ao novo embaixador brasileiro em Havana, Tilden Santiago.
No site, vocês também poderão saber mais sobre a vida de Raúl.
É isso...
Valeu, pessoal! Obrigada por me ouvirem. Hoje (e sexta à noite lá é dia pra se pedir a atenção de alguém???) ou nesses dias em que as coisas andam do avesso.
Um beijo em todos,
Rosane"
"Caríssimos e adorados amigos:
Eu sei que é sexta-feira à noite e a grande maioria de vocês está fechando a edição de sábado e respirando fundo pra fechar domingo. Por isso o aviso do Subject...
Esse meu e-mail é um apelo e um convite. E como todo mundo está correndo, vou ser breve:
Os amigos brasileiros do poeta e jornalista cubano Raúl Rivero (grupo no qual essa missivista se inclui) estão se mobilizando para tentar que o governo brasileiro conceda asilo político ao escritor. Um dos maiores nomes da literatura cubana contemporânea, Raúl foi recentemente condenado num processo relâmpago, pela Justiça de Cuba, a 20 anos de prisão sob a acusação de traição.
Aos 58 anos e com problemas de saúde, Raul defende a não-violência e não merece passar o restante de sua vida numa prisão sem ter cometido nenhum crime - a não ser o de praticar um jornalismo independente. Atualmente, ele ocupa o cargo de vice-presidente do Comitê de Liberdade de Imprensa e Informação da Associação Interamericana de Imprensa. O seu trabalho de organizar uma agência de notícias independente com 40 jornalistas em Cuba - apesar da proibição que exercesse a profissão - foi premiado pela entidade Repórteres sem fronteiras e pela Universidade de Stanford.
Mas acima de tudo, o que eu queria dizer pra vocês, é que esse cara, baixo, gordo, de voz rascante, igual um Vinicius caribenho e de um humor ferino à toda prova é uma das pessoas mais fascinantes que já conheci. Em Havana, ele abria sua casa e suas cadeiras de balanço para todo jornalista que lhe batia na porta - ou que encontrasse num "Rum das cinco" na Uneac (União dos Escritores e Artistas Cubanos), como foi o meu caso. E sempre, sempre recusou qualquer presente. Um lápis gasto que fosse. Ainda que penasse com a falta de papel, canetas e fitas de máquina para trabalhar.
E no Rio de Janeiro, tenho certeza, Raúl estaria ao nosso lado no Capela, no Jobi, no Botequim, no Belmonte e onde quer que houvesse uma gargalhada, uma opinião, um sentimento, um verso, um título, uma manchete, um golpe no peito. Porque ele é um de nós.
Enfim, a maneira que estamos encontrando de encaminhar um pedido de asilo político ao governo brasileiro é coletando assinaturas num abaixo assinado eletrônico que está no site:
http://raulrivero.blogspot.com
Se vocês quiserem participar, basta clicar no "Adicione um comentário" e deixar o nome e e-mail para que possamos incluir na lista. Sabemos que será uma articulação de difícil costura mas vamos começar encaminhando esse documento ao novo embaixador brasileiro em Havana, Tilden Santiago.
No site, vocês também poderão saber mais sobre a vida de Raúl.
É isso...
Valeu, pessoal! Obrigada por me ouvirem. Hoje (e sexta à noite lá é dia pra se pedir a atenção de alguém???) ou nesses dias em que as coisas andam do avesso.
Um beijo em todos,
Rosane"
14.4.03
Estava olhando a data de hoje e lembrei: lá se vão 91 anos do naufrágio do "Titanic". Taí uma tragédia que ficou no imaginário das pessoas. Aqui, uma lista completa de quem esteve no navio em sua única e fatídica viagem.
Excelente, excelente artigo do documentarista Michael Moore hoje no Globo. Para aqueles que andam acreditando no ramerrame que a mídia americana bushófila quer que a gente engula.
10.4.03
Bullfrog blues
(Para Gustavo de Almeida e Marlos Mendes)
No meio do ensaio, os três já meio altos de uísque, suados com a energia do rock and roll, sentiam que só faltava uma música. Mas não tinham certeza se conseguiriam tocá-la. Então, o baterista, na cara de pau, pediu ao guitarman:
-- Dá um mi aí. A nota não, um acorde, mi maior.
O guitarrista obedeceu. Tocou o mi com força, distorcido, ensangüentado: um acorde com os dentes trincados.
Aí o baterista berrou:
-- Well did you eeeveeeerrrrr!!!!
Soou o acorde de novo. Desta vez acompanhado do bordão do baixo e uma porrada do bumbo e do prato.
-- Well did you eeeveeeerrrrr!!!! -- berrou o guitarman.
Pan!
-- Well did you ev, did you ev, did you ev, did you ev, did you ev, did you ev, did you eeeeeeeeeeeverrr!!!
Slide na guitarra. Aí todo mundo se esgoelou junto:
-- Well did you ever wake up with them bullfrogs on you mind!!!!
E a música começou, e nunca um trio se pareceu tanto com uma multidão ululante.
Quando terminou, uns vinte minutos depois, os três largaram os instrumentos e foram fumar lá fora.
Ninguém disse nada, nem precisou. Estava claro que o ensaio tinha terminado.
(Para Gustavo de Almeida e Marlos Mendes)
No meio do ensaio, os três já meio altos de uísque, suados com a energia do rock and roll, sentiam que só faltava uma música. Mas não tinham certeza se conseguiriam tocá-la. Então, o baterista, na cara de pau, pediu ao guitarman:
-- Dá um mi aí. A nota não, um acorde, mi maior.
O guitarrista obedeceu. Tocou o mi com força, distorcido, ensangüentado: um acorde com os dentes trincados.
Aí o baterista berrou:
-- Well did you eeeveeeerrrrr!!!!
Soou o acorde de novo. Desta vez acompanhado do bordão do baixo e uma porrada do bumbo e do prato.
-- Well did you eeeveeeerrrrr!!!! -- berrou o guitarman.
Pan!
-- Well did you ev, did you ev, did you ev, did you ev, did you ev, did you ev, did you eeeeeeeeeeeverrr!!!
Slide na guitarra. Aí todo mundo se esgoelou junto:
-- Well did you ever wake up with them bullfrogs on you mind!!!!
E a música começou, e nunca um trio se pareceu tanto com uma multidão ululante.
Quando terminou, uns vinte minutos depois, os três largaram os instrumentos e foram fumar lá fora.
Ninguém disse nada, nem precisou. Estava claro que o ensaio tinha terminado.
4.4.03
Flashes -- IV
O toque fê-la tremer e revirar os olhos. Alta voltagem erótica. Ele se debruçou sobre ela, que o esperava sorrindo de leve, os longos cabelos negros espalhados na cabeceira. Adorava aquele corpo jovem e robusto, cheio de lugares para mordiscar. Adorava mais ainda os olhos velhacos, cheios de malícia. Quando penetrou, ela pareceu ter uma projeção astral, literalmente possuída e abandonada ao seu desejo latejante. Ao mesmo tempo, ele sentiu que pertencia a ela. Mas não por muito tempo: separaram-se dias depois, para nunca mais.
O toque fê-la tremer e revirar os olhos. Alta voltagem erótica. Ele se debruçou sobre ela, que o esperava sorrindo de leve, os longos cabelos negros espalhados na cabeceira. Adorava aquele corpo jovem e robusto, cheio de lugares para mordiscar. Adorava mais ainda os olhos velhacos, cheios de malícia. Quando penetrou, ela pareceu ter uma projeção astral, literalmente possuída e abandonada ao seu desejo latejante. Ao mesmo tempo, ele sentiu que pertencia a ela. Mas não por muito tempo: separaram-se dias depois, para nunca mais.
