Outro dia eu estava conversando com o Paulo Couto, do FórumPCs, e ele me dizia que foi muito feliz quando morava na Bahia, um lugar onde se sabe curtir a vida. E fiquei pensando: a felicidade é mesmo essa coisa fragmentada -- porque nós, os seres humanos, temos uma baita barreira a refrear a sensação de felicidade: a angústia. Pelo menos os seres humanos que pensam têm alguma parcela de angústia, que volta e meia vem à tona, com ou sem motivo.
Então, quando a gente pára pra refletir, descobre alguns poucos momentos (os que a amnésia alcoólica nos permite reter) em que a angústia, por algum milagre, foi embora (ou se escondeu muito bem) e nos deixou contemplar (ou fazer parte de) um universo em perfeita harmonia (é por isso que a gente bebe: beber ajuda, se você não deixar o porre chegar à fase depressiva. Na fase alegre e amorosa, a angústia vai pra pqp.)
Dá para lembrar alguns momentos em que estive em perfeita sintonia com o Espírito: solando uma guitarra no teatro da Uff no em julho de 1983; sentado à beira de uma piscina semi-acordado com uma lata de cerveja na mão em abril de 1994; fazendo sacanagens com uma namorada no sofá em fevereiro de 1980; num romance de carnaval em fevereiro de 1982; na minha festa de casamento em outubro de 1987; quando conheci todos os meus amigos de infância, nas décadas de 1960 e 1970, que em minha mente chamo de Os Imortais; e quando vi minhas filhas cantarem no coral da escola este ano -- elas me fizeram chorar, porque a música, quando emitida somente através da voz humana, tem um poder de atingir o peito que nenhum outro instrumento possui.
Fins de ano não costumam figurar nestes momentos, porque o réveillon de modo geral me lembra que vou ficar mais velho. E me faz pensar em quanto tempo me resta. E nas coisas que ainda não fiz. Mesmo que eu dance a noite inteira e relaxe, me lembro disso em algum momento.
Mas quero lhes desejar um excelente 2006: afinal, temos muito ainda o que fazer este ano. No mínimo, nas urnas.
Um grande abraço a todos vocês que me acompanham aqui desde 2001.
30.12.05
29.12.05
26.12.05
Já disse que estou mergulhado em "A torre negra", de Stephen King. Já estou lendo o quarto volume. Mas dei uma parada para reler "O leão, a feiticeira e o guarda-roupa", de C. S. Lewis, após ver o filme "Crônicas de Nárnia". Essa história me encantou quando criança e continua uma delícia: ao contrário da formalidade de seu amigo Tolkien, Lewis escreve conversando com o leitor, num estilo conciso e leve.
E qual de nós não gostaria, por vezes, de abrir um guarda-roupa e encontrar outro mundo, outras possibilidades de vida e jogo, numa passagem secreta? Pelo menos em alguns recantos do meu cérebro, há muitas Nárnias que visito, e que jamais perdem seu fascínio.
E qual de nós não gostaria, por vezes, de abrir um guarda-roupa e encontrar outro mundo, outras possibilidades de vida e jogo, numa passagem secreta? Pelo menos em alguns recantos do meu cérebro, há muitas Nárnias que visito, e que jamais perdem seu fascínio.
12.12.05
25.11.05
21.11.05
Minicontos do desconforto -- 81
Mais tarde ele não soube precisar, mas houve um dia em que dormiu criança e acordou adulto.
Antes, a Fé caminhava de braços dados com ele todos os dias -- na escola, no caminho para casa, durante as refeições, nas brincadeiras com os amigos. E ela tornava-o capaz de engendrar maravilhas com a sua mente crédula, despreocupada -- houve muitas primeiras vezes naqueles anos, um mar de olhos arregalados e de sorrisos francos e lágrimas de origem certa.
Então, num belo dia de maio, conheceu a Dúvida. Lânguida e silenciosa, envolta num vestido cor-de-cisma, ela o olhou de cima da mangueira onde ele se recostava com um livro. Ele olhou para cima, formulando uma pergunta e, sem saber, deu com os olhos da dama, oblíquos como os de Capitu.
Devagar, sem pressa, numa imitação digna de Oscar da serpente do Gênese, ela desceu da árvore e soprou sobre as folhas do livro. Ele leu um pouco mais e seu semblante ficou carregado.
Naquele fim de tarde, as afirmações dos amigos ficaram translúcidas e, quando a noite caiu, ele deixou de adivinhar os desenhos das constelações e passou a se perguntar quando as estrelas que via tinham morrido e quanto de falso tinha seu brilho.
Quando se deitou, a Dúvida fez amor com ele. Mas ele duvidou: achou que havia sido apenas uma polução noturna.
E ela riu quando percebeu que ele estava pronto. Riu o mesmo riso irônico que ele ofereceu a sua irmã menor no café da manhã do dia seguinte, quando ela lhe falou da fada dos dentes. E a Fé, que tomava uma xícara diáfana de café ao lado da menina, chorou amargamente.
Mais tarde ele não soube precisar, mas houve um dia em que dormiu criança e acordou adulto.
Antes, a Fé caminhava de braços dados com ele todos os dias -- na escola, no caminho para casa, durante as refeições, nas brincadeiras com os amigos. E ela tornava-o capaz de engendrar maravilhas com a sua mente crédula, despreocupada -- houve muitas primeiras vezes naqueles anos, um mar de olhos arregalados e de sorrisos francos e lágrimas de origem certa.
Então, num belo dia de maio, conheceu a Dúvida. Lânguida e silenciosa, envolta num vestido cor-de-cisma, ela o olhou de cima da mangueira onde ele se recostava com um livro. Ele olhou para cima, formulando uma pergunta e, sem saber, deu com os olhos da dama, oblíquos como os de Capitu.
Devagar, sem pressa, numa imitação digna de Oscar da serpente do Gênese, ela desceu da árvore e soprou sobre as folhas do livro. Ele leu um pouco mais e seu semblante ficou carregado.
Naquele fim de tarde, as afirmações dos amigos ficaram translúcidas e, quando a noite caiu, ele deixou de adivinhar os desenhos das constelações e passou a se perguntar quando as estrelas que via tinham morrido e quanto de falso tinha seu brilho.
Quando se deitou, a Dúvida fez amor com ele. Mas ele duvidou: achou que havia sido apenas uma polução noturna.
