30.8.02

Estou saindo de férias hoje, por isso este blog talvez fique um pouco devagar nas próximas semanas. Volto dia 23 de setembro (mas se der blogo nos intervalos). Por ora, eis o trigésimo primeiro miniconto.

Minicontos do desconforto -- 31

Fizeram amor devagar. No fim, acendeu o cigarro e ficou fazendo argolas de fumaça no ar. Ela dormiu -- e de repente, no meio de um sonho, sussurrou o nome de outro. "Tom..."

Ele passou o dia inteiro agoniado no trabalho, já imaginando uma cena nelsonrodrigueana na volta para casa.

Não deu outra. Ao abrir a porta, ela sorriu (e como era poderoso seu sorriso), dizendo que queria lhe apresentar o Tom.

Aimeudeus aimeudeus aimeudeus, era só o que passava pela cabeça dele, enquanto a fúria subia das gônadas para o pescoço.

Entrou.

-- Este é o Tom. Eu quis lhe fazer uma surpresa...

O gatinho preto e branco ficou olhando de lado aquele bípede maluco que gargalhava num frenesi à sua frente.

28.8.02

Momento rock -- 17

"Eu não sou tecnicamente bom o bastante para ser um músico clássico. Não tenho disciplina. Quando você lida com música clássica, tem de ser rígido. Eu não sou um músico rígido. Gosto de improvisar."

(Ritchie Blackmore)

27.8.02

"Ele não sabe coisa alguma, e pensa que sabe tudo. Isso indica claramente uma carreira política."

(William Shakespeare)

25.8.02

One day in your life
You'll remember a place
Someone touching your face
You'll come back and you'll look around, you'll . . .

One day in your life
You'll remember the love you found here
You'll remember me somehow
Though you don't need me now
I will stay in your heart
And when things fall apart
You'll remember one day . . .

One day in your life
When you find that you're always waiting
For a love we used to share
Just call my name, and I'll be there
You'll remember me somehow
Though you don't need me now
I will stay in your heart
And when things fall apart
You'll remember one day . . .

One day in your life
When you find that you're always lonely
For a love we used to share
Just call my name, and I'll be there.


("One day in your life", Sam Brown III / R. Armand., cantada por Michael Jackson)
Ontem foi uma noite divertida. Saí do plantão do jornal e resolvi dar um pulo até o W-Grill, simpático restaurante em São Gonçalo onde o Antônio Corrêa (guitarra) e a Mariana (voz) fazem seu show em dupla (eles tocam em Jurujuba na sexta também). Cheguei ao terminal de Nikity City e peguei um ônibus para SG. Menino, não é que me perdi por lá (faz tempo que não vou para aqueles lados)? Saltei perto do Caneco 90, longe à beça de meu destino original, e acabei pegando um táxi, que após mais alguns erros de trajeto me deixou no local certo. Antônio se surpreendeu ao me ver chegar. Rimos muito com minhas desventuras gonçalenses. A esposa dele, Cláudia, de quem gosto muito, estava por lá também, e batemos longos papos sobre a vida, etc, enquanto os dois tocavam. É claro que, na qualidade de espectador, pedi que tocassem algumas coisas para mim, como "Eu sei que vou te amar" e qualquer balada legal em inglês que escolhessem. Mariana selecionou "I'll be there" e ar-ra-sou nos agudos. Que delícia. No fim, o dono do restaurante, que já me conhecia (fui tocar com o Hélcio por lá dia desses) generosamente não quis me cobrar os chopes que tomei. Fiquei devendo uma canja por lá na próxima visita.

24.8.02

Em breve, duas novas histórias a quatro mãos vão pousar neste Cadafalso: "Marcas", que escrevi junto com Crib Tanaka, e "Insônia", parceria com Alessandra Archer.
Minicontos do desconforto -- 30

Conheceu-a dois dias depois da morte, assim que renasceu. Entendeu que ela agora ia ser sua mãe -- logo ela, que o levara à loucura em apenas três meses.

Por isso, tão logo se entendeu como gente, suicidou-se. E repetiu o gesto nas três encarnações seguintes. Uma para cada mês de desespero.

Então o carma lhe pregou uma peça e ela retornou como sua filha. Viu-a crescer indomável, alheia a seus melhores esforços como pai para dar-lhe uma vida perfeita. Ela tornou-se aquela femme fatale invencível aos dezessete anos, e ele compreendeu que, desta vez, era seu sangue forjado em angústia que a envenenava, que lhe dava estranhos calores e apetites.

Ela se foi antes dele, num acidente, e ele chorou amargamente. Mas ficou neste mundo, onde viveu quase cem anos.

Em sua cabeceira de morte, ela estava novamente lá: foi a enfermeira que refrescou sua testa pela última vez.

Os dois não mais voltaram depois disso. E os anais do Eterno contam que até Abadon suspirou de alívio ao saber da nova.

23.8.02

Momento rock -- 16

"Expose yourself to your deepest fear; after that, fear has no power, and the fear of freedom shrinks and vanishes. You are free."

(Jim Morrison)

22.8.02

Cheguei ainda agora de SP, onde fui cobrir a Comdex e Borland Conference. Ufa! E já estou pronto para tocar hoje à noite em Charitas com Hélcio e cia.
Logo, logo, a produção dos blogs volta ao normal.

