14.12.02

Minicontos do desconforto -- 41

O rosto dela se iluminou quando sua música favorita começou a soar pelas mãos do tecladista. A seu lado, percebendo que ela estava meio tristonha por trás do sorriso, um homem levantou-se e convidou-a para dançar. E dançaram ali no meio do calçadão mesmo, à vista das ondas do mar, que se desmanchavam de ciúme na areia.
No fim, o homem desapareceu tão misteriosamente quanto surgira. E ela também se sentiu estranhamente melhor. Súbito, não lembrava mais por que estava triste.
Ouviu um bater de grandes asas e olhou para cima. Só viu um vulto. Podia ser um gavião perdido, mas ele tinha patas alongadas demais... Algo caiu a seus pés. Uma pétala azul. Tomou-a nas mãos e ela se desmaterializou diante de seus olhos.
Então levou a mão ao coração. Entendeu que pegara de volta um pedacinho -- só um pedacinho -- da tristeza que a afligira. E compreendeu que o homem -- ou o que quer que fosse -- tinha levado todo o resto embora consigo.

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