3.4.03
Estou terminando de reler um livro sobre Ricardo III, uma das figuras mais fascinantes e controvertidas da Inglaterra no século XV, e o último rei dos Plantagenetas. Shakespeare, escrevendo para os descendentes de seu rival vitorioso, Henry Tudor, transformou Ricardo num vilão. Mas refletindo sobre sua biografia, ele talvez tenha ficado numa situação meio sem saída antes de decidir usurpar o trono inglês em 1483. O que acabou com sua reputação foram os rumores, à época, de que ele teria mandado matar seus sobrinhos Eduardo V e Richard, duque de York, herdeiros legítimos do irmão, então com 13 e 10 anos de idade. Os dois desapareceram misteriosamente pouco depois que o tio foi coroado e a história causa celeuma até hoje.
2.4.03
Minha filha mais nova, Rebeca, ligou para o meu trabalho hoje. Ela estava com dor de ouvido e Wal a levou ao médico.
-- Pai, você acredita que o médico me enganou?
-- É mesmo, filha? Mas como foi isso?
-- Ele disse que tinha um monte de formigas no meu ouvido!
E eu me segurando para não rir:
-- Tá vendo? Você fica comendo doce e largando aí pela casa... Dá nisso!
Depois Wal me contou que ela foi pela rua perguntando: "e agora, mãe? Como vai ser para tirar as formigas do meu ouvido?" Quando a mãe explicou que o médico fizera uma brincadeira para deixá-la mais à vontade para o exame, ela ficou indignada. "Mas ele mentiu pra mim!" Típico.
Por essas e outras é quase impossível brigar com Rebeca. A gente sempre precisa se esconder para rir antes.
-- Pai, você acredita que o médico me enganou?
-- É mesmo, filha? Mas como foi isso?
-- Ele disse que tinha um monte de formigas no meu ouvido!
E eu me segurando para não rir:
-- Tá vendo? Você fica comendo doce e largando aí pela casa... Dá nisso!
Depois Wal me contou que ela foi pela rua perguntando: "e agora, mãe? Como vai ser para tirar as formigas do meu ouvido?" Quando a mãe explicou que o médico fizera uma brincadeira para deixá-la mais à vontade para o exame, ela ficou indignada. "Mas ele mentiu pra mim!" Típico.
Por essas e outras é quase impossível brigar com Rebeca. A gente sempre precisa se esconder para rir antes.
31.3.03
A atual edição do SpamZine, além de alguns minicontos deste humilde escriba, publicou textos sensacionais de Marcelo Barbão e Nelson Moraes. O primeiro trama uma vingança contra Platão por ter expulsado de sua polis ideal os poetas; o segundo escreveu um conto noir a la Brás Cubas simplesmente delicioso. Vá até o site e assine o periódico digital, distribuído por e-mail. Não custa nada.
29.3.03
28.3.03
Sobre "O pianista": é tocante a progressiva desumanização do personagem-título, interpretado por Adrien Brody. As medidas nazistas no Gueto de Varsóvia vão aumentando gradativamente até o ponto em que nada mais resta da vida dele. Mas sua redenção (suprema ironia) é quando executa com paixão um Chopin numa Varsóvia arrasada, para um capitão nazista ouvir. A cena não tem diálogos, só a expressão dos atores e a música. Foi essa cena que deu o Oscar de melhor ator a Brody.
Também vi "Chicago" (já tinha visto a peça) e gostei. O humor ácido e a sátira do texto original estão lá. E Catherine Zeta-Jones não é só um pedaço, é o mau caminho inteiro. Renée Zellwegger também está bela, mas um pouco forçada.
Também vi "Chicago" (já tinha visto a peça) e gostei. O humor ácido e a sátira do texto original estão lá. E Catherine Zeta-Jones não é só um pedaço, é o mau caminho inteiro. Renée Zellwegger também está bela, mas um pouco forçada.
26.3.03
Já está no Falaê meu novo espaço, chamado, apropriadamente, de Coluna do Cadafalso. O texto atual é o conto "No cinema", que postei aqui já faz algum tempo, e que escrevi com Crib Tanaka. Outras novidades aparecerão por lá. O nobre editor Augusto Sales já me perguntou se penso em algo para os minicontos (que também saem no SpamZine). Certamente vamos bolar alguma coisa, e logo avisarei vocês sobre os resultados.
21.3.03
Minicontos do desconforto -- 49
Ele estava dormindo e pouco sentiu o baque surdo em seu flanco -- apenas o suficiente para acordar. Era ela, que viera pegar um cobertor na estante e simplesmente desmaiara sobre o companheiro.
O mal-estar de sua amada foi passageiro. Mas não o medo desvairado que ele sentiu de perdê-la.
Depois da madrugada agitada, conciliou a custo o sono. E quando acordou, jurou que a companheira -- que, recostada no sofá, lia o jornal -- tinha se transformado numa boneca de porcelana.
Ele estava dormindo e pouco sentiu o baque surdo em seu flanco -- apenas o suficiente para acordar. Era ela, que viera pegar um cobertor na estante e simplesmente desmaiara sobre o companheiro.
O mal-estar de sua amada foi passageiro. Mas não o medo desvairado que ele sentiu de perdê-la.
Depois da madrugada agitada, conciliou a custo o sono. E quando acordou, jurou que a companheira -- que, recostada no sofá, lia o jornal -- tinha se transformado numa boneca de porcelana.
20.3.03
14.3.03
Conta-se que nos idos de 1890, certa manhã, bem cedinho, Oscar Wilde voltava da farra para sua casa na rua Tite em Chelsea, Londres, quando deu de cara com um velhinho:
-- Bom dia, senhor, eu vim cobrar os impostos.
Wilde, fingindo surpresa, retrucou:
-- Impostos? Mas por que eu deveria pagar impostos?
-- Bem... o senhor mora aqui, dorme aqui, não é? -- disse o cobrador.
-- Sim, mas o senhor vê... eu durmo tão mal...
-- Bom dia, senhor, eu vim cobrar os impostos.
Wilde, fingindo surpresa, retrucou:
-- Impostos? Mas por que eu deveria pagar impostos?
-- Bem... o senhor mora aqui, dorme aqui, não é? -- disse o cobrador.
-- Sim, mas o senhor vê... eu durmo tão mal...
13.3.03
Respostas
Por que escrevo? Porque não há mais para onde ir. Porque a solidão sussurra em meus ouvidos sem firewall às quatro da manhã. Porque tenho dificuldade de respirar. Porque só posso tê-la em sonhos sem nexo. Porque há poços de preconceitos na campina florida. Porque o tédio é o fruto amargo da virtude.
Porque minha alma não se encaixa direito no meu corpo e se debate entre as moléculas.
Por que escrevo? Porque não há mais para onde ir. Porque a solidão sussurra em meus ouvidos sem firewall às quatro da manhã. Porque tenho dificuldade de respirar. Porque só posso tê-la em sonhos sem nexo. Porque há poços de preconceitos na campina florida. Porque o tédio é o fruto amargo da virtude.
Porque minha alma não se encaixa direito no meu corpo e se debate entre as moléculas.
10.3.03
Minicontos do desconforto -- 48
Proferiu a velha frase: vou ali comprar cigarros. E logo entrou para as estatísticas dos desaparecidos. Durante anos a fio a família tentou de tudo: jornais, rádio, tv, internet, panfletos nos lugares mais insuspeitos. Por fim desistiram. E reconheceram que devia ter morrido.
