18.7.02

De quem foi a culpa

Dentro do avião não perceberam que havia uma quinta pessoa. Estava junto com a bagagem, no escuro, ressonando suavemente. Um dos passageiros, que estava fortemente gripado, não cochilava e percebeu a presença.

-- Ei, quem é aquele ali atrás? -- cutucou ele o adolescente sonolento a seu lado, enquanto o avião decolava.

-- Hein? O quê?

-- Quem é o sujeito dormindo aí atrás? -- volveu o outro, falando mais alto e voltando-se também para o piloto. Este aparentemente não ouviu, atento ao manche e ao clima. Mas o ressonar perto da bagagem de repente parou e os passageiros se depararam com um rosto grego e pálido, que falou pausadamente.

-- Eu tinha que acompanhar vocês hoje, rapazes. Mas prometi ao chefe que ia dormir e então tudo não passaria de um risco, de um susto. Achava que vocês estariam cansados demais para me acordar... mas me acordaram. Sinto muito.

Ninguém disse nada. Ninguém teve tempo de dizer nada. Logo depois o avião caiu. Era a madrugada de um frio começo de fevereiro e todos morreram instantaneamente: Big Bopper, Ritchie Valens, Buddy Holly e o piloto. Nascia o dia em que a música morreu.

Só saiu do avião, andando em plena nevasca em Iowa, um vulto de toga. Ninguém o viu. Mas alguns acordaram com o brado que juraram vir dos céus sobre os campos naquela madrugada de 1959:

-- Tânatos! Ah, Tânatos!

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