Férias!
Moçada, vou descansar um pouquinho da correria. Volto dia 15/12.
Fiquem bem.
(A foto é do Freefoto.com).
28.11.03
27.11.03
"O rendimento médio real do trabalhador brasileiro voltou a cair em outubro, recuando 0,7% em relação a setembro e 15,2% na comparação com outubro de 2002. Foi a oitava queda consecutiva na comparação anual, segundo a pesquisa."
(Do site do Globo)
Tsc, tsc.
A minha renda já não tem mais pra onde cair. Já está forçando o fundo do poço...
Acorda, Brasília!
(Do site do Globo)
Tsc, tsc.
A minha renda já não tem mais pra onde cair. Já está forçando o fundo do poço...
Acorda, Brasília!
26.11.03
Minicontos do desconforto -- 61
(baseado em sugestão do Fortunato)
Acordou dentro do caixão. Tinha se esgueirado pouco antes de colocarem a tampa, na noite anterior, quando todos estavam chorando e se confortando, sem prestar mais nenhuma atenção ao defunto. Sentiu o sacolejo e ouviu o arfar dos parentes do morto quando o ataúde foi carregado colina acima, até o jazigo sob o pé de jamelão. Sentiu o cheiro enjoativo das frutas repisadas na grama.
Não podia viver sem ele, que estava lindo com a plástica post-mortem. Nem mesmo nas fotos da juventude parecera assim, tão digno e composto. Ah, sentiria falta de sentar em seu colo, de cheirá-lo curiosa, de vê-lo estremecer quando ela passava a língua em seu pescoço (não resistiu e lambeu agora a orelha rígida). Pelo menos ficaria com ele. Para sempre.
Foi somente anos mais tarde que descobriram, ao exumar por engano o corpo numa investigação criminal, um esqueleto de animal pequeno ao lado da caveira.
-- Parece o de um gato -- comentou um dos peritos.
-- Gata. Olha a fita com o nome: "Sofia".
(baseado em sugestão do Fortunato)
Acordou dentro do caixão. Tinha se esgueirado pouco antes de colocarem a tampa, na noite anterior, quando todos estavam chorando e se confortando, sem prestar mais nenhuma atenção ao defunto. Sentiu o sacolejo e ouviu o arfar dos parentes do morto quando o ataúde foi carregado colina acima, até o jazigo sob o pé de jamelão. Sentiu o cheiro enjoativo das frutas repisadas na grama.
Não podia viver sem ele, que estava lindo com a plástica post-mortem. Nem mesmo nas fotos da juventude parecera assim, tão digno e composto. Ah, sentiria falta de sentar em seu colo, de cheirá-lo curiosa, de vê-lo estremecer quando ela passava a língua em seu pescoço (não resistiu e lambeu agora a orelha rígida). Pelo menos ficaria com ele. Para sempre.
Foi somente anos mais tarde que descobriram, ao exumar por engano o corpo numa investigação criminal, um esqueleto de animal pequeno ao lado da caveira.
-- Parece o de um gato -- comentou um dos peritos.
-- Gata. Olha a fita com o nome: "Sofia".
25.11.03
Minicontos do desconforto -- 60
(baseado em sugestão da Ronize)
Foi pior do que imaginava. Sempre achara que ia ficar presa num elevador algum dia. Só porque tinha pavor de cubículos e multidão. Mas não podia pensar que ficaria presa num elevador panorâmico. E justamente na ponta da Avenida Rio Branco, olhando para o píer e para a baía de Guanabara.
Era tarde da noite e pelo jeito o porteiro cochilara. Ou não havia porteiro. Ninguém atendia o interfone. Vou olhar a paisagem, pensou. Assim me tranqüilizo.
Mas qual. O mar, o pedacinho de perimetral que aparecia, tudo a fazia querer sair mais rápido dali.
Desajeitada, bateu na porta e gritou, a principío de modo contido. Depois, com mais ardor. Por fim, seu grito era tão lancinante que sentia a estrutura tremer.
O ar lhe faltou. Pára, isso é da sua cabeça, tem ar à beça aqui.
Mas ele parecia fugir. E, quando seus pulmões já pareciam ter puxado para dentro todo o universo connhecido, aconteceu uma coisa engraçada.
Ela teve um orgasmo fulminante.
Foi tão súbito que a fez cair no chão e perder o controle de todos os seus esfíncteres.
Quando o elevador desceu e se abriu, ela se levantou de uma poça de gozo. E beijou a orelha de um zelador atônito.
Depois disso, toda vez que duas portas laterais se fechavam à sua frente, sentia um calor nas pernas. E ria sozinha.
(baseado em sugestão da Ronize)
Foi pior do que imaginava. Sempre achara que ia ficar presa num elevador algum dia. Só porque tinha pavor de cubículos e multidão. Mas não podia pensar que ficaria presa num elevador panorâmico. E justamente na ponta da Avenida Rio Branco, olhando para o píer e para a baía de Guanabara.
Era tarde da noite e pelo jeito o porteiro cochilara. Ou não havia porteiro. Ninguém atendia o interfone. Vou olhar a paisagem, pensou. Assim me tranqüilizo.
Mas qual. O mar, o pedacinho de perimetral que aparecia, tudo a fazia querer sair mais rápido dali.
Desajeitada, bateu na porta e gritou, a principío de modo contido. Depois, com mais ardor. Por fim, seu grito era tão lancinante que sentia a estrutura tremer.
O ar lhe faltou. Pára, isso é da sua cabeça, tem ar à beça aqui.
Mas ele parecia fugir. E, quando seus pulmões já pareciam ter puxado para dentro todo o universo connhecido, aconteceu uma coisa engraçada.
Ela teve um orgasmo fulminante.