E era verdade -- ele tivera uma crise de asma durante a viagem de ônibus para o fim do mundo que empreendera após passar no boteco e comprar os cigarros anunciados. Esquecera o inalador e morreu no assento 32. Como estava sem documentos, acabou na vala comum.
Acordou sobressaltado, diante de um portão celestial. Uma mesa com o livro de chegada ficava à esquerda da entrada.
-- Olá? -- chamou.
Ninguém respondeu. Até que divisou, no meio da névoa, diversos indivíduos maltrapilhos sentados junto ao muro. Aproximou-se de um deles e perguntou por São Pedro. Ouviu como resposta uma risadinha roufenha.
-- Ora, então você não sabe? Ele saiu para comprar cigarros e volta já.
Proferiu a velha frase: vou ali comprar cigarros. E logo entrou para as estatísticas dos desaparecidos. Durante anos a fio a família tentou de tudo: jornais, rádio, tv, internet, panfletos nos lugares mais insuspeitos. Por fim desistiram. E reconheceram que devia ter morrido.
E era verdade -- ele tivera uma crise de asma durante a viagem de ônibus para o fim do mundo que empreendera após passar no boteco e comprar os cigarros anunciados. Esquecera o inalador e morreu no assento 32. Como estava sem documentos, acabou na vala comum.
Acordou sobressaltado, diante de um portão celestial. Uma mesa com o livro de chegada ficava à esquerda da entrada.
-- Olá? -- chamou.
Ninguém respondeu. Até que divisou, no meio da névoa, diversos indivíduos maltrapilhos sentados junto ao muro. Aproximou-se de um deles e perguntou por São Pedro. Ouviu como resposta uma risadinha roufenha.
-- Ora, então você não sabe? Ele saiu para comprar cigarros e volta já.
7.3.03
6.3.03
Flashes -- III
O gato vivia olhando para o teto e miando sem parar. Era comum acontecer no fim da noite. O dono achava graça.
-- Por que será? -- perguntou à mulher.
-- Ele está vendo seus pensamentos -- resmungou ela. -- Eles estão sempre lá em cima, não é? De tanto você "viajar", ficou um bolo enorme de pensamentos desgarrados naquele canto ali.
Ele riu, meio desconcertado.
E nesse momento um pensamento se desgrudou de seu cocuruto e foi se instalar no canto irrequieto.
O gato miou -- e riu o sorriso do gato de Alice.
-- Viu? -- provocou a mulher.
-- Hein? O quê?
O gato vivia olhando para o teto e miando sem parar. Era comum acontecer no fim da noite. O dono achava graça.
-- Por que será? -- perguntou à mulher.
-- Ele está vendo seus pensamentos -- resmungou ela. -- Eles estão sempre lá em cima, não é? De tanto você "viajar", ficou um bolo enorme de pensamentos desgarrados naquele canto ali.
Ele riu, meio desconcertado.
E nesse momento um pensamento se desgrudou de seu cocuruto e foi se instalar no canto irrequieto.
O gato miou -- e riu o sorriso do gato de Alice.
-- Viu? -- provocou a mulher.
-- Hein? O quê?
28.2.03
Moçada, desejo um carnaval maravilhoso para todo mundo, seja folião ou "preguição" ;-)
Divirtam-se!
(PS.: a máscara faz parte de uma brincadeira da HP, aqui).
27.2.03
"Quando chegaste, os violoncelos
Que andam no ar cantaram hinos.
Estrelaram-se todos os castelos,
E até nas nuvens repicaram sinos.
Foram-se as brancas horas sem rumo
Tanto sonhadas! Ainda, ainda
Hoje os meus pobres versos perfumo
Com os beijos santos da tua vinda.
Quando te foste, estalaram cordas
Nos violoncelos e nas harpas...
E anjos disseram: – Não mais acordas,
Lírio nascido nas escarpas!
Sinos dobraram no céu e escuto
Dobres eternos na minha ermida.
E os pobres versos ainda hoje enluto
Com os beijos santos da despedida."
(Alphonsus de Guimaraens, "Poemas")
Que andam no ar cantaram hinos.
Estrelaram-se todos os castelos,
E até nas nuvens repicaram sinos.
Foram-se as brancas horas sem rumo
Tanto sonhadas! Ainda, ainda
Hoje os meus pobres versos perfumo
Com os beijos santos da tua vinda.
Quando te foste, estalaram cordas
Nos violoncelos e nas harpas...
E anjos disseram: – Não mais acordas,
Lírio nascido nas escarpas!
Sinos dobraram no céu e escuto
Dobres eternos na minha ermida.
E os pobres versos ainda hoje enluto
Com os beijos santos da despedida."
(Alphonsus de Guimaraens, "Poemas")
26.2.03
Da CNN.com.br:
"Padre alemão usa máquina de lavar roupas para fabricar cerveja
BERLIM -- Um padre católico alemão inventou um jeito original para produzir cerveja: utilizando uma de máquina de lavar roupas.
Michael Fey, que vive na cidade Duisburgo, região oeste da Alemanha, desenvolveu a idéia de transformar sua lavadora de 35 anos em uma máquina para fermentar cerveja com o objetivo de oferecer a bebida mais barata para os jovens que participam dos encontros que organiza.
-- Tudo o que precisava era de algum lugar no qual pudesse misturar e aquecer os ingredientes -- disse Fey, de 45 anos. -- Então, por que não a máquina de lavar?
De acordo com Fey, que disse produzir 20 litros de cerveja em 10 horas, seu método nada ortodoxo de fabricar cerveja o leva a pensar em experimentar novos sabores."
Comentário: pelo andar da carruagem, no futuro já poderemos falar que alguma cerveja não é "nenhuma Brastemp"...
"Padre alemão usa máquina de lavar roupas para fabricar cerveja
BERLIM -- Um padre católico alemão inventou um jeito original para produzir cerveja: utilizando uma de máquina de lavar roupas.
Michael Fey, que vive na cidade Duisburgo, região oeste da Alemanha, desenvolveu a idéia de transformar sua lavadora de 35 anos em uma máquina para fermentar cerveja com o objetivo de oferecer a bebida mais barata para os jovens que participam dos encontros que organiza.
-- Tudo o que precisava era de algum lugar no qual pudesse misturar e aquecer os ingredientes -- disse Fey, de 45 anos. -- Então, por que não a máquina de lavar?
De acordo com Fey, que disse produzir 20 litros de cerveja em 10 horas, seu método nada ortodoxo de fabricar cerveja o leva a pensar em experimentar novos sabores."
Comentário: pelo andar da carruagem, no futuro já poderemos falar que alguma cerveja não é "nenhuma Brastemp"...
25.2.03
O cinema
Crib Tanaka e André Machado
De repente percebeu que estava só. E que assim sempre seria. Como naquela música.
Entrou no cinema para ver a sessão das duas horas. Um filme mexicano. Sentiu-se incomodada por não ter nada nas mãos pra ocupar o lugar de seu constrangimento. Comprou então o maior saco de pipoca. Dois reais. E um refrigerante médio.
Sentou-se no meio. Na fila do meio, na cadeira do meio, no meio do cinema. Afundou um pouco o corpo na cadeira de couro vermelha. No primeiro gole que deu, o barulho ecoou.
É sempre assim. Quando acaba o trailer, na hora do silêncio, alguém tosse, abre saquinho de amendoim. Ou o celular toca.
Olhou em volta e percebeu que não havia niguém. Aspirou um ufa.
Começou então a comer a pipoca sem se preocupar com o barulho que poderia fazer. Nem com o fato de alguém poder vê-la enfiando o dedo na boca para tirar pelinhas.
A primeira cena do filme era um assassinato tão brutal que ela saltou na cadeira e derramou metade do refrigerante.