E ela riu quando percebeu que ele estava pronto. Riu o mesmo riso irônico que ele ofereceu a sua irmã menor no café da manhã do dia seguinte, quando ela lhe falou da fada dos dentes. E a Fé, que tomava uma xícara diáfana de café ao lado da menina, chorou amargamente.
12.11.05
7.11.05
Já estão saindo do prelo os livros "Fotos no PC", de Nelson Vasconcelos, e "Som no PC", de Leonardo Pimentel, os primeiros de uma série de entretenimento techie da Campus. Ambas as obras pretendem mostrar, num clima prático e objetivo, como trabalhar, respectivamente, com arquivos de imagem e de música no computador, otimizando a máquina para essas tarefas. Cobras em seus temas, Vasconcelos e Pimentel são as pessoas certas para levar o leitor por essas veredas. O lançamento oficial dos dois volumes será em breve; assim que tiver a data, aviso.
4.11.05
Um dos sonhos recorrentes que tenho é o de estar voando. Pois bem, nas férias dei uma volta pelo teleférico de Friburgo, subindo os 1.322 metros do Morro da Cruz em duas etapas. Andar de teleférico é como subir uma montanha-russa, só que sem o pavor daquela descida vertiginosa depois. Tudo bem, você desce mais tarde, mas é como estar planando. E numa cadeira, em vez de numa cabine, é sempre melhor, pois a sensação de estar flutuando acima de tudo é maravilhosa.
31.10.05
20.9.05
E a semana continua: depois do lançamento do livro, ontem, Jessica, minha filha mais velha, vai cantar no Municipal de Niterói amanhã, com o Coral do Centro Educacional, onde já milita há alguns anos. O coral é tudo de bom, eles arrasam. Não por acaso, a lotação do teatro já está esgotada. Este pai coruja estará lá animadíssimo. Rebeca, minha caçula, deve cantar também, se melhorar de um resfriado que pegou.
13.9.05
2.9.05
Amanhã, às 10h, eu e mestre Fernando de Oliveira daremos uma entrevista no programa da Promo Info na Rede Record sobre o novo livro, escrito junto com mestre Aroaldo Veneu, "Linux: comece aqui".
O lançamento do livro já está marcado: vai ser dia 19 de setembro, na Letras e Expressões, em Ipanema, a partir das 20h. Em breve vou botar um JPG do convite aqui.
O lançamento do livro já está marcado: vai ser dia 19 de setembro, na Letras e Expressões, em Ipanema, a partir das 20h. Em breve vou botar um JPG do convite aqui.
21.8.05
Minicontos do desconforto -- 80
Tocou a música que havia sido "dela", na adolescência.
Eles estavam alegres, haviam dançado e bebido pequenas batidas geladinhas de morango; estavam naquele território que fica entre iniciar o vôo para o nirvana ou se render ao desejo tão sublimado na busca da perfeição (perfeição lá para as nêgas do Buda, né?, que para nosso corpo sedento e trêmulo não serve mesmo, pensou ele, dominado pela vodca). Ele se sentou um pouco, ouvindo os acordes suaves.
Então, de repente ela o olhou de um modo estranho.
-- Você se importa se eu te beijar?
-- É claro que não -- ele se ouviu dizer numa voz cheia de nonchalance, que escondia a tensão súbita.
Ela deu-lhe um pequenino beijo nos lábios. Ele ficou insatisfeito. Veio outro beijo tímido, mais um, mais um e então ele lhe tocou os cabelos, acariciando sua nuca e sentindo todo aquele calor sólido subir-lhe pelo meio das pernas, exatamente como sentiu o caseiro de Lady Chatterley. A ereção foi pronta e inevitável.
E exatamente aí ela abriu a boca e as línguas deslizaram livres e sem vergonha, sem culpa, e então o beijo foi sôfrego como uma espera embutida no palato durante anos; as colcheias da música pareciam estar dentro da boca perfumada, as cifras do violão inscritas no batom delicado que se misturava aos líquidos amorosos, à respiração que parecia gemer e sussurrar dialetos perdidos no tempo, na relva e nas fontes dos jardins babilônicos.
Ele a abraçou, envolveu seu corpo no laço de seus músculos; o beijo ficou mais intenso e as línguas eram como katanas forjadas em carbono, que se tocavam e recuavam em movimentos ensaiados, cuidadosos, mas tão intensos que tudo à volta deles sumiu de repente e ambos se sentiram em outro lugar, em outra época, uma época pagã, livre, algo debochada, onde havia correntezas de vinho e sombras generosas com um frescor realmente novo.
A música voltou quando ela deitou devagar a cabeça em seu peito.
Eis a verdadeira sabedoria, a sabedoria do gesto: beijar, pensou ele. Para que se livrar do desejo, se é justamente ele que leva à ausência de sofrimento? O desejo é o cerne de nossa condição, refletiu. E não apenas o desejo de possuir -- ali, o desejo era de se entregar, de (se possível) arrancar sua alma, dobrá-la e dar de presente a ela.
Ele já saíra com muitas amigas, e muitas vezes quisera dizer-lhes o que ia na alma com um beijo, porque a certo momento da noite as palavras se retiravam para dormir. Mas a maioria não havia compreendido essa vontade premente.
Ela mudara isso e não percebera. Mas ele nunca se sentira tão feliz.
Ela abriu sua alma para ele o resto da noite, falando de todos os seus conflitos interiores. Ele ouviu e deu sua opinião. Mas, toda vez que queria falar de si e do que sentia, simplesmente a beijava com ardor.
E nunca ele foi tão eloqüente.
Tocou a música que havia sido "dela", na adolescência.
Eles estavam alegres, haviam dançado e bebido pequenas batidas geladinhas de morango; estavam naquele território que fica entre iniciar o vôo para o nirvana ou se render ao desejo tão sublimado na busca da perfeição (perfeição lá para as nêgas do Buda, né?, que para nosso corpo sedento e trêmulo não serve mesmo, pensou ele, dominado pela vodca). Ele se sentou um pouco, ouvindo os acordes suaves.
Então, de repente ela o olhou de um modo estranho.
-- Você se importa se eu te beijar?
-- É claro que não -- ele se ouviu dizer numa voz cheia de nonchalance, que escondia a tensão súbita.
Ela deu-lhe um pequenino beijo nos lábios. Ele ficou insatisfeito. Veio outro beijo tímido, mais um, mais um e então ele lhe tocou os cabelos, acariciando sua nuca e sentindo todo aquele calor sólido subir-lhe pelo meio das pernas, exatamente como sentiu o caseiro de Lady Chatterley. A ereção foi pronta e inevitável.
