30.7.04

"Fahrenheit 9/11" é um senhor panfleto em imagens. Um tapa na cara do governo Bush. Michael Moore pelo menos admite que o propósito do filme é fazer Bush perder a eleição.

O filme faz a gente dar boas gargalhadas em alguns momentos. Mas termina num clima pesado, focalizando a mãe que perdeu um filho na guerra.

Eu gostei mais de "Tiros em Columbine".

29.7.04



Diante do pagode em Asakusa, no Japão. Após o portal, o visitante atravessa um extenso mercado, com lojas de todos os tipos, até chegar ao templo.  O interessante é que isso fica no meio de um centro movimentadíssimo de Tóquio.

26.7.04

Moçada, estou de volta.

Perdoem o longo tempo sumido, é que estive envolvido numa longa viagem -- no sentido literal e no metafísico -- nas duas últimas semanas. Fui a trabalho ao Extremo Oriente -- Coréia e Japão -- onde o sol nasce e derrama sua sabedoria milenar sobre este planeta. Fui a templos budistas, vi monges orarem pelos mortos e o povo pedindo graças diversas ao Iluminado (de saúde a fertilidade); vi as belezas do palácio imperial de Gyeonbokgung, em Seul, um labirinto de construções tecido pelas necessidades políticas de seu tempo; e observei fascinado Tóquio à noite, com um quê da Los Angeles vista em "Blade Runner", os viadutos sem fim, as rodas gigantes criando arabescos de caleidoscópios. Vi também o futuro frenético da tecnologia, que estou começando a descrever em matérias.  Celulares com televisão ao vivo, centros de lazer equipados com tudo que é aparelho, serviços de mapeamento sofisticadíssimos.

O Oriente dá realmente um nó na cabeça ocidental, por mais rápida que seja a visita. Contarei mais nos próximos posts.

3.7.04

Minicontos do desconforto -- 72

Começou o solo de guitarra que já fizera vezes sem conta. Só que dessa vez os companheiros de banda perderam a deixa para que voltassem a cantar e ele continuou solando. As escalas de repente ficaram mais nítidas, seus dedos pareciam dotados de uma elasticidade que nos últimos tempos vinha se tornando mais difícil.

Por fim, uma nota mais aguda o levou a um outro lugar, onde o solo alcançou notas jamais ouvidas. Percebeu que estava naquela faixa sonora que só os animais racionais (como os cães) ouvem, mas ainda assim escutava tudo enquanto suava, sacudia a guitarra freneticamente e levava as concepções de jazz, rock e improviso a um patamar quase indescritível.

Foi então que olhou para o lado e viu o Divino Negão em pessoa.

-- Jimi Hendrix?! -- balbuciou (sem parar de solar, o que era absolutamente insano).

-- Irmão, que pena. Todo mundo queria você na Dead Band, mas isso foi um acidente. Excuse me while I kiss the sky...

E Hendrix beijou sua guitarra, enquanto ele sentia uma microfonia terrível nas orelhas e via ao longe as faces sorridentes de Janis Joplin, Jim Morrison, Randy Rhoads, Keith Moon e John Entwistle.

Acordou com um paramédico em cima de seu peito, em pleno palco. A platéia urrava. O baixista sorria para ele com uma cara de babaca. "Cara, você fez o melhor solo de sua vida! E nós estávamos gravando! Não foi à toa que desmaiou..."

Terminaram o show e foram correndo para a sala de gravação.

Mas, em lugar do solo miraculoso, só ouviram dez minutos de estática.

Ele chorou muito. E nunca mais conseguiu solar daquele jeito. Mas os fãs não o deixaram. E o rock rolou por décadas.

Quando chegou o fim da turnê pela vida, enquanto pescava com um neto, subiu curioso.

Hendrix estava lá. Com um CD dourado nas mãos.

-- Irmão, bem na hora. Lennon e Harrison querem ver se você topa uma seqüência de acordes nova para combinar com o solo.

O primeiro ensaio post-mortem foi um marco na música pop do céu.