Alguém deu uma gargalhada gutural.
Ela olhou em volta de novo, sobressaltada. Ninguém. Mas não vou fazer como esses personagens idiotas de filme de terror, pensou. Vou sair daqui agora mesmo. Levantou-se e derrubou as pipocas à medida que saía da fileira de cadeiras, meio atabalhoada. Tropeçou e caiu sentada.
Nova gargalhada. Parecia cada vez mais perto.
-- Socorro! -- O grito saiu de suas entranhas agudo e quebrado. Enrubesceu de vergonha. Mas gritou de novo.
As luzes se acenderam. O lanterninha entrou correndo. Perguntou se ela estava bem.
Ela não respondeu. Olhava em volta. Exceto pela fileira onde se sentara, o cinema estava lotado. Então, onde estivera? Jurava que estava tudo vazio.
Tinha mais. Agora o filme era outro. Uma comédia romântica, bem leve.
Saiu dali desorientada. A história nunca mais lhe saiu da cabeça. Imaginou que tivera uma alucinação de algum tipo.
Muitos anos mais tarde, bem velhinha e já um pouco desmemoriada, voltou ao mesmo cinema para ver um drama. Sentou-se com o marido ao lado e conversavam baixinho quando ele puf! desapareceu no ar.
Ela teve um calafrio ao compreender que ele se sentara exatamente na fila do meio, na cadeira do meio, no meio do cinema. E que -- só podia ser -- existia ali algum tipo de portal, de vórtice, entre mundos, tempos ou dimensões.
Depois de hesitar, tomou coragem e sentou-se na cadeira. Pensou ver o marido flutuando em algum ponto da viagem, mas estava tudo embaçado. Até que caiu no chão de um cinema vazio.
Viu então uma moça com um saco de pipoca grande e um refrigerante médio sentada na fila do meio. Mas que ironia.
No escuro, perdeu o ponto preciso onde aterrissara. Compreendeu que não saberia como voltar. Achou um conjunto de interruptores, mas nenhum deles acendia a luz.
Começou a chorar baixinho, arfando, tremendo de terror, cada vez mais histérica.
Então, no limite de seu sistema nervoso, soltou uma gargalhada.
Uma gargalhada gutural.
Crib Tanaka e André Machado
De repente percebeu que estava só. E que assim sempre seria. Como naquela música.
Entrou no cinema para ver a sessão das duas horas. Um filme mexicano. Sentiu-se incomodada por não ter nada nas mãos pra ocupar o lugar de seu constrangimento. Comprou então o maior saco de pipoca. Dois reais. E um refrigerante médio.
Sentou-se no meio. Na fila do meio, na cadeira do meio, no meio do cinema. Afundou um pouco o corpo na cadeira de couro vermelha. No primeiro gole que deu, o barulho ecoou.
É sempre assim. Quando acaba o trailer, na hora do silêncio, alguém tosse, abre saquinho de amendoim. Ou o celular toca.
Olhou em volta e percebeu que não havia niguém. Aspirou um ufa.
Começou então a comer a pipoca sem se preocupar com o barulho que poderia fazer. Nem com o fato de alguém poder vê-la enfiando o dedo na boca para tirar pelinhas.
A primeira cena do filme era um assassinato tão brutal que ela saltou na cadeira e derramou metade do refrigerante.
Alguém deu uma gargalhada gutural.
Ela olhou em volta de novo, sobressaltada. Ninguém. Mas não vou fazer como esses personagens idiotas de filme de terror, pensou. Vou sair daqui agora mesmo. Levantou-se e derrubou as pipocas à medida que saía da fileira de cadeiras, meio atabalhoada. Tropeçou e caiu sentada.
Nova gargalhada. Parecia cada vez mais perto.
-- Socorro! -- O grito saiu de suas entranhas agudo e quebrado. Enrubesceu de vergonha. Mas gritou de novo.
As luzes se acenderam. O lanterninha entrou correndo. Perguntou se ela estava bem.
Ela não respondeu. Olhava em volta. Exceto pela fileira onde se sentara, o cinema estava lotado. Então, onde estivera? Jurava que estava tudo vazio.
Tinha mais. Agora o filme era outro. Uma comédia romântica, bem leve.
Saiu dali desorientada. A história nunca mais lhe saiu da cabeça. Imaginou que tivera uma alucinação de algum tipo.
Muitos anos mais tarde, bem velhinha e já um pouco desmemoriada, voltou ao mesmo cinema para ver um drama. Sentou-se com o marido ao lado e conversavam baixinho quando ele puf! desapareceu no ar.
Ela teve um calafrio ao compreender que ele se sentara exatamente na fila do meio, na cadeira do meio, no meio do cinema. E que -- só podia ser -- existia ali algum tipo de portal, de vórtice, entre mundos, tempos ou dimensões.
Depois de hesitar, tomou coragem e sentou-se na cadeira. Pensou ver o marido flutuando em algum ponto da viagem, mas estava tudo embaçado. Até que caiu no chão de um cinema vazio.
Viu então uma moça com um saco de pipoca grande e um refrigerante médio sentada na fila do meio. Mas que ironia.
No escuro, perdeu o ponto preciso onde aterrissara. Compreendeu que não saberia como voltar. Achou um conjunto de interruptores, mas nenhum deles acendia a luz.
Começou a chorar baixinho, arfando, tremendo de terror, cada vez mais histérica.
Então, no limite de seu sistema nervoso, soltou uma gargalhada.
Uma gargalhada gutural.
24.2.03
Do jeito que a coisa vai, daqui a uns cem anos os jovens brasileiros ouvirão falar das cidades sem lei do "Velho Sudeste", com tiroteios nas ruas, bares e boates cheios de valentões e xerifes incompetentes. O Rio daqui a pouco vai poder ser rebatizado como Tombstone.
Enquanto isso, só se pensa nos quatro dias de folia. Folia de quem, cara-pálida? E cá entre nós, ainda tem motivo para algum tipo de alegria coletiva no Sambódromo?
Pensando bem, na verdade tem. As câmeras de televisão e a platéia de turistas. (Atenção: isto foi uma ironia).
Enquanto isso, só se pensa nos quatro dias de folia. Folia de quem, cara-pálida? E cá entre nós, ainda tem motivo para algum tipo de alegria coletiva no Sambódromo?
Pensando bem, na verdade tem. As câmeras de televisão e a platéia de turistas. (Atenção: isto foi uma ironia).
22.2.03
Conversas -- IV
-- Estou com um problema.
-- Fala.
-- Adoro minha namorada. Mas ela não me conhece.
-- Como é?
-- Quero dizer, ela não sabe da metade do que se passa na minha cabeça.
-- Vai por mim, meu chapa, é melhor assim. Se elas sabem tudo, o amor acaba na hora.
Risos.
Chegam mais dois chopes.
-- Mas olha, vou explicar melhor. Tem esses negócios que eu escrevo... verdadeiros chafarizes da alma...
-- Você e esses seus termos...
-- Dá para entender, não dá? São aqueles questionamentos, aquelas inquietações que de vez em quando passam pelo cérebro. Como aqueles calafrios inesperados que todo mundo tem.
-- Sei.
-- Pois é. Tenho algumas amigas maravilhosas, com quem compartilho esses escritos mais viajantes. E existe um clima especial com essas amigas que não existe com ela.
-- É, mas com ela existe o sexo.
-- É. É isso aí. Existe a carne, e é ótima. Mas o pouco de romance, de viagem, que a gente tinha no começo já era, sacou?
-- E você imagina poder juntar seus escritos da alma com a mulher que conhece o seu corpo.
