1.3.02

Minicontos do desconforto -- 6

Em seus mais horrendos pesadelos pecuniários, ele morria exatamente como Poe, encontrado na sarjeta, sonhando com uns trocados para tomar a saideira. A vida inteira o dinheiro fugira de suas mãos como se fosse um leitão a caminho do abate. Estava a um passo da mendicância, morando de favor num canto da lavanderia do sítio da ex-sogra, que apesar de tudo gostava dele. Uma noite, pensou nos filhos, agora vivendo em Rondonópolis, e derramou amargas lágrimas. Prostrou-se e fez uma prece a Santa Edwiges, soluçando, pedindo um milagre, prometendo entregar a alma ao jugo de Roma. O milagre aconteceu dois dias depois, quando teve um derrame em meio ao sono e, como disseram, passou desta para a melhor.

A melhor até descobrir que para entrar no céu era preciso RG da alma, CPF (Cadastro de Plasma Funéreo), comprovante de consciência e certidão negativa de pecados.

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