E exatamente aí ela abriu a boca e as línguas deslizaram livres e sem vergonha, sem culpa, e então o beijo foi sôfrego como uma espera embutida no palato durante anos; as colcheias da música pareciam estar dentro da boca perfumada, as cifras do violão inscritas no batom delicado que se misturava aos líquidos amorosos, à respiração que parecia gemer e sussurrar dialetos perdidos no tempo, na relva e nas fontes dos jardins babilônicos.
Ele a abraçou, envolveu seu corpo no laço de seus músculos; o beijo ficou mais intenso e as línguas eram como katanas forjadas em carbono, que se tocavam e recuavam em movimentos ensaiados, cuidadosos, mas tão intensos que tudo à volta deles sumiu de repente e ambos se sentiram em outro lugar, em outra época, uma época pagã, livre, algo debochada, onde havia correntezas de vinho e sombras generosas com um frescor realmente novo.
A música voltou quando ela deitou devagar a cabeça em seu peito.
Eis a verdadeira sabedoria, a sabedoria do gesto: beijar, pensou ele. Para que se livrar do desejo, se é justamente ele que leva à ausência de sofrimento? O desejo é o cerne de nossa condição, refletiu. E não apenas o desejo de possuir -- ali, o desejo era de se entregar, de (se possível) arrancar sua alma, dobrá-la e dar de presente a ela.
Ele já saíra com muitas amigas, e muitas vezes quisera dizer-lhes o que ia na alma com um beijo, porque a certo momento da noite as palavras se retiravam para dormir. Mas a maioria não havia compreendido essa vontade premente.
Ela mudara isso e não percebera. Mas ele nunca se sentira tão feliz.
Ela abriu sua alma para ele o resto da noite, falando de todos os seus conflitos interiores. Ele ouviu e deu sua opinião. Mas, toda vez que queria falar de si e do que sentia, simplesmente a beijava com ardor.
E nunca ele foi tão eloqüente.
17.8.05
Come on Charlotte
Wake up San Diego, Milwaukie, Miami
Put your two lips together and kiss
We're kissin' in Cleveland,
and Cincinnatti too
Way out in Chicago, I'll tell you what to do
They party all over, even in St. Lou
So baby get ready and I'll be kissin' you
Oh, oh, 'cause anytime is kissin' time, USA
So treat me right, don't make me fight
And we'll rock and roll tonight
We're kissin' in Dallas
And Philly's goin' wild
So let's Kiss Atlanta, ho
You know we'll make it smile
We love the women
Way down in Tennessee
So baby come on now
and start a-kissin' me
Oh, oh, 'cause anytime is kissin' time, USA
So treat me right, don't make me fight
And we'll rock and roll tonight
Kiss all of Seattle, LA to Baltimore
You know we been kissin' in 'Frisco,
so lets kiss some more
Let's do it in Detroit,
they all know the score
So baby, oh baby, what are we waitin' for!!
("Kissin' Time", gravada pelo Kiss em 1973)
Wake up San Diego, Milwaukie, Miami
Put your two lips together and kiss
We're kissin' in Cleveland,
and Cincinnatti too
Way out in Chicago, I'll tell you what to do
They party all over, even in St. Lou
So baby get ready and I'll be kissin' you
Oh, oh, 'cause anytime is kissin' time, USA
So treat me right, don't make me fight
And we'll rock and roll tonight
We're kissin' in Dallas
And Philly's goin' wild
So let's Kiss Atlanta, ho
You know we'll make it smile
We love the women
Way down in Tennessee
So baby come on now
and start a-kissin' me
Oh, oh, 'cause anytime is kissin' time, USA
So treat me right, don't make me fight
And we'll rock and roll tonight
Kiss all of Seattle, LA to Baltimore
You know we been kissin' in 'Frisco,
so lets kiss some more
Let's do it in Detroit,
they all know the score
So baby, oh baby, what are we waitin' for!!
("Kissin' Time", gravada pelo Kiss em 1973)
2.8.05
Repetindo o post do Cadafalso I:
Acaba de sair do prelo meu novo livro, escrito junto com Fernando de Oliveira e Aroaldo Veneu. "Linux: Comece Aqui" é o título, e ele é o diário de um usuário que se encontra pela primeira vez com o sistema operacional de código-fonte aberto simbolizado pelo pingüim, e conta sua experiência. O livro é voltado para quem não conhece o Linux e foi baseado na distribuição Fedora Core 2. Em breve, aviso aqui quando e onde será a noite de autógrafos. O prefácio do livro é de Mr. Marcelo Balbio e a quarta capa, de Elis Monteiro.
31.7.05
Crib Tanaka estava no casório também, linda como sempre. Mestre Agusto Sales apareceu por lá e Fernando de Oliveira também.
Estou devendo um conto a Crib. Prometi que não vou enrolar mais.
Estou devendo um conto a Crib. Prometi que não vou enrolar mais.
Aliás, genial tirada do Maloca, irritado com o pessoal da filmagem e das fotos que não deixava ninguém em paz:
-- Hoje em dia as pessoas não querem mais elaborar uma lembrança. Elas querem apenas um registro objetivo do que aconteceu. Quando viajam, as pessoas querem ver tudo através da câmera e se esquecem de fruir o momento, se esqucem de que o que vale mesmo é reconstruir este momento em sua mente.
-- Hoje em dia as pessoas não querem mais elaborar uma lembrança. Elas querem apenas um registro objetivo do que aconteceu. Quando viajam, as pessoas querem ver tudo através da câmera e se esquecem de fruir o momento, se esqucem de que o que vale mesmo é reconstruir este momento em sua mente.
Ontem foi o casamento do Gustavo e da Marcele, em Botafogo. Uma capela simpática, escondida num jardim, foi o palco. A cerimônia foi bonita. Marcele estava linda e Gustavo, meu guitarman preferido, elegante. Maloca Mendes, baixista do Aerosilva, estava um mafioso perfeito, todo de cinza: só faltava aquele estojo de violino escondendo a metralhadora.
No começo, levei um susto. Estava fumando um cigarro ao pé da escada que levava à capela quando um segurança me abordou:
-- Com licença, o senhor é que é o padre?
Eu sorri.
-- Não, meu filho. Eu vivo eternamente em pecado. Não faz isso comigo, não.
Depois, avisei ao Gus para tomar cuidado, que ele corria o risco de ter o casamento celebrado por seu batera...