-- Mais ou menos isso aí. Cara, o que eu queria era uma mulher que me sacasse por inteiro, que realmente compartilhasse de minhas inquietações... Por isso fico tão fascinado com minhas amigas, tenho verdadeira paixão por elas. Se uma delas me quisesse como homem, seria o melhor dos dois mundos. Mas sinto que é meio tarde para apresentar esse outro mundo, esse outro eu, a minha namorada.
-- Ela vai achar que você é maluco, se eu a conheço um pouco.
-- É disso que eu tenho medo. Nossa história teve poesia, é claro, mas como em toda história longa, isso ficou para trás. E o que eu escrevo agora é diferente. É visceral...
-- Você pode tentar mostrar a ela. Mas, francamente, acho que seu sonho é impossível. Conciliar o amor intelectual com o carnal, o cotidiano, é foda. E, mesmo que acontecesse algo entre você e uma de suas amigas, com o tempo sua relação com ela se pareceria com a que você leva com sua namorada hoje. E isso sem falar que para sua namorada pode ser a mesma coisa, você pode não saber metade do que se passa na cabeça dela.
-- Você tem razão. Mas deveria ser possível uma relação em que os encantamentos não cessassem, em que as pessoas fossem capazes de se surpreender, de olhar para o outro todas as manhãs como se ele fosse um estranho e você tivesse vontade de dizer olá e se apresentar, tentar a sedução...
-- Talvez isso seja possível. Mas certamente é um bocado difícil. O tempo tira os encantos do corpo, e nós mesmos nos encarregamos de pôr minhocas em nossas mentes...
Silêncio contemplativo.
-- Você está ficando mais filosófico que eu, cara. Isso é preocupante.
-- Para você ver a má influência que você é. Mas isso tem remédio. Garçom!...
-- Estou com um problema.
-- Fala.
-- Adoro minha namorada. Mas ela não me conhece.
-- Como é?
-- Quero dizer, ela não sabe da metade do que se passa na minha cabeça.
-- Vai por mim, meu chapa, é melhor assim. Se elas sabem tudo, o amor acaba na hora.
Risos.
Chegam mais dois chopes.
-- Mas olha, vou explicar melhor. Tem esses negócios que eu escrevo... verdadeiros chafarizes da alma...
-- Você e esses seus termos...
-- Dá para entender, não dá? São aqueles questionamentos, aquelas inquietações que de vez em quando passam pelo cérebro. Como aqueles calafrios inesperados que todo mundo tem.
-- Sei.
-- Pois é. Tenho algumas amigas maravilhosas, com quem compartilho esses escritos mais viajantes. E existe um clima especial com essas amigas que não existe com ela.
-- É, mas com ela existe o sexo.
-- É. É isso aí. Existe a carne, e é ótima. Mas o pouco de romance, de viagem, que a gente tinha no começo já era, sacou?
-- E você imagina poder juntar seus escritos da alma com a mulher que conhece o seu corpo.
-- Mais ou menos isso aí. Cara, o que eu queria era uma mulher que me sacasse por inteiro, que realmente compartilhasse de minhas inquietações... Por isso fico tão fascinado com minhas amigas, tenho verdadeira paixão por elas. Se uma delas me quisesse como homem, seria o melhor dos dois mundos. Mas sinto que é meio tarde para apresentar esse outro mundo, esse outro eu, a minha namorada.
-- Ela vai achar que você é maluco, se eu a conheço um pouco.
-- É disso que eu tenho medo. Nossa história teve poesia, é claro, mas como em toda história longa, isso ficou para trás. E o que eu escrevo agora é diferente. É visceral...
-- Você pode tentar mostrar a ela. Mas, francamente, acho que seu sonho é impossível. Conciliar o amor intelectual com o carnal, o cotidiano, é foda. E, mesmo que acontecesse algo entre você e uma de suas amigas, com o tempo sua relação com ela se pareceria com a que você leva com sua namorada hoje. E isso sem falar que para sua namorada pode ser a mesma coisa, você pode não saber metade do que se passa na cabeça dela.
-- Você tem razão. Mas deveria ser possível uma relação em que os encantamentos não cessassem, em que as pessoas fossem capazes de se surpreender, de olhar para o outro todas as manhãs como se ele fosse um estranho e você tivesse vontade de dizer olá e se apresentar, tentar a sedução...
-- Talvez isso seja possível. Mas certamente é um bocado difícil. O tempo tira os encantos do corpo, e nós mesmos nos encarregamos de pôr minhocas em nossas mentes...
Silêncio contemplativo.
-- Você está ficando mais filosófico que eu, cara. Isso é preocupante.
-- Para você ver a má influência que você é. Mas isso tem remédio. Garçom!...
21.2.03
Come forward O my soul, and let the rest retire,
Listen, lose not, it is toward thee they tend,
Parting the midnight, entering my slumber-chamber,
For thee they sing and dance O soul.
(...)
Now airs antique and mediaeval fill me,
I see and hear old harpers with their harps at Welsh festivals,
I hear the minnesingers singing their lays of love,
I hear the minstrels, gleemen, troubadours, of the middle ages.
(Walt Whitman, "Proud music of the storm")
Listen, lose not, it is toward thee they tend,
Parting the midnight, entering my slumber-chamber,
For thee they sing and dance O soul.
(...)
Now airs antique and mediaeval fill me,
I see and hear old harpers with their harps at Welsh festivals,
I hear the minnesingers singing their lays of love,
I hear the minstrels, gleemen, troubadours, of the middle ages.
(Walt Whitman, "Proud music of the storm")
20.2.03
Crib Tanaka me enviou este interessantíssimo texto do professor de História Said Barbosa Dib, que analisa as razões econômicas da guerra iminente EUA-Iraque e o outro lado da moeda. Não concordo com sua visão sobre Bush, mas seu exame do quatro internacional vale uma boa lida.
