30.9.03

Minicontos do desconforto -- 57

Chovia quando a mãe conseguiu espantar a ratazana gorda para fora da casa. Ato contínuo, portas e janelas foram fechadas num frenesi, enquanto o bicho comia imperturbável um resto de comida no lixo. A família, como se o pobre roedor marrom fosse uma quadrilha de traficantes, assistia à refeição abrindo os basculantes o mínimo possível.
Foi quando a ratazana viu que lhe atiraram um estranho cubo preto, amarrado a um arame. Sabia muito bem o que era aquilo. E refletiu: podia ficar ali, passeando de um lado para o outro no quintal, (r)atazanando a família para sempre. Como seu pai fizera a vida inteira.
Ou podia largar de vez a existência de pária e morrer uma morte literária. Afinal, era uma ratazana de respeito, não um reles camundongo movido a ansiedade.
Então -- e só um membro da família humana percebeu que havia naquilo um gesto de cansada desesperança, um simulacro do fim de madame Bovary, embora bem mais digno -- a ratazana foi até o cubo e o roeu, olhando para o nada.
No dia seguinte, imóvel e silenciosa ao lado de um saco de lixo, foi recolhida com uma pá e descartada como indigente. Só a carpiram os animais proscritos: as baratas, os vermes e um fazedor de versos de gaveta.

29.9.03

Pode uma família inteira ficar viciada num game? Pois a minha está totalmente mergulhada no "Bomberman", um velho joguinho que, pelo jeito, agrada a todas as idades. Wal, minhas filhas e até minha sogra estão enlouquecidas com as fases do game. Você está lendo um livro sossegado e de repente escuta alguém falando sozinho na sala, geralmente frases como "Droga! Morri!", ou xingamentos diversos diante de novas dificuldades para prosseguir...
É uma verdadeira comédia.
"Estamos todos na sarjeta, mas alguns de nós olham para as estrelas."

(Lord Darlington, em "O leque de lady Windermere", de Wilde)

26.9.03

Ainda falando da palestra de ontem (ver Cadafalso I): na noitada no restaurante japonês, após a apresentação, foi servido, em certo momento, um combinado que continha uns hot filadélfias simplesmente gigantescos. Travou-se o seguinte diálogo, que terminou em gargalhada coletiva:

-- Rapaz, olha só o tamanho desse filadélfia...

-- Isso aí já não é mais filadélfia. É toda a Nova Inglaterra.

* * *

Outro diálogo curioso, desta vez entreouvido no Prêmio Imprensa Embratel:

-- Meu Deus, o que fizeram com o cabelo da Ana Paula Arósio, que parece um emaranhado?

-- Ora, fizeram um 21.

25.9.03

Moçada, é hoje o papo sobre software livre e segurança que farei lá no Rio Design Barra (Av. das Américas, 7777, Barra) junto com o expert Marcos Tadeu von Lutzow Vidal.

Espero vocês lá, a partir das 20h!

23.9.03


(reprodução do site oficial do GNU/Linux)

Tá lá na Cora, então reproduzo aqui:

"Vida Digital

Essa semana, é a vez do André Machado: nosso intrépido repórter e o engenheiro Marcos Tadeu Vidal, professor de engenharia de telecomunicações e diretor da consultoria de segurança em TI V2R, vão falar sobre software livre e segurança no próximo encontro no Rio Design Barra. Quinta-feira, dia 25, às 20hs."

19.9.03

Renovando a campanha!

18.9.03

Do Márcio Moreira Alves, o melhor diagnóstico deste Titanic econômico que estamos vivendo.

"Médicos do século XVIII e o FMI

Se alguém advertisse um médico do século XVIII que fazer sangrias e aplicar sanguessugas debilitava o paciente e poderia até levá-lo à morte, o médico daria de ombros, acharia a advertência uma impertinência de ignorante e continuaria a tirar o sangue dos doentes com a consciência tranqüila de quem cumpre o dever segundo as melhores normas da ciência.

