31.7.03

Excelente artigo de José Paulo Lanyi no Comunique-se sobre a incapacidade de certos jornalistas cheios de opiniões formadas sobre tudo de dizer simplesmente "não sei". Eis um trecho lapidar:

"O reconhecimento da ignorância contempla, de pronto, duas das metas essencialmente jornalísticas: falamos a verdade, ou seja, respondemos com sinceridade e correção à pergunta que nos foi feita; e evitamos o disseminar das pretensas informações que, afinal, não se originaram nos fatos, mas no ego, essa entidade a um só tempo teórica e consistente como a rocha dos nossos instintos."

29.7.03

Vi um documentário no Discovery sobre viagem no tempo. Algumas observações muito interessantes: se algum dia existir viagem no tempo, segundo um dos cientistas entrevistados, ela não seguiria necessariamente o chamado "paradoxo do avô" (suponha: você volta no tempo e mata acidentalmente seu avô antes de seu pai nascer. Com isso, você não poderia existir. Mas, se não poderia existir, quem viajou no tempo? ;-)). Isso porque -- se estiver certa a teoria de que existem universos paralelos -- você poderia voltar para o passado de um universo paralelo e mexer nele sem modificar o universo de onde você veio...
Complicado? Mais ainda é o funcionamento da primeira máquina do tempo que um pesquisador tenta construir. Ela pretende mandar fótons para o passado usando as propriedades da luz, que permitiriam distorcer o espaço-tempo. O cientista à frente do projeto imagina que, quando tal máquina for finalmente ligada, é possível que receba do futuro vários fótons enviados de outras máquinas. Essas partículas surgiriam do nada uma vez que se apertasse o botão do "on". O mais curioso é que, uma vez existindo a primeira máquina do tempo, em tese só poderíamos viajar até o ano em que ela foi inventada -- e não para o passado distante, que permaneceria remoto...

28.7.03

Agradeço à Elis a gentil menção de meus blogs em sua entrevista sobre o assunto à TVE no fim de semana.
E ela ficou tão bonitinha no vídeo...

25.7.03

Vi "Solaris", dirigido por Steven Soderbergh. Não li o livro, mas é de se esperar que ele seja melhor do que o filme, extremamente arrastado. Não se trata de ficção científica: a idéia é (ou poderia ser, se fosse mais bem aproveitada) refletir sobre como lidamos precariamente com temas como a morte, Deus e o desconhecido. Mas falta uma revelação genuína na história, uma epifania qualquer que a amarre mais. Até a música dá sono. Uma pena.

23.7.03

Niver de Jessica hoje. Vamos comemorar na volta, porque ela está viajando com uma amiga. Vida boa, essa de estudante. Tenho muitas saudades dos meus quatro meses de férias por ano ;-)

22.7.03

Fez frio na última semana e isso me lembrou de uma longínqua madrugada de agosto, em Grumari. Uma noite de festa, fogueira e um bocado de álcool. Não consegui dormir depois da farra; peguei o violão, fui para um lado e fiquei a dedilhar as cordas e cantar baixinho enquanto o dia rompia. Logo tive companhia, bela companhia. Que cantou comigo por algum tempo -- e depois foi caminhar à beira d'água. Não me esquecerei da silhueta dela contra o céu incendiado pela aurora, e o mar, que parecia obedecer ao ritmo da música.
Faz alguns dias, troquei e-correspondência com uma amiga muito querida, que não via há muitos anos. É uma emoção ímpar saber notícias de pessoas que o Tempo escondeu de nós, por um motivo ou outro. Se nos reencontrássemos, tenho certeza que não haveria abismos na conversa.

21.7.03

Diálogo (aproximado, escrevo de memória) maravilhoso em "Chegadas e partidas", entre o repórter foca Kevin Spacey e um companheiro veterano do jornal local:

-- A manchete tem de ter dramaticidade. Olhe para lá e me diga qual a manchete.

-- Err.. Nuvens negras tomam o horizonte.

-- Não. "Terrível tempestade ameaça a cidade."

-- Mas e se não chover?

-- "Cidade é poupada de terrível tempestade."

18.7.03

Minicontos do desconforto -- 54

Então o diabo perguntou: Por que vieste? Em tua ficha nada consta.
E ele respondeu: Por isso mesmo. A Imigração do Paraíso desconfiou.

15.7.03

Eu admito: amar é doloroso. Mesmo na alegria. Porque, como cantou o Lobão, não dá para controlar. Ou a gente enlouquece ou esquece. ;-)
Mas desistir, jamais.

14.7.03

E aí? I'm back.

Minicontos do desconforto -- 53

Ele olhou para ela às duas e quinze da manhã e entendeu que não ia conseguir dizer mais nada. Ela também percebeu o momento. Os dois se olharam e se abraçaram.

O amor materializou-se ali, em cima da mesa molhada de cerveja. Aninhou-se nos filetes de fumaça do cigarro esquecido sobre o cinzeiro; à medida que se elevavam, criavam arabescos maravilhosos no ar.

De repente, ele pegou o cigarro e deu uma tragada. E tudo aquilo tomou de chofre seu corpo, e ele quis estar dentro dela, banhando-se em sua carne.

Ficou fora de si, incapaz de ser suave. Disse tudo a ela, desabafou sem lhe dar tempo de respirar.

E se arrependeu, pois ela se retraiu como uma plantinha dormideira fustigada pelos dedos de crianças levadas da breca.

Foi-se o momento. A tragada seguinte nada revelou.

Mas ele precisou de três uísques para retomar seu velho ar desesperançado.

E ela achou um novo assunto.