"Não são justas as análises simplificadoras e ingênuas da mídia que colocam o presidente George W. Bush como um monstro ou um energúmeno sanguinário. Mesmo que seu intelecto não seja dos mais geniais, ele não é, definitivamente, um camarada mau nem bobo. Pelo contrário, é um cidadão patriota que está tentando salvar os EUA da bancarrota, impedir a queda do Império sob seu comando. Digo isto porque, ao contrário do que se fala, o governo norte-americano está totalmente desesperado com a ruína iminente da sua economia. Segundo W. Clark, do jornal "Indy Time", o temor do Federal Reserve (Banco Central americano) é de que a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), nas suas transações internacionais, abandone o padrão dólar e adote definitivamente o euro. O Iraque fez esta mudança em novembro de 2000 - quando o euro valia cerca de US$ 0,80 - e escapou ileso da depreciação do dólar frente à moeda européia (o dólar caiu 15% em relação ao euro em 2002). Essa informação, se analisada por aqueles que conhecem os problemas estruturais do sistema de Breton Woods e as atuais limitações energéticas dos norte-americanos, coloca em dúvida a hegemonia do dólar no mundo e explica a razão pela qual a administração Bush quer, desesperadamente, um regime servil na história da Mesopotâmia. Se o presidente norte-americano tiver sucesso, o Iraque voltará ao padrão dólar, não correndo o risco de servir de modelo alternativo para outros países dependentes como o Brasil. É por essa razão que o governo norte-americano, ao mesmo tempo, espera também vetar qualquer movimento mais vasto da Opep em direção ao euro. Por isso, essa informação é tratada quase como um segredo de Estado, pois governos dependentes como o nosso, que apostaram tudo no modelo neoliberal, iriam para o fundo do poço junto com seus chefes norte-americanos. Isso porque os países consumidores de petróleo teriam de despejar dólares das reservas dos seus bancos centrais - atualmente submetidos ao FMI- e substitui-los por euros. O dólar entraria em crash com uma desvalorização da ordem de 20% a 40% e as conseqüências, em termos de colapso das divisas e inflação maciça, podem ser imaginadas. Pense-se em algo como a crise Argentina em escala planetária, por exemplo. Na verdade, o que permeia toda essa discussão é a chamada "crise dos combustíveis fósseis". O físico e pensador Batista Vidal lembra que "as reservas de petróleo estão extremamente concentradas em poucos pontos do planeta, pois o total descoberto no mundo está situado em vinte campos supergigantes". Assim, na ótica do Primeiro Mundo, se os atuais países em desenvolvimento realmente se desenvolvessem, o Mundo teria ou que descobrir meia dúzia de campos supergigantes ou o petróleo acabaria em 10 ou 15 anos. Por isso, o sistema de poder financeiro mundial, subjugado pelo padrão dólar, está completamente desacreditado, falido. Os bancos estão caindo aos pedaços em todos os países ditos desenvolvidos, principalmente nos Estados Unidos e Japão. Prevê-se um colapso a qualquer momento. Agora o que sustenta isso? Devido à ocupação militar no Oriente Médio - ampliada a partir da crise do petróleo da década de 70 -, mesmo com o déficit público monstruoso dos EUA, o dólar inflacionado compra artificialmente o petróleo, base de toda a economia americana e ocidental. Portanto, Saddam selou o seu destino quando, em fins de 2000, decidiu mudar para o euro. A partir daquele momento, uma outra Guerra do Golfo tornava-se um imperativo para Bush Jr.. Ou seja, o que está em jogo não é nem o caráter texano caricato de Bush, nem uma questão de segurança nacional norte-americana, mas a continuidade da falácia do dólar. E essa informação é censurada pela imprensa norte-americana e suas vassalas tupiniquins, bem como pela administração Bush, pois pode potencialmente reduzir a confiança dos investidores e dos consumidores, criar pressão política para formação de uma nova política energética que gradualmente nos afaste do petróleo do Oriente Médio e da órbita anglo-americana e fazer com que projetos como o nosso Pró-Álcool mostrem sua força.
PS: é por isso que a Alemanha, defensora ferrenha do Euro, é terminantemente contra a guerra, e é por isso que a Inglaterra, que não adotou o Euro em seu país é a favor da guerra."
"Não são justas as análises simplificadoras e ingênuas da mídia que colocam o presidente George W. Bush como um monstro ou um energúmeno sanguinário. Mesmo que seu intelecto não seja dos mais geniais, ele não é, definitivamente, um camarada mau nem bobo. Pelo contrário, é um cidadão patriota que está tentando salvar os EUA da bancarrota, impedir a queda do Império sob seu comando. Digo isto porque, ao contrário do que se fala, o governo norte-americano está totalmente desesperado com a ruína iminente da sua economia. Segundo W. Clark, do jornal "Indy Time", o temor do Federal Reserve (Banco Central americano) é de que a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), nas suas transações internacionais, abandone o padrão dólar e adote definitivamente o euro. O Iraque fez esta mudança em novembro de 2000 - quando o euro valia cerca de US$ 0,80 - e escapou ileso da depreciação do dólar frente à moeda européia (o dólar caiu 15% em relação ao euro em 2002). Essa informação, se analisada por aqueles que conhecem os problemas estruturais do sistema de Breton Woods e as atuais limitações energéticas dos norte-americanos, coloca em dúvida a hegemonia do dólar no mundo e explica a razão pela qual a administração Bush quer, desesperadamente, um regime servil na história da Mesopotâmia. Se o presidente norte-americano tiver sucesso, o Iraque voltará ao padrão dólar, não correndo o risco de servir de modelo alternativo para outros países dependentes como o Brasil. É por essa razão que o governo norte-americano, ao mesmo tempo, espera também vetar qualquer movimento mais vasto da Opep em direção ao euro. Por isso, essa informação é tratada quase como um segredo de Estado, pois governos dependentes como o nosso, que apostaram tudo no modelo neoliberal, iriam para o fundo do poço junto com seus chefes norte-americanos. Isso porque os países consumidores de petróleo teriam de despejar dólares das reservas dos seus bancos centrais - atualmente submetidos ao FMI- e substitui-los por euros. O dólar entraria em crash com uma desvalorização da ordem de 20% a 40% e as conseqüências, em termos de colapso das divisas e inflação maciça, podem ser imaginadas. Pense-se em algo como a crise Argentina em escala planetária, por exemplo. Na verdade, o que permeia toda essa discussão é a chamada "crise dos combustíveis fósseis". O físico e pensador Batista Vidal lembra que "as reservas de petróleo estão extremamente concentradas em poucos pontos do planeta, pois o total descoberto no mundo está situado em vinte campos supergigantes". Assim, na ótica do Primeiro Mundo, se os atuais países em desenvolvimento realmente se desenvolvessem, o Mundo teria ou que descobrir meia dúzia de campos supergigantes ou o petróleo acabaria em 10 ou 15 anos. Por isso, o sistema de poder financeiro mundial, subjugado pelo padrão dólar, está completamente desacreditado, falido. Os bancos estão caindo aos pedaços em todos os países ditos desenvolvidos, principalmente nos Estados Unidos e Japão. Prevê-se um colapso a qualquer momento. Agora o que sustenta isso? Devido à ocupação militar no Oriente Médio - ampliada a partir da crise do petróleo da década de 70 -, mesmo com o déficit público monstruoso dos EUA, o dólar inflacionado compra artificialmente o petróleo, base de toda a economia americana e ocidental. Portanto, Saddam selou o seu destino quando, em fins de 2000, decidiu mudar para o euro. A partir daquele momento, uma outra Guerra do Golfo tornava-se um imperativo para Bush Jr.. Ou seja, o que está em jogo não é nem o caráter texano caricato de Bush, nem uma questão de segurança nacional norte-americana, mas a continuidade da falácia do dólar. E essa informação é censurada pela imprensa norte-americana e suas vassalas tupiniquins, bem como pela administração Bush, pois pode potencialmente reduzir a confiança dos investidores e dos consumidores, criar pressão política para formação de uma nova política energética que gradualmente nos afaste do petróleo do Oriente Médio e da órbita anglo-americana e fazer com que projetos como o nosso Pró-Álcool mostrem sua força.
PS: é por isso que a Alemanha, defensora ferrenha do Euro, é terminantemente contra a guerra, e é por isso que a Inglaterra, que não adotou o Euro em seu país é a favor da guerra."
19.2.03
Em 1982, Michael Jackson batia todos os recordes do pop com o disco "Thrilller". Vinte anos depois, ele ficou reduzido... a isso. ;-)
Flashes -- II
Ele sentou-se à mesa sob o ar-condicionado para esperá-la mais sossegadamente. Então pediu uma taça de vinho espumante e bolinhos crocantes de carne tenra. Qual Proust, foi teleportado a outras paragens enquanto aguardava. Quando ela chegou, perguntou, sorrindo, se estava cochilando. A resposta, imediata, foi a de que jamais estivera tão desperto.
Ele sentou-se à mesa sob o ar-condicionado para esperá-la mais sossegadamente. Então pediu uma taça de vinho espumante e bolinhos crocantes de carne tenra. Qual Proust, foi teleportado a outras paragens enquanto aguardava. Quando ela chegou, perguntou, sorrindo, se estava cochilando. A resposta, imediata, foi a de que jamais estivera tão desperto.