A festa foi animada e, como terminou cedo, fomos todos para a casa do Maloca encerrar a noite. Uma turma muito boa, que nem sempre é reunida, o que é uma pena: Maloca, Sérgio Maggi, Rodrigão, Edmundo, Franciney, Raquel, Cristiane... Rimos muito, embalados por Bohemias e Skols.
No começo, levei um susto. Estava fumando um cigarro ao pé da escada que levava à capela quando um segurança me abordou:
-- Com licença, o senhor é que é o padre?
Eu sorri.
-- Não, meu filho. Eu vivo eternamente em pecado. Não faz isso comigo, não.
Depois, avisei ao Gus para tomar cuidado, que ele corria o risco de ter o casamento celebrado por seu batera...
A festa foi animada e, como terminou cedo, fomos todos para a casa do Maloca encerrar a noite. Uma turma muito boa, que nem sempre é reunida, o que é uma pena: Maloca, Sérgio Maggi, Rodrigão, Edmundo, Franciney, Raquel, Cristiane... Rimos muito, embalados por Bohemias e Skols.
18.7.05
22.6.05
14.6.05
10.6.05
The poetry of earth is never dead:
When all the birds are faint with the hot sun,
And hide in cooling trees, a voice will run
From hedge to hedge about the new-mown mead.
That is the grasshopper’s—he takes the lead
In summer luxury,—he has never done
With his delights, for when tired out with fun,
He rests at ease beneath some pleasant weed.
The poetry of earth is ceasing never:
On a lone winter evening, when the frost
Has wrought a silence, from the stove there shrills
The Cricket’s song, in warmth increasing ever,
And seems to one in drowsiness half-lost,
The Grasshopper’s among some grassy hills.
(Keats, 1816)
When all the birds are faint with the hot sun,
And hide in cooling trees, a voice will run
From hedge to hedge about the new-mown mead.
That is the grasshopper’s—he takes the lead
In summer luxury,—he has never done
With his delights, for when tired out with fun,
He rests at ease beneath some pleasant weed.
The poetry of earth is ceasing never:
On a lone winter evening, when the frost
Has wrought a silence, from the stove there shrills
The Cricket’s song, in warmth increasing ever,
And seems to one in drowsiness half-lost,
The Grasshopper’s among some grassy hills.
(Keats, 1816)
9.6.05
Há um ano escrevi uma reportagem sobre usabilidade de celulares, inspirado por um papo com Cora Rónai, que gerou um estudo da responsável pelo Laboratório de Usabilidade da Ibmec Business School, Simone Bacellar Leal Ferreira. Acabei me tornando co-autor do estudo, junto com Marcos Gurgel do Amaral, e ele foi apresentado pela Simone mês passado no congresso da IAMOT (International Association for Management of Technology), em Viena, Áustria. Infelizmente não pude estar lá de novo (já estive na cidade uma vez, ela é inesquecível), mas vocês podem imaginar como fiquei prosa. Simone também vai apresentar o estudo aqui, no Congresso Anual de Tecnologia da Informação da Fundação Getúlio Vargas, no fim do mês.
7.6.05
Minicontos do desconforto -- 79
Quando acordou, sabia que ia morrer. Tivera pesadelos terríveis a noite toda, e a manhã estava fria (embora fosse verão) na borda do campo de batalha. Na colina oposta, tremulava o estandarte do adversário -- um arrivista covarde, filho de rainha viúva com camareiro. Ele, ali, o último dos reis guerreiros de uma longa linhagem, sabia que o trono era seu por direito, mas fora longe demais. Mandara matar gente demais; achara que o povo odiaria, como ele e os seus de York, a esposa de seu irmão, o falecido rei Eduardo, uma pobretona que pôs todos os parentes nos melhores cargos e, no fundo, ajudara a levar à Torre seu irmão George.
Mas o povo era volúvel, como o é em todos os tempos, e ele, o caçula e o mais leal irmão do rei Eduardo -- George, era verdade, vivia conspirando -- passou a ser temido. Ainda mais depois que seus sobrinhos desapareceram misteriosamente da Torre. Disseram que ele os havia assassinado para garantir sua permanência no trono.
Só ele sabia a verdade. Mas não podia revelá-la. Deixaria que a História se encarregasse disso, se seus representantes fossem competentes.
Vestiu-se para a batalha e subiu no cavalo, que estava inquieto.
Quando finalmente as lanças e espadas dos soldados do Duque de Richmond atravessaram seu corpo, Ricardo III da Inglaterra só pôde sentir alívio.
Era o ano de 1485 e o campo de Bosworth se encheu de fantasmas. E fantasmas não têm pesadelos.
Quando acordou, sabia que ia morrer. Tivera pesadelos terríveis a noite toda, e a manhã estava fria (embora fosse verão) na borda do campo de batalha. Na colina oposta, tremulava o estandarte do adversário -- um arrivista covarde, filho de rainha viúva com camareiro. Ele, ali, o último dos reis guerreiros de uma longa linhagem, sabia que o trono era seu por direito, mas fora longe demais. Mandara matar gente demais; achara que o povo odiaria, como ele e os seus de York, a esposa de seu irmão, o falecido rei Eduardo, uma pobretona que pôs todos os parentes nos melhores cargos e, no fundo, ajudara a levar à Torre seu irmão George.
Mas o povo era volúvel, como o é em todos os tempos, e ele, o caçula e o mais leal irmão do rei Eduardo -- George, era verdade, vivia conspirando -- passou a ser temido. Ainda mais depois que seus sobrinhos desapareceram misteriosamente da Torre. Disseram que ele os havia assassinado para garantir sua permanência no trono.
Só ele sabia a verdade. Mas não podia revelá-la. Deixaria que a História se encarregasse disso, se seus representantes fossem competentes.
Vestiu-se para a batalha e subiu no cavalo, que estava inquieto.
Quando finalmente as lanças e espadas dos soldados do Duque de Richmond atravessaram seu corpo, Ricardo III da Inglaterra só pôde sentir alívio.
Era o ano de 1485 e o campo de Bosworth se encheu de fantasmas. E fantasmas não têm pesadelos.
29.5.05
Extraído de um email que enviei para uma amiga querida:
"Outro dia vi aquele filme em que a Gwyneth Paltrow vive a Sylvia Plath, aquela poeta americana que se matou em 1963. Me identifiquei muito com os mergulhos da personagem na solidão e com sua insegurança eterna. Quando escrevo minhas coisas, é como se eu voltasse a ser um menino: volta a sensação de estar perdido na voragem do mundo, o pavor da solidão, a certeza de ser sempre incompreendido."