A mesma coisa acontece hoje com os economistas que seguem as imposições do mercado e obedecem às imposições do FMI, que é uma espécie de descarado capanga dos especuladores. Criado para evitar que eventuais desequilíbrios de balança de pagamento ameacem as economias dos países membros, acaba de escancarar, no caso da Argentina, a sua verdadeira função. Colocou como condição para assinar um novo acordo com o país que se elevassem as tarifas das empresas de serviços públicos privatizadas no governo Menem.

Ou seja: a situação de comoção social no país não interessava ao Fundo. O que interessava era garantir o lucro dos investidores estrangeiros nas empresas de serviços públicos. Interessava também, e era essa outra das precondições, que o Estado argentino salvasse os bancos privados, quebrados pelo abandono do regime de câmbio fixo, regime apoiado anos a fio pelo próprio FMI. Queria um Proer platense.

O presidente Néstor Kirchner pagou para ver. Ou melhor, não pagou e viu as condições serem amainadas pela pressão dos Estados Unidos, que é quem manda no Fundo, do presidente Vicente Fox, do México, e dos demais países latino-americanos, inclusive do Brasil, cujas equipes econômicas têm sido as mais obedientes alunas do FMI. Engolem tudo o que ouvem em Washington como se fossem verdades evangélicas.

Ainda bem que, vez por outra, aparecem aqui economistas americanos menos acríticos. Paul Volcker, por exemplo, um ex-presidente do Federal Reserve, o Fed, para os íntimos, fez em São Paulo uma palestra pessimista sobre o futuro da economia brasileira. Razão para o pessimismo: a exagerada dependência e obediência do país ao FMI. Outro que aqui esteve foi Joseph Stiglitz, Prêmio Nobel de Economia de 2001, ex-assessor do próprio FMI e severo crítico de suas políticas.

Stiglitz não é um economista qualquer — nascido em Gary, Indiana, tal como Paul Samuelson, o primeiro americano a receber o Nobel econômico, considerado um dos mais importantes economistas do século XX. Muito jovem, antes mesmo de completar o seu doutorado no MIT, foi encarregado de preparar a publicação da obra completa de seu ilustre conterrâneo, que teve o título de Collected Scientific Papers. Ao terminar o doutorado, foi contratado como professor do próprio MIT, ensinando depois em Yale, Stanford, Oxford e Princeton, antes de voltar à Califórnia, a Stanford. Em 1979, recebeu a mais alta distinção da Associação Americana de Economistas, a Medalha John Bates Clark. Foi diretor das principais revistas de economia dos Estados Unidos, a “Journal of Economic Perspectives”, a “American Economic Review” e a “Journal of Economic Theory”. Depois de tudo isso, o Prêmio Nobel veio quase como um coroamento natural da carreira.

Stiglitz publicou mais de 250 artigos e capítulos em livros técnicos sobre uma grande variedade de assuntos, mas as suas principais contribuições foram no campo da análise das imperfeições dos mercados e do efeito sobre eles da economia da informação. Aqui no Brasil, disse duas coisas importantes que, sem serem novidade, adquirem maior peso dada a autoridade de quem as disse:

a) O Brasil não precisa procurar no exterior receitas para seu desenvolvimento sustentado. Ao longo dos primeiros 75 anos do século XX, foi o país que mais cresceu no mundo. Isso é uma notável série de crescimento sustentável. Para retomá-lo, bastaria adaptar às condições presentes as políticas do passado.

b) As injustificáveis taxas de juros praticadas no país estrangulam a sua economia.