Foi tão súbito que a fez cair no chão e perder o controle de todos os seus esfíncteres.
Quando o elevador desceu e se abriu, ela se levantou de uma poça de gozo. E beijou a orelha de um zelador atônito.
Depois disso, toda vez que duas portas laterais se fechavam à sua frente, sentia um calor nas pernas. E ria sozinha.
21.11.03
18.11.03
Minicontos do desconforto -- 59
(para Camila)
Foi quando voltou para casa após a missa de sétimo dia que entendeu: nunca mais, nunca mais mesmo, ouviria as tolices dela quando chegava em casa. Não ouviria o riso franco de quando ela contava uma besteira que fizera e começava a rir de si mesma antes dos outros, que acabavam rindo de sua própria gargalhada, tão inocente e convidativa.
A missa fora cedo; sentou-se para tomar o café. Lembrou-se dos comentários que ela fazia sobre o noticiário à mesa, muitas vezes mais pertinentes que os dos articulistas arrogantes que fingiam saber tudo. E pensou que tudo nela combinava à perfeição com ele, principalmente as coisas mais triviais. Oh deus, eram como pão quente e manteiga, queijo com goiabada, cigarro e cerveja gelada. Oh deus. E só ali, sozinho sob a luz matinal, ele chorou sobre a xícara como jamais chorara em sua vida.
Então passou sua filha mais nova com um dos filhotes de gato no colo, cantando uma música de desenho japonês, daquelas que nem um PhD em sânscrito entenderia.
O gatinho se desenroscou, subiu na cabeça dela e tapou-lhe a visão por um momento, antes de pular para o chão e correr. Ela exclamou o nome do bicho em tom de reprovação, depois se virou para o pai e descreveu a cena com detalhes infantis. "Você viu, pai?", repetia. E ria um riso conhecido. Um riso de gerações.
E ele entendeu que ia sobreviver. E chorou mais um pouquinho, só que dessa vez as lágrimas limparam o desespero de sua face.
(para Camila)
Foi quando voltou para casa após a missa de sétimo dia que entendeu: nunca mais, nunca mais mesmo, ouviria as tolices dela quando chegava em casa. Não ouviria o riso franco de quando ela contava uma besteira que fizera e começava a rir de si mesma antes dos outros, que acabavam rindo de sua própria gargalhada, tão inocente e convidativa.
A missa fora cedo; sentou-se para tomar o café. Lembrou-se dos comentários que ela fazia sobre o noticiário à mesa, muitas vezes mais pertinentes que os dos articulistas arrogantes que fingiam saber tudo. E pensou que tudo nela combinava à perfeição com ele, principalmente as coisas mais triviais. Oh deus, eram como pão quente e manteiga, queijo com goiabada, cigarro e cerveja gelada. Oh deus. E só ali, sozinho sob a luz matinal, ele chorou sobre a xícara como jamais chorara em sua vida.
Então passou sua filha mais nova com um dos filhotes de gato no colo, cantando uma música de desenho japonês, daquelas que nem um PhD em sânscrito entenderia.
O gatinho se desenroscou, subiu na cabeça dela e tapou-lhe a visão por um momento, antes de pular para o chão e correr. Ela exclamou o nome do bicho em tom de reprovação, depois se virou para o pai e descreveu a cena com detalhes infantis. "Você viu, pai?", repetia. E ria um riso conhecido. Um riso de gerações.
E ele entendeu que ia sobreviver. E chorou mais um pouquinho, só que dessa vez as lágrimas limparam o desespero de sua face.
13.11.03
10.11.03
Os Cadafalsos estão em festa este mês. Enquanto o primeiro completou dois anos no último dia 6, o aniversário deste aqui é no dia 30. Para quem não sabe, o Cadafalso II teve origem num erro da coluna da Tia Cora no Globo, que dava este endereço, então inexistente, como sendo o do Cadadafalso I. Ao invés de corrigir, eu aproveitei a deixa e fundei este braço em prosa do blog que iniciara semanas antes... E cá estamos.
Para comemorar, farei uma proposta a vocês: escreverei os próximos três minicontos baseado em temas que me sugerirem nos comments. Se houver mais sugestões, escolherei os três temas que me parecerem mais interessantes. Alguém se habilita?
7.11.03
Oxalá o sr. ministro da Previdência goze sempre de boa saúde e viva até depois dos 90 anos. E, quando chegar lá, não tenha nunca de enfrentar funcionários públicos insensíveis, que o façam deslocar-se de casa para provar que está vivo e não é um criminoso.
A velhice, em nosso país, é tratada como doença. E o pior é que, no ritmo em que todos trabalhamos, com o Mercado regendo nossas vidas -- inexoravelmente, ao que parece --, estamos envelhecendo mais rápido, de estresse, salários baixos e dívidas. E de raiva, profunda raiva silenciosa.
A velhice, em nosso país, é tratada como doença. E o pior é que, no ritmo em que todos trabalhamos, com o Mercado regendo nossas vidas -- inexoravelmente, ao que parece --, estamos envelhecendo mais rápido, de estresse, salários baixos e dívidas. E de raiva, profunda raiva silenciosa.
3.11.03
Ainda sobre o churrasco (vide Cadafalso I): eu e um velho amigo ficamos um bom tempo falando sobre bebidas. Não sou especialista em nada, é claro, mas ele falava sobre um livro que havia lido sobre vinhos e eu refleti, olhando para a lata de cerveja a meu lado: "eu gosto muito de vinho. Mas na verdade acho que ele é uma comida em forma líquida, de tal forma complementa determinadas refeições. Já a cerveja mata de fato sua sede. É ela que que queremos quando vamos beber de fato -- e ficamos bebendo o quanto for possível ;-)."
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