16.8.02

Apesar do que diz o quadro aí ao lado, eu não estarei tocando nesta quarta (21/8) em Vila Isabel, pois estarei viajando a trabalho. Na semana seguinte tudo volta ao normal.
Mas na quinta (22/8) vou tocar no ChoppGol de Charitas (Niterói) com a galera, a partir das 21h30.
Ontem foi a estréia da banda no segundo andar do ChoppGol de Niterói, em Charitas. Um ambiente muito gostoso, avarandado, com pista de dança, palco, iluminação e tudo o mais. Eu, Hélcio (teclados) e Marcos (batera) fomos acompanhados de Antônio (guitarra-solo), Juninho (baixo) e Mariana (vocais). Ela alternou músicas com Hélcio e fez backing vocals junto comigo. Me diverti horrooores, pois houve um set de rock and roll e agitei feito espoleta. A Mariana, que estava a meu lado, ria que se acabava comigo. No fim já estávamos fazendo o maior mise-en-cène, com coreografias à medida que tocávamos e cantávamos. Cheguei ao bar cansado de um dia estafante, mas no show e durante a ceia, lá pela uma da manhã, já estava gargalhando com os outros e pronto para outra.
O melhor de tudo é que alternamos com um DJ, que nos intervalos só tocou coisas disco dos anos 70. Vocês sabem, sou um roqueiro congênito, mas adoro essas músicas da era disco. Ouvi coisas que há muito tempo não ouvia, como "Instant replay" e "Born to be alive". Se dependesse de mim, acho que ficaria dançando até nos intervalos. Só não fiz isso porque ia cair duro na hora de tocar ;-))).
Mal posso esperar pela próxima quinta. Yesssssss!!!!!

14.8.02

Minicontos do desconforto -- 29

O veneno avançou por suas artérias com rapidez impressionante. Tinha tomado o cuidado de trocar de copos quando ela foi ao banheiro, mas se esquecera da comida. Na primeira garfada, ao mirar os olhos da ex-amante, viu que eles sorriam demais. Compreendeu tarde -- pouco antes de perder as faculdades mentais -- que aquilo não era mesmo um jantar de reconciliação.

12.8.02

Ace Frehley, guitarrista-solo do Kiss e um dos caras que influenciaram meu jeito de tocar, deu um show num clube de Nova York este fim de semana para festejar o aniversário do amigo radialista Eddie Trunk. Junto com o baixista/guitarrista ritmo Karl Cochran (co-autor da melhor música do "Psycho Circus", do Kiss -- Into the void) e do batera Steve Werner, mandou vários petardos dos anos 70 em seu set, como Rip it out, Parasite, Cold Gin, Strange ways e Love her all I can.

9.8.02

Mestre Gustones de Almeida, super-DJ e guitarman, avisa: vai botar som sexta-que vem, dia 16, na boate Spin, em Ipanema (r. Teixeira de Melo, 21), a partir das 22h. Estarei na área!
Minicontos do desconforto -- 28

Negociou a alma com o Canhoto para ser um virtuose em seu instrumento. No dia seguinte quebrou as duas mãos. A operação subseqüente tornou seus dedos estranhamente elásticos, e ele passou a visitar escalas antes inimagináveis com suas falanges mágicas.

No dia combinado para a entrega, já um maestro consagrado, pediu ao governante do Inferno que escutasse sua última composição antes de descer às profundezas. O Diabo se sentou e, ao ouvir a primeira frase, exclamou: "você esteve conversando com o Espírito! Isso não fazia parte do acordo!"

O maestro não respondeu. Tivera de repente um derrame fulminante. Mas... não havia alma nenhuma a receber. Furioso, o Príncipe das Trevas levantou-se e deu com o Arcanjo Miguel a seu lado. Este acendeu um cigarro e, sem conseguir disfarçar o riso, pôs a mão no ombro do velho anjo caído:

-- Então você não sabia que a principal qualidade de um virtuose é alcançar o Divino antes dos outros homens? O Eterno já se conectou à alma deste no dia seguinte ao seu pacto...

É por isso que quem desceu aos infernos e conseguiu voltar avisa: o maior problema do lugar é o repertório.
O maravilhoso Verissimo, hoje no Globo...

"Nós todos precisamos de cifras definitivas, mas estamos presos à mesma fatalidade: só a teremos depois de tudo terminado. Quer dizer: nunca. Não há fim que justifique os meios porque tudo, no fim, é meio. A cena final que explica tudo só existe na literatura policial. Nas nossas vidas, mal escritas e cheias de pistas falsas, nunca estamos presentes no desenlace. Morremos, invariavelmente, no penúltimo capítulo. E de todas as crueldades da morte, a maior é não podermos participar do nosso próprio velório, circular entre parentes e amigos, anotando quem foi e quem não foi, e ouvir o que falam de nós na nossa posteridade. E descobrir o que, afinal, a nossa vida quis dizer."

6.8.02

Tomei um animado chope ontem com minhas amigas jornalistas Daisy Chaves, Andréa Petti e Ilza Nogueira, companheiras dos anos que passei na Manchete. Fomos ao centenário Café Lamas e rimos a valer com as muitas histórias daquele tempo. Daisy hoje é roteirista e escritora e deixou as redações, criando em casa para a TV. Passamos poucas e boas como redatores de uma revista feminina, junto com a Ilza. Já Andréa foi minha valorosa companheira numa publicação que misturava ciência e temas esotéricos. Hoje trabalha na comunicação interna de uma grande empresa. O tempo passa...

5.8.02

Pronto, aí no quadrinho à direita tem um anúncio do show de todas as quartas, para lembrar a gALLera...
Minicontos do desconforto -- 27

Afrodite e Atena passeavam pelo jardim de nuvens topiadas do Olimpo. Como eram amigas há tempos (o incidente com Páris já fora esquecido), a primeira perguntou à segunda, com franqueza, o porquê de sua feiúra.

-- A sabedoria não faz mais radiantes os rostos dos homens -- foi a resposta. -- Quanto mais sabem, mais eles descobrem as chagas de suas almas; então suas testas se enrugam, os cabelos caem, as bocas murcham e os olhos perdem o viço. E eu sou a soma dessas criaturas infelizes.