27.11.06

Estou lendo o sétimo volume da série "Operação Cavalo de Tróia", do J. J. Benítez, que conta a viagem no tempo até a época de Jesus empreendida por dois cientistas americanos. A história é fascinante, até pela pesquisa científica, geográfica, médica e histórica feita pelo autor sobre o mundo do Oriente Médio nos anos 25 e 30 d.C.. Só me preocupa o fato de a trama nunca chegar ao fim. Benítez não é novinho, e espero que ele não demore a pôr um ponto final na história. A cada volume publicado, há um hiato de vários anos. É de arrancar os cabelos.
Como eu previa, minha tia-avó passou desta para a melhor, há alguns dias. Que descanse, pois você merece, querida.

21.11.06

Este ano está sendo um duro teste para mim. Perdi meu pai e mais dois tios num espaço de seis meses. Agora, minha tia-avó (a coisa mais parecida com uma avó que tive) está num CTI. Estou preocupado com minha mãe, cujos nervos estão em pandarecos.

Nessas horas, bem que poderia haver alguma coisa capaz de revestir nossos próprios nervos -- algo como um titânio psicológico. Se bem que é nos meus escritos que minha dor costuma se depositar.

14.11.06

Don't want your body
Don't want your expertise
Don't want your reasons
Don't want to believe

Just want your kiss
your honey-coloured
breathtaking
larger-than-life
kiss

in order to be alive.
She turns and looks a moment in the glass,
Hardly aware of her departed lover;
Her brain allows one half-formed thought to pass:
“Well now that’s done: and I’m glad it’s over.”

(T. S. Eliot)

13.11.06

Minicontos do desconforto -- 87

Émile -- Eu estou definitivamente velho: não sei mais expressar o meu amor.

François -- Talvez você seja mais feliz agora. O amor é uma doença que nenhum antibiótico cura.

Émile -- Não seja cínico.

François -- Não estou sendo. O amor é como uma síndrome imunológica: destrói todas as suas resistências. Aliás, é pior: no caso do amor, um simples olhar de desprezo pode matar.

Émile -- Então já estou morto. Ela disse que me odeia, e tudo o que eu fiz foi cair a seus pés e me declarar.

François -- Grande burrice. É assim mesmo que a gente fica comendo na mão do outro. O desprezo vem quase imediatamente. Tripudiar é irresistível. Você nunca aprendeu isso?

Émile -- Quem ama esquece tudo o que aprendeu. Repete os erros, porque quando se ama é sempre a primeira vez.

François -- Tolice. Jogar é preciso.

Émile -- Jogar leva apenas ao sexo. Jogar é um ato racional. O amor prescinde de jogos...

François -- Quá quá quá. Coitado... Além disso, você não continua namorando Cosette? Com que então declarou amor a outra?

Émile -- Eu gostaria de um pouco mais de romance em minha vida.

François -- Mas para isso é preciso se mexer, rapaz. Não dá para ter as duas ao mesmo tempo.

Émile -- Quem disse? Por que não posso amar as duas diferentemente? E elas a mim? Cosette e eu não estamos em crise, é algo consolidado, daí a previsibilidade. Já no caso de minha amiga, o amor é fresco, perigoso, cheio de acidentes geográficos. Acho até que um poderia alimentar o outro.

François -- E depois sou eu o cínico...

Émile -- De qualquer modo, tudo emperra na expressão. Como expressar isso nessa sociedade provinciana e careta? Vai tudo levar a um inferno permanente, é o que vai acontecer. E ela já me odeia, não adianta mais nada...

François -- Lamento, meu amigo. Lamento mesmo.

Émile -- É. Só tem um jeito. Pede aí.

François -- É. Garçom, mais dois uísques. Duplos.

6.11.06

"Com que então eu amava Capitu, e Capitu a mim? Realmente, andava cosido às saias dela, mas não me ocorria nada entre nós que fosse deveras secreto. Antes dela ir para o colégio, eram tudo travessuras de criança; depois que saiu do colégio, é certo que não estabelecemos logo a antiga intimidade, mas esta voltou pouco a pouco, e no último ano era completa. Entretanto, a matéria das nossas conversações era a de sempre. Capitu chamava-me às vezes bonito, mocetão, uma flor - outras pegava-me nas mãos para contar-me os dedos. E comecei a recordar esses e outros gestos e palavras, o prazer que sentia quando ela me passava a mão pelos cabelos, dizendo que os achava lindíssimos. Eu, sem fazer o mesmo aos dela, dizia que os dela eram muito mais lindos que os meus. Então Capitu abanava a cabeça com uma grande expressão de desengano e melancolia, tanto mais de espantar quanto que tinha os cabelos realmente admiráveis - mas eu retorquia chamando-lhe maluca. Quando me perguntava se sonhara com ela na véspera, e eu dizia que não, ouvia-lhe contar que sonhara comigo, e eram aventuras extraordinárias, que subíamos ao Corcovado pelo ar, que dançávamos na lua, ou então que os anjos vinham perguntar-nos pelos nomes, a fim de os dar a outros anjos que acabavam de nascer. Em todos esses sonhos andávamos unidinhos. Os que eu tinha com ela não eram assim, apenas reproduziam a nossa familiaridade, e muita vez não passavam da simples repetição do dia. alguma frase, algum gesto. Também eu os contava. Capitu um dia notou a diferença, dizendo que os dela eram mais bonitos que os meus, eu, depois de certa hesitação, disse-lhe que eram como a pessoa que sonhava... Fez-se cor de pitanga."

(Machado de Assis, "Dom Casmurro")

1.11.06

Minicontos do desconforto -- 86

Aproveitou a noite para curtir o especial de velhos filmes de terror do canal a cabo. Estavam lá todos os seus monstros queridos da infância: Drácula, a criatura de Frankenstein, a múmia, o lobisomem.

No dia seguinte, o despertador tocou às 5h45min, ele se vestiu às 6h e chegou ao trabalho às 7h. Fez contas até as 12h, almoçou até as 13h, fez mais contas até as 18h. Chegou em casa, jantou em silêncio olhando para a parede às 20h e viu o jornal da televisão. Dormiu às 22h.

Em outra dimensão, alguém assistia a tudo numa tela flutuante no ar.

-- Que filme chato -- comentou um anjo.

-- Não. Este é o verdadeiro filme de terror -- murmurou outro.