"Outro dia vi aquele filme em que a Gwyneth Paltrow vive a Sylvia Plath, aquela poeta americana que se matou em 1963. Me identifiquei muito com os mergulhos da personagem na solidão e com sua insegurança eterna. Quando escrevo minhas coisas, é como se eu voltasse a ser um menino: volta a sensação de estar perdido na voragem do mundo, o pavor da solidão, a certeza de ser sempre incompreendido."
20.5.05
O novo episódio de Star Wars é mesmo o melhor desta nova saga de George Lucas. Se eu voltasse aos meus 15 anos (idade com que vi o primeiro episódio da saga antiga), vibraria mais. O começo do filme é um dos melhores começos de filme de aventura dos últimos tempos. Mas a história, é claro, é totalmente previsível.
Mesmo assim, é um clássico com a marca legítima Star Wars.
É como me disse o Jan Theophilo: por que não teve toda essa ação nos dois primeiros, pô?
Mesmo assim, é um clássico com a marca legítima Star Wars.
É como me disse o Jan Theophilo: por que não teve toda essa ação nos dois primeiros, pô?
18.5.05
Outro dia almocei com a Babs. Foi ótimo e matei a saudade, porque mal tenho tido tempo de sair e espairecer. Ela também anda superatarefada com um monte de coisas, e não nos falamos com calma há meses. No almoço, deu para ensaiar uma atualizada no papo, mas ainda faltam muitos chopes para ficarmos up-to-date.
Ela está linda como sempre e com aquela jovialidade capaz de derreter um coração de granito.
Merece, pois, as palavras imortais que Lord Henry Wotton disse a Dorian Gray num jardim vitoriano em 1890:
"You have only a few years in which to live really, perfectly, and fully. (...) Time is jealous of you, and wars against your lilies and your roses. (...) Live! Live the wonderful life that is in you! Let nothing be lost upon you. Be always searching for new sensations. (...) With your personality there is nothing you could not do. The world belongs to you for a season."
Ela está linda como sempre e com aquela jovialidade capaz de derreter um coração de granito.
Merece, pois, as palavras imortais que Lord Henry Wotton disse a Dorian Gray num jardim vitoriano em 1890:
"You have only a few years in which to live really, perfectly, and fully. (...) Time is jealous of you, and wars against your lilies and your roses. (...) Live! Live the wonderful life that is in you! Let nothing be lost upon you. Be always searching for new sensations. (...) With your personality there is nothing you could not do. The world belongs to you for a season."
Hoje uma amiga muito querida me enviou um email contando que, numa prova a que se submeteu num curso que está fazendo, havia um trecho de reportagem minha no Info Etc. Ela ficou exultante e rimos muito ao telefone (liguei assim que vi a mensagem). E eu também percebi que estou ficando velho mesmo ;-))
De qualquer maneira, é um luxo ser citado nesse contexto, não?
Mudando de assunto: puxa vida, será que é verdade esse negócio de R$ 250 mil para a Ana Paula Padrão no SBT? Se for, chega a dar depressão...
De qualquer maneira, é um luxo ser citado nesse contexto, não?
Mudando de assunto: puxa vida, será que é verdade esse negócio de R$ 250 mil para a Ana Paula Padrão no SBT? Se for, chega a dar depressão...
17.5.05
Mês agitadíssimo. Nova coluna, ao lado de mestres Cat e Piropo. Terminando mais um livro, com quilos de capítulos em produção. E tome matérias, matérias, matérias e mais matérias semanalmente. E ainda tenho projetos de consultoria na parada.
Bom, normal para quem está acostumado com o ritmo. Mas eu sonho todo dia com minhas férias, que só chegam no segundo semestre...
Por isso tenho postado pouco. No feriado de Corpus Christi vou compensar, moçada.
Bom, normal para quem está acostumado com o ritmo. Mas eu sonho todo dia com minhas férias, que só chegam no segundo semestre...
Por isso tenho postado pouco. No feriado de Corpus Christi vou compensar, moçada.
24.4.05
Minicontos do desconforto -- 78
Trinta e três anos depois, ele não a reconheceu de imediato quando entrou no restaurante (e ficou encabulado). Mas, depois de duas horas de papo, quando desceu as escadas, viu-se novamente no Rio de Janeiro de 1972 e riu junto com o Tempo gozador que era agora o porteiro do restaurante que não mais existia (isto é, não existia ainda).
O Tempo, com uma mesura e uma piscadela de olho, fê-lo entender que viajar por suas dimensões fugidias nada tinha a ver com a teoria da relatividade de Einstein, nem com astrofísica.
Tinha a ver com um grande amor. Do tipo que não se realiza.
Então ele se sentou no meio-fio e chorou amargamente a perda do que, no fundo, jamais tivera.
Trinta e três anos depois, ele não a reconheceu de imediato quando entrou no restaurante (e ficou encabulado). Mas, depois de duas horas de papo, quando desceu as escadas, viu-se novamente no Rio de Janeiro de 1972 e riu junto com o Tempo gozador que era agora o porteiro do restaurante que não mais existia (isto é, não existia ainda).
O Tempo, com uma mesura e uma piscadela de olho, fê-lo entender que viajar por suas dimensões fugidias nada tinha a ver com a teoria da relatividade de Einstein, nem com astrofísica.
Tinha a ver com um grande amor. Do tipo que não se realiza.
Então ele se sentou no meio-fio e chorou amargamente a perda do que, no fundo, jamais tivera.
19.4.05
Voltei do evento de segurança. Foi bem programado e deixou um tempinho para relaxar in-between. Wal anda reclamando (não sem razão) que estou viajando demais, mas o que fazer? Navegar, voar, correr é preciso nesse mundão techie ;-)
Eu só queria que meu cérebro tivesse Hyper Threading, aquela tecnologia que faz uma CPU trabalhar por duas, para absorver tanta informação.
Eu só queria que meu cérebro tivesse Hyper Threading, aquela tecnologia que faz uma CPU trabalhar por duas, para absorver tanta informação.
13.4.05
5.4.05
Semana agitada com a morte do papa e os debates sobre seu sucessor. Mal cheguei de viagem (veja o Cadafalso I) e precisei dar uma forcinha ao pessoal da Inter no caderno especial. Cheguei ontem em casa pelas onze e meia da noite e cinco da matina estava pronto para voar para Sampa, de onde estou postando isto, num evento da Sun com o pai do Java, James Gosling. O keynote dele foi bem interessante, mostrando as muitas facetas da xicrinha, que completa dez anos de vida em maio.