Não creio que haja muitos políticos, economistas ou analistas que discordem da necessidade do governo Lula de fazer o que fez na área econômica: manter os compromissos com o FMI, garantir um superávit primário ainda maior que o acordado, jogar os juros na estratosfera para assegurar a permanência de capitais especulativos, evitar o repasse para os preços da alta do dólar através do aumento do dinheiro que os bancos são compulsoriamente obrigados a depositar no Banco Central e, assim, paralisar a economia, aumentar o desemprego e reduzir a capacidade de compra dos assalariados. Na época da campanha eleitoral, escrevi que o medo dos investidores não era com um efeito Lula, mas com um efeito Malan. Ou seja, com a continuidade das políticas da equipe econômica que produzira a menor taxa de crescimento desde a proclamação da República, decuplicara a dívida pública, adotara anos a fio a mais alta taxa de juros do planeta e, mesmo assim, repassava o bastão com uma inflação de 20% que, incontida, chegaria a 40% ao ano em 2003. O dr. Palocci e seus colaboradores optaram por um tratamento Butantã, quer dizer, enfrentar o veneno da cobra com veneno da própria cobra.

Agora basta, dizem seus próprios correligionários, como o senador Aloizio Mercadante e a economista Maria da Conceição Tavares. A continuar o mesmo tratamento, o doente morre. Aliás, fazê-lo reviver não é fácil, nem há receita garantida."

17.9.03

Do Slashdot:

"The New York Times reports that Internet provider SBC Communications has refused to identify computer users accused by the RIAA of file-sharing copyrighted material. SBC is the largest high-speed DSL provider with over 3 million subscribers. It continues to refuse a response to the 300 subpoenas served by the RIAA despite a ruling against Verizon earlier this year. 'We are going to challenge every single one of these that they file until we are told that our position is wrong as a matter of law,' said James D. Ellis, general counsel for SBC. He continues, '...We've got a long heritage in which we have always taken a harsh and hard rule on protecting the privacy of our customers' information.'"

15.9.03

No cure at all: just loud guitars.
And thundering drums.

12.9.03

Aliás, quem ainda não leu deve ler o relato do José Serra sobre os dias do golpe militar do Chile em 1973. É impressionante. É só buscar no site do Globo.
Interessante o texto do Domenico di Masi hoje no Globo, ponderando que a aposta nas culturas locais é a grande arma contra a bestificação da globalização e contra o desejo do Primeiro Mundo de que sejamos apenas produtores de coisas e não de idéias -- quando idéia boa é o que não falta por aqui (ainda que por vezes mal aplicada). Só acho que o texto podia ter sido enxugado e caberia numas três laudas, sem prejuízo do conteúdo.

9.9.03

"Se as pessoas só falassem quando tivessem algo a dizer, os seres humanos perderiam rapidamente o uso da linguagem."

(Somerset Maugham)

"Sentimos que, mesmo depois de serem respondidas todas as questões científicas possíveis, os problemas da vida permanecem completamente intactos."

(Wittgenstein)

8.9.03

Também revi velhos amigos na semana que passou: Maloca, Fernando de Oliveira, Carlos Brito, Marcellinho... Nada como conversar e rir para esquecer os problemas.

E esta semana deve ter mais...
Fim de semana cercado de cerveja por todos os lados, depois do chope de quarta da ECO-UFRJ e de mais uma noite de papos filosóficos mil com a Arqueira no Lamas. Sexta eu e Elis fomos para a festa da Ariadne (ver o Cadafalso I) e depois, no sábado, passei o dia num churrasco em família em Barra de Maricá. Domingo descansei, que ninguém é de ferro ;-)). E só bebi água...

5.9.03

A semana segue animada. Nada como rever os amigos. Hoje é niver da minha querida Ariadne, que vai comemorar junto com outra grande amiga, Glorinha. E amanhã tem um churrasco familar. Vou precisar me desintoxicar de tanta cerveja no domingo...

4.9.03

"Evito ver televisão. A televisão te deixa apático. Com a música, com a literatura, as artes plásticas, você tem alguma interação, reage, não fica ali parado, olhando... A televisão é o chiclete dos olhos".

(Sensacional frase ouvida ontem por este escriba numa mesa de bar).