29.2.04

Minicontos do desconforto -- 66

Quando o dr. Victor Frankenstein chegou à terra além da morte, os cientistas incompreendidos de todos os tempos vieram lhe prestar solidariedade. O célebre personagem recebeu até os cumprimentos de sua criadora, Mary Shelley, que se penitenciava por haver tornado sua vida tão infeliz. (Não tanto quanto ele conseguira fazer com sua heterogênea criação, o monstro cujo único traço realmente aterrorizante é a solidão.)

Frankenstein sentou-se num canto de nuvem e chorou por boa parte da eternidade, até que um velho monge budista passou por ele e decidiu conceder-lhe mais uma vida, para que ele entendesse que não pecara tanto assim. O monge fez um gesto e zás! não se ouviu mais o ranger de dentes do cientista.

Frankenstein reeencarnou como cirurgião plástico no Rio de Janeiro, a poucos meses do carnaval carioca.

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