23.3.05
É isso aí!
"AUMENTO ZERO NÃO
Jornalistas lotam o Sindicato e decidem lutar contra tese xiita
Um evento como há muito não se via no Rio de Janeiro. Auditório lotado, os jornalistas profissionais deram um show de solidariedade e mobilização na assembléia da noite de ontem. Por praticamente unanimidade, foram rejeitadas as propostas patronais de rádio e TV e jornais e revistas de aumento real zero em 2005. A tentativa dos patrões de dividir os jornalistas, propondo abonos diferenciados, foi reprovada. A assembléia autorizou o Sindicato a fechar um acordo somente se os patrões deixarem o radicalismo de lado e entenderem que temos direito a aumento real para compensar um sacrifício que dura quatro anos, com reajustes inferiores à inflação.
A assembléia autorizou o Sindicato carioca a iniciar um movimento com o Sindicato de São Paulo para alertar a opinião pública a respeito do desinvestimento nas redações e na qualidade do jornalismo. Em São Paulo, os jornalistas de jornais e revistas conseguiram um aumento real além dos abonos, mas o acordo com rádio e TV não foi fechado, apesar de a data-base ser em dezembro, porque lá também eles insistem no mesmo radicalismo: zero de aumento real. No caso do Rio o radicalismo é ainda mais incompreensível porque os veículos tiveram um desempenho em 2004 superior à média nacional. Em um ano o aumento do faturamento bruto com publicidade foi de 33,15% nas TVs, 20,61% nos jornais e 37,91% nas rádios.
Os patrões insistem no princípio xiita do aumento zero em vez de se abrirem ao diálogo (como sempre fizemos) e aproveitarem o momento favorável da economia para começar a pagar sua dívida conosco. Por aceitarmos reajustes inferiores à inflação nós acumulamos, em quatro anos, perdas que somam 11,99% na mídia impressa e 14,5% nas emissoras. Sem contar a inflação de 5,8% do último ano. A assembléia considerou a proposta de aumento real zero um radicalismo sem sentido e rejeitou um acordo só com esmolas, ou melhor, abonos. Por mais interessante que pareça em um primeiro momento, todos sabemos que abono vira pó rapidamente. Precisamos começar a repor as perdas que aceitamos em nome de uma recessão que não existe mais.
O momento é de mobilização e o sucesso do nosso movimento depende de você. A assembléia de ontem mostrou que os jornalistas querem lutar por qualidade de vida. Se você acha que chegou a hora de parar de perder salário, aceite o desafio de convencer seu colega, seu chefe, seu editor e a direção de sua empresa de que nossa reivindicação é simplesmente justa. Os representantes patronais têm argumentado que o momento brasileiro é bom, o desempenho do setor foi sensacional, mas não podem dar aumento porque não sabem como será o futuro. Mas não é assim mesmo que as coisas funcionam? Por acaso só teremos direito a aumento quando eles tiverem uma lâmpada de Aladim ou uma bola de cristal para adivinhar um futuro eternamente grandioso?
É importante você saber que não estamos falando de futuro, mas de um ano de grande desempenho positivo das empresas, de fevereiro de 2004 a janeiro de 2005. E de quatro anos de perdas passadas. Quando aceitamos as perdas, não usamos o argumento ridículo de que o futuro seria melhor. Se a economia brasileira piorar no futuro, saberemos, como sempre, agir com flexibilidade e dividir o prejuízo. Mas agora temos direito à divisão de um bolo que cresceu muito. A maioria das categorias profissionais no Brasil tem conseguido aumentos reais em função disso. Não há motivo para discriminação contra os jornalistas. Não somos categoria de segunda.
Mobilize sua redação, chame o colega para a discussão, fortaleça sua categoria e prestigie seu sindicato. Faça reuniões, debata, pressione. Use os adesivos que vamos distribuir contra o radicalismo do aumento real zero. Prepare-se para a próxima assembléia, que vamos convocar provavelmente na próxima semana. Vamos dizer que os jornalistas do Rio decidiram não trocar seus direitos e sua dignidade por abonos passageiros. E que não concordamos com um radicalismo absurdo que prega o aumento zero em tempo de vacas magras ou gordas. Não ao aumento zero!
Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro"
"AUMENTO ZERO NÃO
Jornalistas lotam o Sindicato e decidem lutar contra tese xiita
Um evento como há muito não se via no Rio de Janeiro. Auditório lotado, os jornalistas profissionais deram um show de solidariedade e mobilização na assembléia da noite de ontem. Por praticamente unanimidade, foram rejeitadas as propostas patronais de rádio e TV e jornais e revistas de aumento real zero em 2005. A tentativa dos patrões de dividir os jornalistas, propondo abonos diferenciados, foi reprovada. A assembléia autorizou o Sindicato a fechar um acordo somente se os patrões deixarem o radicalismo de lado e entenderem que temos direito a aumento real para compensar um sacrifício que dura quatro anos, com reajustes inferiores à inflação.
A assembléia autorizou o Sindicato carioca a iniciar um movimento com o Sindicato de São Paulo para alertar a opinião pública a respeito do desinvestimento nas redações e na qualidade do jornalismo. Em São Paulo, os jornalistas de jornais e revistas conseguiram um aumento real além dos abonos, mas o acordo com rádio e TV não foi fechado, apesar de a data-base ser em dezembro, porque lá também eles insistem no mesmo radicalismo: zero de aumento real. No caso do Rio o radicalismo é ainda mais incompreensível porque os veículos tiveram um desempenho em 2004 superior à média nacional. Em um ano o aumento do faturamento bruto com publicidade foi de 33,15% nas TVs, 20,61% nos jornais e 37,91% nas rádios.
Os patrões insistem no princípio xiita do aumento zero em vez de se abrirem ao diálogo (como sempre fizemos) e aproveitarem o momento favorável da economia para começar a pagar sua dívida conosco. Por aceitarmos reajustes inferiores à inflação nós acumulamos, em quatro anos, perdas que somam 11,99% na mídia impressa e 14,5% nas emissoras. Sem contar a inflação de 5,8% do último ano. A assembléia considerou a proposta de aumento real zero um radicalismo sem sentido e rejeitou um acordo só com esmolas, ou melhor, abonos. Por mais interessante que pareça em um primeiro momento, todos sabemos que abono vira pó rapidamente. Precisamos começar a repor as perdas que aceitamos em nome de uma recessão que não existe mais.
