Democracy is a device that ensures we shall be governed no better than we deserve.
George Bernard Shaw
25.11.05
21.11.05
Minicontos do desconforto -- 81
Mais tarde ele não soube precisar, mas houve um dia em que dormiu criança e acordou adulto.
Antes, a Fé caminhava de braços dados com ele todos os dias -- na escola, no caminho para casa, durante as refeições, nas brincadeiras com os amigos. E ela tornava-o capaz de engendrar maravilhas com a sua mente crédula, despreocupada -- houve muitas primeiras vezes naqueles anos, um mar de olhos arregalados e de sorrisos francos e lágrimas de origem certa.
Então, num belo dia de maio, conheceu a Dúvida. Lânguida e silenciosa, envolta num vestido cor-de-cisma, ela o olhou de cima da mangueira onde ele se recostava com um livro. Ele olhou para cima, formulando uma pergunta e, sem saber, deu com os olhos da dama, oblíquos como os de Capitu.
Devagar, sem pressa, numa imitação digna de Oscar da serpente do Gênese, ela desceu da árvore e soprou sobre as folhas do livro. Ele leu um pouco mais e seu semblante ficou carregado.
Naquele fim de tarde, as afirmações dos amigos ficaram translúcidas e, quando a noite caiu, ele deixou de adivinhar os desenhos das constelações e passou a se perguntar quando as estrelas que via tinham morrido e quanto de falso tinha seu brilho.
Quando se deitou, a Dúvida fez amor com ele. Mas ele duvidou: achou que havia sido apenas uma polução noturna.
E ela riu quando percebeu que ele estava pronto. Riu o mesmo riso irônico que ele ofereceu a sua irmã menor no café da manhã do dia seguinte, quando ela lhe falou da fada dos dentes. E a Fé, que tomava uma xícara diáfana de café ao lado da menina, chorou amargamente.
Mais tarde ele não soube precisar, mas houve um dia em que dormiu criança e acordou adulto.
Antes, a Fé caminhava de braços dados com ele todos os dias -- na escola, no caminho para casa, durante as refeições, nas brincadeiras com os amigos. E ela tornava-o capaz de engendrar maravilhas com a sua mente crédula, despreocupada -- houve muitas primeiras vezes naqueles anos, um mar de olhos arregalados e de sorrisos francos e lágrimas de origem certa.
Então, num belo dia de maio, conheceu a Dúvida. Lânguida e silenciosa, envolta num vestido cor-de-cisma, ela o olhou de cima da mangueira onde ele se recostava com um livro. Ele olhou para cima, formulando uma pergunta e, sem saber, deu com os olhos da dama, oblíquos como os de Capitu.
Devagar, sem pressa, numa imitação digna de Oscar da serpente do Gênese, ela desceu da árvore e soprou sobre as folhas do livro. Ele leu um pouco mais e seu semblante ficou carregado.
Naquele fim de tarde, as afirmações dos amigos ficaram translúcidas e, quando a noite caiu, ele deixou de adivinhar os desenhos das constelações e passou a se perguntar quando as estrelas que via tinham morrido e quanto de falso tinha seu brilho.
Quando se deitou, a Dúvida fez amor com ele. Mas ele duvidou: achou que havia sido apenas uma polução noturna.
E ela riu quando percebeu que ele estava pronto. Riu o mesmo riso irônico que ele ofereceu a sua irmã menor no café da manhã do dia seguinte, quando ela lhe falou da fada dos dentes. E a Fé, que tomava uma xícara diáfana de café ao lado da menina, chorou amargamente.
12.11.05
7.11.05
Já estão saindo do prelo os livros "Fotos no PC", de Nelson Vasconcelos, e "Som no PC", de Leonardo Pimentel, os primeiros de uma série de entretenimento techie da Campus. Ambas as obras pretendem mostrar, num clima prático e objetivo, como trabalhar, respectivamente, com arquivos de imagem e de música no computador, otimizando a máquina para essas tarefas. Cobras em seus temas, Vasconcelos e Pimentel são as pessoas certas para levar o leitor por essas veredas. O lançamento oficial dos dois volumes será em breve; assim que tiver a data, aviso.
4.11.05
Um dos sonhos recorrentes que tenho é o de estar voando. Pois bem, nas férias dei uma volta pelo teleférico de Friburgo, subindo os 1.322 metros do Morro da Cruz em duas etapas. Andar de teleférico é como subir uma montanha-russa, só que sem o pavor daquela descida vertiginosa depois. Tudo bem, você desce mais tarde, mas é como estar planando. E numa cadeira, em vez de numa cabine, é sempre melhor, pois a sensação de estar flutuando acima de tudo é maravilhosa.
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