3.3.02

Minicontos do desconforto -- 7

Seu coração fez uma pausa assim que a viu. Adorou o azul de seus olhos e sua boca, que ao sorrir o deixava tonto. Não demorou para que, num fim de tarde, mesmo com a carona esperando, a arrastasse para uma fileira de cadeiras numa passagem no corredor. Tocou seu cabelo, os dedos tremendo. Disse que a amava. Ela riu suavemente e ele ficou com medo. Mas os olhos azuis titubearam, acusando o golpe: não eram indiferentes ao jovem cheio de vida, ávido de romance, que a fitava. E que, nesse pequenino interlúdio, pousou seus lábios sobre os dela, furtando-lhe um beijo que nunca mais esqueceria.

A carona buzinou. "Vá, nós temos amanhã", sussurrou ela. Mas não tiveram. Meses depois, reencontraram-se, os dois com seus respectivos pares e os mesmos olhares de saudade do que poderia ter sido. E desta vez nenhum beijo atrasou a carona dela, de avião, para a capital, de onde desapareceria da vida dele para sempre.

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