O momento é de mobilização e o sucesso do nosso movimento depende de você. A assembléia de ontem mostrou que os jornalistas querem lutar por qualidade de vida. Se você acha que chegou a hora de parar de perder salário, aceite o desafio de convencer seu colega, seu chefe, seu editor e a direção de sua empresa de que nossa reivindicação é simplesmente justa. Os representantes patronais têm argumentado que o momento brasileiro é bom, o desempenho do setor foi sensacional, mas não podem dar aumento porque não sabem como será o futuro. Mas não é assim mesmo que as coisas funcionam? Por acaso só teremos direito a aumento quando eles tiverem uma lâmpada de Aladim ou uma bola de cristal para adivinhar um futuro eternamente grandioso?
É importante você saber que não estamos falando de futuro, mas de um ano de grande desempenho positivo das empresas, de fevereiro de 2004 a janeiro de 2005. E de quatro anos de perdas passadas. Quando aceitamos as perdas, não usamos o argumento ridículo de que o futuro seria melhor. Se a economia brasileira piorar no futuro, saberemos, como sempre, agir com flexibilidade e dividir o prejuízo. Mas agora temos direito à divisão de um bolo que cresceu muito. A maioria das categorias profissionais no Brasil tem conseguido aumentos reais em função disso. Não há motivo para discriminação contra os jornalistas. Não somos categoria de segunda.
Mobilize sua redação, chame o colega para a discussão, fortaleça sua categoria e prestigie seu sindicato. Faça reuniões, debata, pressione. Use os adesivos que vamos distribuir contra o radicalismo do aumento real zero. Prepare-se para a próxima assembléia, que vamos convocar provavelmente na próxima semana. Vamos dizer que os jornalistas do Rio decidiram não trocar seus direitos e sua dignidade por abonos passageiros. E que não concordamos com um radicalismo absurdo que prega o aumento zero em tempo de vacas magras ou gordas. Não ao aumento zero!
Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro"
22.3.05
19.3.05
Recebi ontem este email do Maloca Mendes, e é exatamente assim que nós, músicos que abandonaram a música e vivem hoje só flertando com ela de vez em quando, nos sentimos:
"Barba,
Cá estou às tantas da madrugada, bêbado, arranhando, para desespero
dos vizinhos, meu desafinado violão, quando lembro de uma canção
perdida no tempo, uma canção que me faz ter saudade de uma garagem na
Rua Passos da Pátria.
A melodia não é nossa, infelizmente, mas a tua versão para 'Pigs on the
Wing', aquela que tocávamos em sábados perdidos nas brumas do tempo, é
um marco. Pelo menos para mim. Até por que era uma das poucas que eu
conseguia tocar sem titubear.
Não consigo lembrar da letra em inglês sem que me venham os teus versos.
Essa música, na minha memória é uma parceria tua com o Waters.
Por onde andarão Minhoca [guitarrista da velha banda] e Palito [baterista da mesma banda]? Por onde andamos nós?
É incrível como o tempo passa e a vida se esvai sem que nos demos conta...
Até quando buscaremos abrigo contra os porcos a voar?
Saudades de você, camarada.
Desculpe o sentimentalismo etílico.
Maloca"
Meu caro, eu também tenho saudades. E, como lhe respondi, temos que pegar os violões e fugir para a casa do velho Carlos Octavius lá em Itaipuaçu para soltar todo esse blues na praia, à noite. E o Gustones e a Marcele têm de vir junto.
É mesmo uma merda ficar sem tocar e só relembrar tempos mais loucos que ficaram para trás.
E também preciso beber mais. Estou sóbrio há decênios.
"Barba,
Cá estou às tantas da madrugada, bêbado, arranhando, para desespero
dos vizinhos, meu desafinado violão, quando lembro de uma canção
perdida no tempo, uma canção que me faz ter saudade de uma garagem na
Rua Passos da Pátria.
A melodia não é nossa, infelizmente, mas a tua versão para 'Pigs on the
Wing', aquela que tocávamos em sábados perdidos nas brumas do tempo, é
um marco. Pelo menos para mim. Até por que era uma das poucas que eu
conseguia tocar sem titubear.
Não consigo lembrar da letra em inglês sem que me venham os teus versos.
Essa música, na minha memória é uma parceria tua com o Waters.
Por onde andarão Minhoca [guitarrista da velha banda] e Palito [baterista da mesma banda]? Por onde andamos nós?
É incrível como o tempo passa e a vida se esvai sem que nos demos conta...
Até quando buscaremos abrigo contra os porcos a voar?
Saudades de você, camarada.
Desculpe o sentimentalismo etílico.
Maloca"
Meu caro, eu também tenho saudades. E, como lhe respondi, temos que pegar os violões e fugir para a casa do velho Carlos Octavius lá em Itaipuaçu para soltar todo esse blues na praia, à noite. E o Gustones e a Marcele têm de vir junto.
É mesmo uma merda ficar sem tocar e só relembrar tempos mais loucos que ficaram para trás.
E também preciso beber mais. Estou sóbrio há decênios.
Meu domicílio eleitoral não é no Rio (voto em Niterói). Mas trabalho e tenho boa parte de minha vida na cidade que ainda considero maravilhosa e única em seu estilo, e se dependesse de mim Cesar Maia sofreria um impeachment. A maneira leviana como trata questões de saúde e segurança, deixando os cidadãos à míngua por divergências com autoridades estaduais e federais, e o acinte à população carioca com o anúncio de sua candidatura à Presidência logo após lhe ser dado um novo mandato são suficientes, a meu ver, para defenestrá-lo de uma vez por todas. O Rio de Janeiro precisa de lideranças decentes já! Estou com a Cora e o Jabor: o Partido do Rio de Janeiro tem que nascer imediatamente.
Aliás, os governantes do estado também deveriam voltar para o interior e apodrecer lá para todo o sempre.
A intervenção federal na saúde tem de continuar e precisa ser seguida por uma fortíssima na segurança. Já. Já estamos, na prática, acéfalos de autoridade há muito tempo, por isso o governo federal precisa agir. Pára de pensar em reforma ministerial, Lula, e olhe para nós, os desassistidos.
Aliás, os governantes do estado também deveriam voltar para o interior e apodrecer lá para todo o sempre.
