Minicontos do desconforto -- 60
(baseado em sugestão da Ronize)
Foi pior do que imaginava. Sempre achara que ia ficar presa num elevador algum dia. Só porque tinha pavor de cubículos e multidão. Mas não podia pensar que ficaria presa num elevador panorâmico. E justamente na ponta da Avenida Rio Branco, olhando para o píer e para a baía de Guanabara.
Era tarde da noite e pelo jeito o porteiro cochilara. Ou não havia porteiro. Ninguém atendia o interfone. Vou olhar a paisagem, pensou. Assim me tranqüilizo.
Mas qual. O mar, o pedacinho de perimetral que aparecia, tudo a fazia querer sair mais rápido dali.
Desajeitada, bateu na porta e gritou, a principío de modo contido. Depois, com mais ardor. Por fim, seu grito era tão lancinante que sentia a estrutura tremer.
O ar lhe faltou. Pára, isso é da sua cabeça, tem ar à beça aqui.
Mas ele parecia fugir. E, quando seus pulmões já pareciam ter puxado para dentro todo o universo connhecido, aconteceu uma coisa engraçada.
Ela teve um orgasmo fulminante.
Foi tão súbito que a fez cair no chão e perder o controle de todos os seus esfíncteres.
Quando o elevador desceu e se abriu, ela se levantou de uma poça de gozo. E beijou a orelha de um zelador atônito.
Depois disso, toda vez que duas portas laterais se fechavam à sua frente, sentia um calor nas pernas. E ria sozinha.
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