6.6.04

Muito bom o artigo de Carlos Haag ontem no Globo analisando "A ética protestante e o espírito do capitalismo", do bom e velho Max Weber. O trecho mais legal é este:

"O capitalismo nasceria, portanto, de uma 'teodicéia do sofrimento', em que o sofrer perde o seu registro negativo e se transmuta em ética do racionalismo. (...) Ter riquezas não é um pecado; ao contrário, pode indicar justamente o caráter de 'eleito' por Deus. Desde que, é claro, sem o prazer e com todo o trabalho decorrente dessa posse, adquirida legalmente. Em contrapartida, o Criador oferece ao poder do ascetismo religioso uma 'classe operária'laboriosa.

"(...) A ética protestante foi necessária para converter a ganância natural de riquezas numa frugalidade com propósito e racionalidade. O calvinismo, ao abolir a distinção entre sagrado e profano, tirou o ideal ascético das ordens religiosas para a vida secular. 'O puritano queria trabalhar por vocação; nós somos forçados a isso. Pois quando o ascetismo foi retirado da cela monástica e jogado no cotidiano, ele teve sua parte na construção do cosmos da ordem econômica moderna', escreve Weber. A frugalidade de que falava Adam Smith agora deriva não de um desejo natural por mais riqueza, mas de um desejo de salvação da alma."

É uma idéia interessante misturar a relação com Deus e a salvação pessoal através da ética da responsabilidade, que separa da riqueza a idéia de pecado. Dá inclusive para pensar, guardadas as devidas proporções, é claro, em Max Weber quando escutamos certas rádios evangélicas de hoje chamando para cultos: "Você, que está endividado, com o nome no SPC, que não tem mais a quem recorrer, que está desesperado, venha à assembléia na rua tal..." O apelo a uma vida melhor no céu associada ao sucesso pessoal/profissional na terra, parece-me, tem um pouco a ver com essa velha ética detectada pelo teórico alemão.

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