A intervenção federal na saúde tem de continuar e precisa ser seguida por uma fortíssima na segurança. Já. Já estamos, na prática, acéfalos de autoridade há muito tempo, por isso o governo federal precisa agir. Pára de pensar em reforma ministerial, Lula, e olhe para nós, os desassistidos.
4.3.05
25.1.05
Minicontos do desconforto -- 77
(para Crib Tanaka)
Acendeu a vela e olhou para o rosto marcado no espelho do banheiro. Mais uma vez a luz se fora, mas ela até preferia a casa assim, às escuras. Desse jeito não dava para ver as paredes desbotadas, as infiltrações, o chão de ardósia sem graça e os móveis doados pelos parentes ao longo dos anos. Que decoração.
Voltou para a sala, a fumaça esguia da vela evolando-se devagar e silenciosamente por sobre o ombro. Então percebeu que a luz tênue mostrava um outro ambiente: cortinas pesadas, cadeiras do século XIX, um pedaço de tapete persa no chão, um aparador rebuscado... Onde estava o televisor? E o celular que estava sendo carregado em cima da mesa... ah, a mesa era outra, redonda, com uma toalha de renda e louça Limoges. Taças cheias de vinho.
E ele ali, observando-a. Só que com roupas dos anos 1890.
Sentou-se. Percebeu que estava falando em francês. Bebeu do vinho, vermelho e cheio de vida, acordando seu sangue há muito estacionário.
E então, de repente, estava rindo. A fumaça da vela parecia rir com ela, dançando no meio dos dois, agora num castiçal que aparecera do nada.
A noite caminhou célere. Os risos aumentaram. Ela jurou ter ouvido violinos e um piano. Até que, vencida pelo vinho e pela alegria, desmaiou suavemente sobre a mesa.
Acordou com a cara em cima do celular, as luzes acesas como uma explosão diante de seus olhos. A vela se consumira. Um montinho de cera marcava seu lugar.
Achou que havia sonhado. Só entendeu que havia acontecido um milagre quando foi à cozinha beber água e achou a caixa de velas em cima da pia. Com todas as velas dentro.
(para Crib Tanaka)
Acendeu a vela e olhou para o rosto marcado no espelho do banheiro. Mais uma vez a luz se fora, mas ela até preferia a casa assim, às escuras. Desse jeito não dava para ver as paredes desbotadas, as infiltrações, o chão de ardósia sem graça e os móveis doados pelos parentes ao longo dos anos. Que decoração.
Voltou para a sala, a fumaça esguia da vela evolando-se devagar e silenciosamente por sobre o ombro. Então percebeu que a luz tênue mostrava um outro ambiente: cortinas pesadas, cadeiras do século XIX, um pedaço de tapete persa no chão, um aparador rebuscado... Onde estava o televisor? E o celular que estava sendo carregado em cima da mesa... ah, a mesa era outra, redonda, com uma toalha de renda e louça Limoges. Taças cheias de vinho.
E ele ali, observando-a. Só que com roupas dos anos 1890.
Sentou-se. Percebeu que estava falando em francês. Bebeu do vinho, vermelho e cheio de vida, acordando seu sangue há muito estacionário.
E então, de repente, estava rindo. A fumaça da vela parecia rir com ela, dançando no meio dos dois, agora num castiçal que aparecera do nada.
A noite caminhou célere. Os risos aumentaram. Ela jurou ter ouvido violinos e um piano. Até que, vencida pelo vinho e pela alegria, desmaiou suavemente sobre a mesa.
Acordou com a cara em cima do celular, as luzes acesas como uma explosão diante de seus olhos. A vela se consumira. Um montinho de cera marcava seu lugar.
Achou que havia sonhado. Só entendeu que havia acontecido um milagre quando foi à cozinha beber água e achou a caixa de velas em cima da pia. Com todas as velas dentro.
16.1.05
Minicontos do desconforto -- 76
(para Elis)
Ela desconfiou quando ele começou a se vestir melhor, a botar um perfuminho antes de sair: já fora ferida além da conta para suportar mais uma traição. Sua mente começou a rodar spywares tentadores e, numa quarta-feira em que ele avisou que chegaria mais tarde, não resistiu e seguiu-o.
Viu-o sair do trabalho e entrar num táxi. Entrou noutro e mandou não perder o da frente de vista, como nos filmes.
O táxi dele parou num bar na Lapa. Ele saltou e entrou. Ela fez o mesmo, abrindo a porta do bar a tempo de vê-lo subir para o segundo andar, envolto em sombras. "Cachorro", pensou.
Subiu a escada já despida da preocupação de que ele a visse. Os saltos bateram forte nos degraus; ele ia ver só, ela ia fazer um escândalo.
Foi quando ficou momentaneamente cega pelo acender de luzes fortíssimas.
-- Feliz aniversááááario!!!! -- gritou a multidão, já no embalo de uma de suas músicas preferidas da trilha de um filme romântico.
Ele, rindo muito, estava com um buquê de rosas vermelhas na mão. Devagar, abraçou-a, beijou-a na orelha e sussurrou:
-- Você precisa ter mais fé, dear.
Ela ficou tão sem graça que no dia seguinte comprou-lhe um terno novo e um perfume caríssimo.
(para Elis)
Ela desconfiou quando ele começou a se vestir melhor, a botar um perfuminho antes de sair: já fora ferida além da conta para suportar mais uma traição. Sua mente começou a rodar spywares tentadores e, numa quarta-feira em que ele avisou que chegaria mais tarde, não resistiu e seguiu-o.
Viu-o sair do trabalho e entrar num táxi. Entrou noutro e mandou não perder o da frente de vista, como nos filmes.
O táxi dele parou num bar na Lapa. Ele saltou e entrou. Ela fez o mesmo, abrindo a porta do bar a tempo de vê-lo subir para o segundo andar, envolto em sombras. "Cachorro", pensou.
Subiu a escada já despida da preocupação de que ele a visse. Os saltos bateram forte nos degraus; ele ia ver só, ela ia fazer um escândalo.
Foi quando ficou momentaneamente cega pelo acender de luzes fortíssimas.
-- Feliz aniversááááario!!!! -- gritou a multidão, já no embalo de uma de suas músicas preferidas da trilha de um filme romântico.
Ele, rindo muito, estava com um buquê de rosas vermelhas na mão. Devagar, abraçou-a, beijou-a na orelha e sussurrou:
-- Você precisa ter mais fé, dear.
Ela ficou tão sem graça que no dia seguinte comprou-lhe um terno novo e um perfume caríssimo.
Assinar:
Postagens (Atom)