18.2.03
14.2.03
"Assim, para quem ama, o amor, por muito tempo e pela vida afora, é solidão, isolamento, cada vez mais intenso e profundo. O amor, antes de tudo, não é o que se chama entregar-se, confundir-se, unir-se a outra pessoa. (...) O amor é uma ocasião sublime para o indivíduo amadurecer, tornar-se algo por si mesmo, tornar-se um mundo para si, por causa de um outro ser: é uma grande e ilimitada exigência que se lhe faz, uma escolha e um chamado para longe."
Maravilhoso parágrafo de Lou-Andreas Salomé, citada pela querida AngelBlue.
Maravilhoso parágrafo de Lou-Andreas Salomé, citada pela querida AngelBlue.
13.2.03
Já que o português anda desvirtuado mesmo, vamos rebatizar nossos bairros de uma vez... Alguns naquele inglês castiço de "The cow went to the swamp" ;-)))
Big Field - Campo Grande
Little Field - Campinho
Nice to meet you - Encantado
Will go now - Irajá
To walk there - Andaraí
Dry Square - Praça Seca
Set fire - Botafogo
Costumers - Freguesia
Very very holy - Santíssimo
Wait a minute - Paciência
Setting free - Livramento
Good Success - Bonsucesso
Very deep island - Ilha do Fundão
Grandson Rabbit - Coelho Neto
High School - Colégio
Funny view - Vista Alegre
Hard Cover - Cascadura
Mercy - Piedade
Well stay - Benfica
Bless you - Saúde
Flag Square - Praça da Bandeira
Flagmen Funtime - Recreio dos Bandeirantes
Small Farm - Rocinha
Change - Muda
All of the Saints - Todos os Santos
Mary of Grace - Maria da Graça
Holy Cross - Santa Cruz
Hello smile - Olaria
Mango Tree - Mangueira
Inside Mill - Engenho de Dentro
New Mill - Engenho Novo
Alligator to the water - Jacarepaguá
Big Field - Campo Grande
Little Field - Campinho
Nice to meet you - Encantado
Will go now - Irajá
To walk there - Andaraí
Dry Square - Praça Seca
Set fire - Botafogo
Costumers - Freguesia
Very very holy - Santíssimo
Wait a minute - Paciência
Setting free - Livramento
Good Success - Bonsucesso
Very deep island - Ilha do Fundão
Grandson Rabbit - Coelho Neto
High School - Colégio
Funny view - Vista Alegre
Hard Cover - Cascadura
Mercy - Piedade
Well stay - Benfica
Bless you - Saúde
Flag Square - Praça da Bandeira
Flagmen Funtime - Recreio dos Bandeirantes
Small Farm - Rocinha
Change - Muda
All of the Saints - Todos os Santos
Mary of Grace - Maria da Graça
Holy Cross - Santa Cruz
Hello smile - Olaria
Mango Tree - Mangueira
Inside Mill - Engenho de Dentro
New Mill - Engenho Novo
Alligator to the water - Jacarepaguá
12.2.03
A propósito, quer saber o que vai mesmo acontecer quando a guerra começar? Dê uma olhada neste joguinho em inglês que Mestre C@t mandou para a sua lista...
10.2.03
Sexta-feira, por volta de nove e meia da noite. Eu e Elis Monteiro estamos indo embora da redação depois do fechamento do caderninho. Entramos no elevador, onde já havia mais três pessoas, e pouco depois de ele começar a descer, pimba! acende-se uma luz de emergência no teto ao mesmo tempo que o elevador dá um solavanco e pára. Que ótimo. Presos no elevador numa véspera de sábado (e isso depois de todos os azares que a Elisinha tem tido ultimamente: torceu o pé, enguiçou com o carro na ponte, perdeu a voz uns três dias... ). Tivemos que rir da ironia da situação. Toquei o botão de emergência, que mais parecia um cacarejo ou um efeito de música funk. Ninguém ouviu. Batemos na porta. Ninguém ouviu. Gritamos. Nada. Elis pegou o celular e ligou para a redação, avisando do ocorrido. Depois, ligou para a portaria. Foi quando ouvimos o telefone tocando do outro lado da porta e resolvi tentar abri-la. Logo recebi ajuda de outro ocupante do elevador e conseguimos abrir a porta. Estávamos um pouco acima do nível do chão da portaria, e foi possível pular sem problemas. Ufa!
7.2.03
Telefonei esta semana para uma amiga muito querida, para matar as saudades (não a vejo há uns dois meses). E foi bom conversar, ainda que rapidamente. Você percebe que uma pessoa mexe com seu íntimo quando se emociona apenas por ouvir a voz dela atendendo o telefone. Parece bobagem, mas eu garanto que não é.
5.2.03
Deu na "Wired":
No One Asked Why He Wanted to Die (Culture 2:00 a.m. PDT)
A troubled young man's downward spiral before committing suicide is
chronicled in posts to an online message board whose participants give
him suggestions about how to kill himself. Is the website responsible
for his death?
No One Asked Why He Wanted to Die (Culture 2:00 a.m. PDT)
A troubled young man's downward spiral before committing suicide is
chronicled in posts to an online message board whose participants give
him suggestions about how to kill himself. Is the website responsible
for his death?
4.2.03
Minicontos do desconforto -- 47
Mentiu tanto para ela que a relação dos dois virou uma farsa. Parecia a seqüência de filmes de 007: quanto mais elaboradas e absurdas as mentiras, mais divertido. Até que um dia, penitente, ele disse a verdade nua em pêlo.
Ela jogou as pipocas e o refrigerante em sua cabeça e saiu no meio da sessão.
Ele jurou a si mesmo nunca mais dizer a verdade. Anos mais tarde, virou parlamentar.
Mentiu tanto para ela que a relação dos dois virou uma farsa. Parecia a seqüência de filmes de 007: quanto mais elaboradas e absurdas as mentiras, mais divertido. Até que um dia, penitente, ele disse a verdade nua em pêlo.
Ela jogou as pipocas e o refrigerante em sua cabeça e saiu no meio da sessão.
Ele jurou a si mesmo nunca mais dizer a verdade. Anos mais tarde, virou parlamentar.
31.1.03
Vou tomar uma cerveja hoje com meu grande amigo Octavius Britus, um sábio em muitas áreas. Há milênios não nos vemos, devido aos desencontros de trabalhos e viagens. Espero que ele tome vergonha e algum dia mande alguns de seus poemas para eu publicar no Cadafalso I.
"Of what a strange nature is knowledge! It clings to the mind, when it has once seized on it, like a lichen on the rock. I wished sometimes to shake off all thought and feeling; but I learned that there was but one means to overcome the sensation of pain, and that was death--a state which I feared yet did not understand."
(Mary Shelley, "Frankenstein")
(Mary Shelley, "Frankenstein")
30.1.03
Vou confessar uma coisa: estou doido para este mês de janeiro acabar e ver se fevereiro traz fluidos mais simpáticos. O mês foi um horror para mim em todos os sentidos. Estou precisando espairecer, com urgência. A família de Wal toda está lá em casa (minha segunda sobrinha está para nascer, e como o pessoal mora longe, precisa fazer um pit-stop por lá), Wal anda uma pilha de nervos e acaba sobrando para mim (logo eu, que não gosto de levar desaforo para lugar nenhum...). Já deu para sentir o clima, né? E não posso nem falar nada, porque, se não fossem minha sogra e minha cunhada, eu ia ficar sem grana mesmo este mês.
Mas que dá um desânimo, lá isso dá. Meu consolo é ir trabalhar. Mas desde quando trabalho é calmante? Senhor, dai-me paciência e equilíbrio.
