Minicontos do desconforto -- 24
25 de junho de 1876. As tropas do general americano George Custer são massacradas em Little Bighorn. A última coisa que Custer sente é a dor nos lados da cabeça enquanto os sioux decepam suas orelhas. Diziam que ele não os ouvira e quebrara inúmeros tratados, daí a necessidade de lhe tomar as orelhas para que pudesse escutar suas reivindicações.
Depois, o escuro e o nada.
Passado um período impossível de medir por padrões terrenos, Custer acorda no meio de nuvens, num prado flutuante ao lado de um riacho paradisíaco. A seu lado, um velho batedor mestiço que o servira na Guerra Civil.
-- Ora, parece que vim parar no céu... Logo eu que achava ter pecados sobrando -- murmurou, ainda meio tonto, o general.
O batedor riu. A seu riso seguiu-se o som do canto de guerra de um milhão de guerreiros sioux, navajos, comanches e de quantas nações hoje dizimadas da América se possa lembrar.
-- É, o senhor está no céu -- disse o batedor devagar. -- No céu dos índios.
E gargalhou.
Até hoje -- e por toda a eternidade -- Custer morre diariamente naquele paraíso, e todos os dias suas orelhas são arrancadas pelos nativos, e todas as noites a vitória é comemorada pelas tribos mortas e ecoa pela Via Láctea.
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