30.4.04

Uma boa do Woody Allen:

"I don't want to achieve immortality through my work... I want to achieve it through not dying."

27.4.04

Minicontos do desconforto -- 68

Fim de outono, 1844. Nos arredores de uma fazenda no estado de Nova York, Johnny flana entre as árvores, deprimido. Sua companheira de anos -- uma gentil sem-teto -- desaparecera misteriosamente após uma farra na taverna local. Ele já não sabe viver sem os mimos dela; sente-se só e faminto. Um vento cortante torna sua passagem pelo bosque ainda mais soturna.

Johnny vê uma janela na casa de fazenda, e dirige-se para lá.

Vê um rosto pálido e imóvel recebendo a tênue luz de uma lamparina, perto da janela. Sorri por dentro (sua boca não se move, porém) e dispara até a face, que imagina ser de sua amada, cuja palidez ainda lembra bem.

Johnny toca nos ombros da figura. Percebe que ela está numa espécie de pedestal. Sente-se aquecido e permanece lá, observando um homem sentado a uma mesa no aposento. O homem treme levemente e chora sobre a mesa cheia de papéis. Então vê Johnny e pára. Observa-o atentamente. Súbito, começa uma conversa estranha com seu visitante. Johnny jamais responde.

Mas suas respostas imaginárias serão eternas, e soarão como o pêndulo da noite na mente de todos os amantes abandonados.

Porque Johnny é um corvo.

E o homem transtornado é Edgar Allan Poe.

A pena se move, e no papel surgem as palavras conjuradas em poesia arcana: "Once upon a midnight dreary, while I pondered, weak and weary..."


16.4.04

Nessa era do email em que a correspondência anda tão atulhada de "spamalas diretas", sobrevivem ainda aquelas mensagens das pessoas de que gostamos profundamente, e que são aguardadas como se aguardava o carteiro antigamente. É tão bom pensar em alguém que você realmente preza e ver uma mensagem desse alguém chegar de repente, no meio de um fechamento corrido ou de um momento estressante...

É quase como o primeiro gole de um chope estupidamente gelado depois de um dia estafante.

Por isso mesmo, este post é um brinde aos bons amigos de todos os tempos. Longa vida, prosperidade e boas notícias, sempre, para todos.

14.4.04

Extraído do blog do Léo Jaime:

"Guerra do tráfico no Rio

Só há tráfico porque há compradores. O dinheiro para as balas que oprimem a sociedade sai do bolso do usuário. A grana que corrompe o estado brasileiro sai do bolso do usuário.
Uma pergunta: não dá pra ficar sem comprar? Nem esses episódios o motivam? Saber que o mundo em que você vive está pior por sua causa, que gente inocente morre todo dia, que criancas são cooptadas pelo crime, que toda a estrutura do país fica comprometida não te deixa com vontade de deixar de comprar por uns seis meses?
É impressionante a falta de civilidade. É impressionante o nivel de alienação. E um horror que nessa guerra a população esteja inclinada a torcer pelos bandidos e contra a polícia."


Há muita hipocrisia na mídia sobre esse assunto. Eu tenho horror a Little Boy e Little Rose, mas é fácil jogar a culpa em cima do governo e das corporaçòes (como todos gostamos de fazer) e não pensar em como a droga está disseminada socialmente e culturalmente hoje em dia.

Nesse ponto o pessoal "muderno" pode me chamar de extremamente careta. Experimentei maconha duas vezes para nunca mais. Fico nas drogas "legais": álcool e cigarro (e não sou viciado em nenhuma delas). E faço absoluta questão de educar minhas filhas para que elas não alimentem o ciclo.

Certamente falta governança e infra-estrutura decente para o trabalho policial. Mas, como no caso dos pitboys, faltam pais responsáveis que tomem a si, a sério, a tarefa de criar um filho.

E falta, sim, o país acreditar que investir em educação é a saída. E não no "spread" mais alto do mundo.

8.4.04

Estou lendo "O livro de Saladino", do paquistanês Tariq Ali. É uma biografia romanceada do grande sultão que tomou Jerusalém dos cruzados no fim do século XII. Não consigo largar, a narrativa é uma delícia.
Acharam o avião do Saint-Exupéry. Falta achar o do Glenn Miller, que sumiu no mesmo ano.

4.4.04

E o que é Allison Lohman no filme "Deixe-me viver", ao lado de Michelle Pfeiffer e Renée Zellwegger?
Ela até que tenta, mas não consegue ficar feia. É a própria beleza (na foto, com Patrick Fugit, de "Quase famosos).
Quem não viu, que veja "Identidade". É imperdível. Vi ontem com Jessica, e curtimos muito a história do misterioso motel de beira de estrada em que começam a ocorrer crimes...