Mas que dá um desânimo, lá isso dá. Meu consolo é ir trabalhar. Mas desde quando trabalho é calmante? Senhor, dai-me paciência e equilíbrio.
29.1.03
Tive uma experiência com o Multishow semelhante à que o Gustones teve tempos atrás. Resolvi gravar o show "Kiss: The Last Kiss", que a banda deu em Nova Jersey em 27 de junho de 2000, na última segunda-feira. Mal começou o programa -- tocou só uma música, "Detroit Rock City" -- e entrou um aviso "Interrompemos este programa para exibir o Big Brother Brasil. Dentro de vinte minutos voltaremos à programação normal". Fui tomado por um acesso de fúria e por pouco não joguei tudo no quintal de casa: televisão, set-top box da Net, o escambau. Felizmente estava assistindo enquanto gravava e dei um pause bem na hora. E felizmente, de novo, depois do BBB (que não vi, é óbvio. Troquei de canal na hora) o show recomeçou do exato ponto em que havia parado e foi até o fim. Agora, vem cá, se eles têm que exibir os vinte minutos desta porcaria de reality (realidade? onde?) show, porque não iniciam os programas do horário um pouquinho mais tarde e avisam seus telespectadores? Mas não, têm que interromper a qualquer minuto a programação, como se aquela merda do BBB fosse alguma notícia importante de última hora, e nos deixar à mercê do brilhantismo intelectual dos participantes.
D'après Patricia Kogut, aqui vai minha nota: zero mil zerocentos e zerenta e zero.
* * *
E a Warner ontem, que exibiu seus episódios de "Friends" sem legendas? Tá bom que a gente já tem um monte de palavras em inglês embutidas na língua, mas isso é ridículo. Esses canais não têm o mínimo respeito pelo assinante. E isso tudo sem falar dos anúncios sobre "novas temporadas" em meio a episódios repetidos à exaustão. No Sony é a mesma coisa. Nota zero absoluto Kelvin.
D'après Patricia Kogut, aqui vai minha nota: zero mil zerocentos e zerenta e zero.
* * *
E a Warner ontem, que exibiu seus episódios de "Friends" sem legendas? Tá bom que a gente já tem um monte de palavras em inglês embutidas na língua, mas isso é ridículo. Esses canais não têm o mínimo respeito pelo assinante. E isso tudo sem falar dos anúncios sobre "novas temporadas" em meio a episódios repetidos à exaustão. No Sony é a mesma coisa. Nota zero absoluto Kelvin.
27.1.03
Minicontos do desconforto -- 45
-- O próximo -- disse o velho no portão.
Ele levantou-se e tocou um blues lento.
-- Só isso? -- perguntou o velho.
Ele apontou para cima. O velho olhou.
Todos os os anjos haviam parado de cantar e tocar suas liras e estavam ouvindo. Todos choravam (por isso choveu tanto no Mississippi aquela semana).
Então Pedro deixou o guitarman entrar. E Deus deu-lhe uma garrafa de uísque, para que não perdesse a tristeza entre as nuvens.
-- O próximo -- disse o velho no portão.
Ele levantou-se e tocou um blues lento.
-- Só isso? -- perguntou o velho.
Ele apontou para cima. O velho olhou.
Todos os os anjos haviam parado de cantar e tocar suas liras e estavam ouvindo. Todos choravam (por isso choveu tanto no Mississippi aquela semana).
Então Pedro deixou o guitarman entrar. E Deus deu-lhe uma garrafa de uísque, para que não perdesse a tristeza entre as nuvens.
25.1.03
Da ótima, ótima, ótima coluna de Arnaldo Bloch sobre TPM:
"— Raiva, tristeza, melancolia, desejo de morrer e vontade de quebrar tudo? Bom, eu sou homem e sinto isso toda semana."
Cara, podes crer.
"— Raiva, tristeza, melancolia, desejo de morrer e vontade de quebrar tudo? Bom, eu sou homem e sinto isso toda semana."
Cara, podes crer.
24.1.03
"Permite-me que um instante repouse na calma das Idéias, concentre cultualmente o Espírito, como no recolhido silêncio das igrejas góticas, e deixe lá fora, no rumor do mundo, o tropel infernal dos homens ferozmente rugindo e bramando sob a cerrada metralha acesa das formidandas paixões sangrentas."
(Cruz e Souza, "Oração ao Sol")
(Cruz e Souza, "Oração ao Sol")
23.1.03
Minicontos do desconforto -- 44
Brigaram. Ele jogou um dos pratos favoritos dela, com a imagem da Igreja do Senhor do Bonfim, na pia com violência, e o pobre partiu-se. Ela, sempre calma, mas com talentos vulcânicos, cerrou os dentes, foi até o armário, pegou a louça que a madrinha dele lhes dera no casamento e a atirou, peça a peça, a seus pés.
Naquele momento tocou "Eine kleine nachtmusik" na casa ao lado.
Os dois levaram um pequeno susto.
Depois, do nada, riram.
E improvisaram uma dança desajeitada sobre os cacos.
Brigaram. Ele jogou um dos pratos favoritos dela, com a imagem da Igreja do Senhor do Bonfim, na pia com violência, e o pobre partiu-se. Ela, sempre calma, mas com talentos vulcânicos, cerrou os dentes, foi até o armário, pegou a louça que a madrinha dele lhes dera no casamento e a atirou, peça a peça, a seus pés.
Naquele momento tocou "Eine kleine nachtmusik" na casa ao lado.
Os dois levaram um pequeno susto.
Depois, do nada, riram.
E improvisaram uma dança desajeitada sobre os cacos.
22.1.03
Stevie Ray Vaughan morreu num estúpido acidente de helicóptero em agosto de 1990, após um show junto com Eric Clapton e Buddy Guy. Tinha 35 anos. Mas seu legado na guitarra é eterno. Peguei um DVD com duas apresentações suas no programa "Austin City Limits", uma em 83, no começo do sucesso, e outra em 89, no auge. Nas duas, o homem estava soberbo. Mesmo nervoso na primeira, ele arrasou em "Pride and Joy" e "Voodoo Chile", de Hendrix, uma música que poucos guitarristas conseguem executar direito até hoje. Na segunda, mais relax, com a adição do excelente tecladista Reese Wyman à sua Double Trouble, Vaughan arrasa ainda mais em sons como "Don't bother knocking", "Cold shot" e "Crossfire".
Eu me confesso um viciado em solos de guitarra, ainda mais se tiverem embutido o feitiço do blues. Gosto de rock pesado, mas não necessariamente do que meu antigo professor de música chamava de "pilotos de guitarra" -- aqueles caras que tocam um zilhão de notas por minuto, sem deixar o ouvinte saborear realmente a beleza do instrumento. Existem alguns muito bons, é verdade, como o Yngwie Malmsteen, por exemplo, mas para mim o bom guitarrista é aquele que sabe dar a nota certa na hora certa. Uma questão de feeling, e, claro, de dom também. Acho que na música pop mainstream de hoje os solos fazem muita falta.
Eu me confesso um viciado em solos de guitarra, ainda mais se tiverem embutido o feitiço do blues. Gosto de rock pesado, mas não necessariamente do que meu antigo professor de música chamava de "pilotos de guitarra" -- aqueles caras que tocam um zilhão de notas por minuto, sem deixar o ouvinte saborear realmente a beleza do instrumento. Existem alguns muito bons, é verdade, como o Yngwie Malmsteen, por exemplo, mas para mim o bom guitarrista é aquele que sabe dar a nota certa na hora certa. Uma questão de feeling, e, claro, de dom também. Acho que na música pop mainstream de hoje os solos fazem muita falta.
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